VAI ANDANDO QUE ESTOU CHEGANDO

O tempo está incerto como a vida. Anuncia-se um dia de verão mas no dia seguinte acorda-se com uma temperatura e sobretudo um ambiente cerrado que não convida a habitar as areia e a disfrutar de umas águas temperadas que só o Algarve oferece nesta passagem para o Mediterrâneo.

Mas esta insatisfação também convida a disfrutar de corpos cansados por uma vida de constante insatisfação, num tempo em que resta pouco para se disfrutar, da vida e dos corpos, o que também pode permitir, criar condições, a ser assumido, um acto de felicidade. Há quanto tempo não tinham, estes corpos, desta oportunidade. Questionando-se, cada um, do porquê e do por quanto. Nos momentos em que se disfruta o que no dia a dia os impede, pela rigidez de horários ou tempos de esforçado trabalho ocupados em transportes poderem, finalmente, ocupar o tempo vazio, por circunstâncias que os transcendem.

O que no todo não elimina é a sensação de felicidade e prazer que o tempo que não tinham até aí, lhes permitir um dança de corpos, mesmo que, momentaneamente indiferente, a roturas sucessivamente anunciadas, possam de vez, e por último, dispor sem remorsos, dos corpos de cada um, sem raivas nem desprazeres, tal como da primeira vez os disfrutaram. São então raivas e salivas que se misturam num prazer de beijos e desejos, mesmo que cada um tenha como certeza que se trata da última vez. Os momentos de férias também servem para interromper a solidão e solidificar decisões.

Como a incerteza do tempo também a vida política decorre num ambiente de anúncio de férias no qual, cada uma das forças políticas, anunciam projectos que alguns deles não se conformam com normalização das receitas e despesas a apresentar no OE. É o caso, entre outros, da diminuição dos impostos nos combustíveis, processo no qual, devo confessar, me causou alguma tristeza, em ver o PCP ao lado ao CDS/PP , fossem quais fossem as razões para tal.

Percebo que em tempo de férias se tenham de tomar posições antecipadas quanto ao futuro OE porque tal facto alimenta as notícias na comunicação social e a esquerda não pode ser, neste contexto, desvalorizada. Mas na situação em que o País não deixou de estar, no plano económico e na dependência financeira da EU, apesar de todas as melhorias que se verificam, no plano do emprego, da seguranças social, sem esquecer essa enorme batalha que é a sustentação do SNS, é necessário medir até onde, no plano financeiro e em consonância com a influência que dispomos politicamente no interior da União, se pode ir e até onde, porque a alternativa é um governo de direita e o regresso ao passado.

No plano do posionamento político das forças diversas em presença creio que é claro que a direita se divide entre o populismo do CDS/PP um PSD desconjuntado entre o líder do Partido e a direcção e grupo parlamentar. O que se percebe num regime parlamentar a ausência de liderança cada vez mais se fará sentir.

Todavia é necessário ter em conta que existe uma onda de crescimento por populismo, por exacerbamento de nacionalismos, que acolhe governos e fundamenta posições mais chefonas e neofascistas, casos da Hungria da Polónia e de algumas federações da Alemanha que o centro e a esquerda têm de ter presente na sua estratégia política. É contra todas estas forças em crescendo que nos temos politicamente que armar e lutar.

Carlos Figueira

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