VAI ANDANDO QUE ESTOU CHEGANDO

A declaração do PCP, através de Jerónimo de Sousa, de apoio ao voto favorável, na generalidade, à proposta de Orçamento de Estado, por parte do governo socialista, propósito que já tinha no mesmo sentido sido anunciada por Catarina Martins por parte do BE, assegura desde logo um elemento fundamental o, a saber, que com tal posição, fica aberta a possibilidade de serem introduzidas medidas em sede de discussão na especialidade, já que sem tal aprovação era vedada tal possibilidade. Esperamos então que por parte do PS haja a abertura necessária para acolher, em sede de discussão na especialidade, algumas das propostas quer do PCP, Bloco e Verdes, forças políticas que têm constituído o suporte a este governo.

Assim sendo é de enorme significado político que contra todas as perspetivas e anúncios catastrofistas da direita, toda no seu conjunto, que pela primeira vez na história do pós 25 de Abril, se possa cumprir por inteiro uma legislatura de um governo do PS, suportado por forças de esquerda.

A direita no seu conjunto responde à proposta de Orçamento num vazio de ideias que de facto oscila, entre a demagogia de propor agora medidas impossíveis de suportar face aos recursos que o País dispõe, contrárias ao que executaram em governos de maioria de direita, bem recentes na vida política do País, com o PSD, como já aqui o descrevi, numa das últimas crónicas, incapaz de se manifestar contra as medidas de reforço de benefícios sociais para os mais desprotegidos, propor que as mesmas fossem aplicadas a prestações.

Mas o quadro político que vivemos já muito marcado pelo ano eleitoral que se avizinha, na ausência de propostas e políticas credíveis por parte da direita no seu conjunto, vai haver a tentação para culpabilizar o governo e sobretudo o primeiro-ministro por acontecimentos nos quais estiveram ausentes no plano político e crítico, cujo momento maior e mais recente, é o caso de Tancos, o qual durante mais de um ano nada disseram, na circunstância, com o CDS em total despropósito, exigir a demissão do governo. Neste contexto que se vai reproduzir ao longo do próximo ano, também é necessário que a esquerda no seu conjunto, contribua com a sua opinião independente, a separar águas.

Confesso que não vou ter paciência e tempo para me ocupar a ler o segundo volume de memórias de Cavaco, primeiro-ministro e Presidente da República. Trata-se, na minha opinião, de um político que sem grande sentido de Estado, nem competência e correspondência para o exercer, ter beneficiado de uma conjuntura política e económica favorável, marcada pela enxurrada de apoios que o País recebeu, provindos da EU, que teve por perto dos seus vários governos, como resposta estratégica no poder que exercia, entregar recursos do País nas indústrias, nas pescas e na agricultura, não só aos grupos económicos que dominavam como antes o País, como particularmente aos nossos vizinhos espanhóis, sem nenhuma estratégia fundamentada sobre o desenvolvimento de um País que pelas funções que exercia deveria ter. Vir agora, segundo o que tenho acompanhado pela imprensa, afirmar que esteve contra a Troika e as medidas que foram aplicadas, sem que em tal momento, como Presidente da República, se tivesse ouvido qualquer crítica sobre as mesmas é de um grande descaro, igual ao nível que demonstra quando resolve divulgar o teor das conversas que teve ao longo do seu mandato com várias figuras de governo e de Estado. É este o nível.

Ainda o Brasil. A vitória de Bolsonaro corresponde ao que era esperado. Todavia atrevo-me a deixar alguns comentários. Claro que a tal se devem erros colossais cometidos ao longo de anos por parte do PT no seu exercício de poder, o que significa a necessidade de toda a esquerda refletir sobre os efeitos deste estrondoso fracasso. Falo em fracasso mas não em derrota, porque em situação muito adversa, a candidatura do PT recebe 45 milhões de votos, ou seja, uma derrota que não corresponde a nenhuma humilhação. O discurso moderado de Bolsonaro após a sua vitória, talvez já reflita essa realidade, a par de uma intervenção do candidato do PT de apelo à coragem e à resistência contra o medo. Está aberto um novo ciclo.

Carlos Figueira

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