A demissão do Chefe do Estado Maior do Exército e as constantes declarações do Presidente da República apelando ao apuramento da verdade no processo que envolve o roubo de armas em Tancos trouxe de novo esta questão para a atualidade política.
De facto um ano após o roubo é difícil perceber a lentidão do apuramento da verdade e do envolvimento de quem esteve associado a este processo. Porque realmente a versão até agora contada não só não corresponde à realidade como tentou sempre encobrir os participantes no esquema montado já que custa a engolir que um fulano sozinho possa ter entrado no perímetro de Tancos, dirigir-se ao paiol roubar as armas e escondê-las depois no quintal de um familiar do próprio, para após um ano ser montada uma operação, cujos contornos e cumplicidades estão por apurar, para a sua entrega pacífica a quem as deveria ter guardado. Convenhamos que, no mínimo, nos estão a chamar de estúpidos.
A apresentação do Orçamento pelo primeiro-ministro e demais ministros, entre os quais, pelas responsabilidades que detém associadas ao cargo que ocupa como Ministro das Finanças, teve como de resto era esperado uma rejeição de toda a direita. Por parte do CDS reivindicando medidas contrárias quando esteve no Governo anterior de coligação com o PSD e deste com declarações numa linguagem imprópria de quem se propõe ser futuro primeiro-ministro ao declarar este Orçamento como uma orgia quando o mesmo apresenta um défice de 0,2%, contendo inúmeras e necessárias medidas para tornar a vida da maioria dos portugueses menos difícil. Mas curioso e contraditório ainda é a posição de Rui Rio em apoio do conjunto das medidas de carácter social que o mesmo contém só que no entendimento deste senhor as desejava ver aplicadas a prestações.
A direita no seu conjunto está com dificuldades reais para responder ao momento que o País atravessa. Dirigem-se para um universo que não corresponde de todo às críticas que exprimem até porque não está muito longe no tempo o que significou a sua governação de cortes nos apoios sociais, na redução dos valores das pensões, nos níveis de desemprego a que então chegámos, sempre numa perspetiva que não havia alternativa. Ora provou-se que a alternativa existia, bastava para tal mudar o rumo das políticas. Nem tudo está bem seguramente, mas o que importa sublinhar é o rumo que se entende caminhar.
Breves palavras para a situação do Brasil um dos maiores países da América Latina. As próximas eleições numa segunda volta a realizar no próximo domingo apresentam pelos resultados até agora conhecidos, nas múltiplas sondagens publicadas, um País dividido ao meio, com um candidato pró-fascista, por aquilo que exprime e propõe, a obter a vitória. A confirmarem-se nas urnas tal perspetiva representaria um recuo histórico com repercussões em toda a América Latina e não só neste continente mas com repercussões na própria Europa onde o afloramento de teses e políticas fascistas começam a ter expressão em vários Países, Hungria, Polónia e mais recentemente na própria Suécia.
Significa tal conjuntura que as forças democráticas sejam onde forem as suas origens e Países têm de encontrar formas, independente de todas as diferenças, de construir um muro em defesa da democracia. É chegado o tempo antes que seja tarde.
Carlos Figueira