VAI ANDANDO QUE ESTOU CHEGANDO

Tive momentos de indecisão sobre a forma de abordar esta crónica, se pelo lado do Sol ou da Lua, acabando por me fixar na Terra. Círculo debaixo de nuvens carrancudas que despejam torrencialmente água e pó, sobre as terras de barro, as melhores do País.

A paisagem do Alentejo tem vindo ao longo dos últimos anos a mudar substancialmente. As terras de pão têm vindo a ser ocupadas por longos e extensos olivais, acompanhados por fileiras intermináveis de vinha. Este panorama marcado por intenso verde dado pelas novas culturas edificadas nas melhores terras que o País dispõe, pelos vistos de forma desadequada, é já vista de forma crítica por uma opinião com alguma extensão. Ao ponto dos mais pessimistas avançarem com a ideia que à falta de pão comerão o azeite à colher. Mais uma vez não estamos no tempo certo que o País tanto necessita. Mas, seja como for, foram momentos de distensão e de recuperação de forças anímicas. Regressei ao Algarve mais aliviado.

A semana decorreu com os acontecimentos em torno do Sporting a marcaram durante dias seguidos, de manhã à noite, os serviços informativos de rádio e sobretudo de televisão, como se mais nada de importante estivesse a acontecer no País e no mundo. De facto os desacatos ocorridos com toda a violência que os acompanhou são de facto preocupantes, não só para adeptos desse grande club, mas para todo o País pela marca que deixam, que de todo não corresponde à nossa realidade. São, isso sim, produto de uma postura directiva marcada pelo populismo, pela demagogia, pelo incitamento ao ódio, que acaba por marcar toda esta época desportiva. Há que tirar lições de tudo o que permitiu que um bando de idiotas operasse com total à-vontade num local reservadíssimo da equipa. É uma desonra para a história de um dos principais clubes do País e tal facto não pode ser visto como questão banal. Que venha a lume o rosto do, ou dos, principais responsáveis.

Com a aproximação dos actos eleitorais a efectuar já no próximo ano, a tendência é para a dramatização e radicalização do discurso político. De um lado e do outro haverá sempre haverá justificação para críticas e insatisfações. Um País na sua base não se muda em dois anos, apesar do percurso já feito para minimizar injustiças sociais com quebras acentuadas no plano do desemprego, a níveis que desde há muito não eram atingidos. Mas da outra parte continua a haver uma multidão de gente a viver de pouco e um país não se desenvolve com base em salários baixos. Mais uma vez não estamos no momento certo apesar dos benefícios que foram, sem dúvida, obtidos sobretudo para as camadas mais desfavorecidas.

Estamos a tempo de repensar projectos, de traçar novos rumos, de repensar acordos à esquerda, porque o pior que poderia ocorrer seria um regresso da direita ao poder. E desde já o anúncio está feito: revisão da Constituição. Para quê? Para consagrar uma nova lei eleitoral com o objectivo de minorar a representatividade política, para acentuar a privatização nas áreas sociais, de entre as várias, no plano da saúde, para consagrar como solução os negócios em torno das parcerias público privadas, para proteger as grandes empresas do pagamento de impostos? Logo se verá!

Carlos Figueira

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