Vai Andando Que Estou Chegando

À falta de melhor, o debate político da Nação tem-se circunscrito, por parte da direita, em torno das demissões e nomeações dos primos, sobrinhos, mulheres e ex-mulheres de pessoal membros ou próximos do PS numa deriva à qual, após meses de silêncio e recato, se juntou em última hora o Professor Cavaco, como se nada tivesse a ver com tal assunto enquanto exerceu funções de Primeiro Ministro, quando se conhecem a “gerigonça“ de cadeiras que sob sua “austera“ autoridade se verificaram em gente que, hoje instalados em cadeiras de comentadores, se pronunciam criticamente sobre este processo como se eles próprios não tivessem beneficiado dele enquanto tal. Marcelo afirma que tudo isto pode conduzir ao populismo, o mesmo será dizer ao desprestígio da vida política e do papel dos partidos nesse processo. É verdade que tal pode acontecer mas ele, como PR, deve dar o exemplo e criticar e procurar corrigir desmandos com razão, quando existem, em tempo próprio. Porque em verdade nem tudo pode ser metido no mesmo saco, como não se podem confundir a dimensão das decisões tomadas. Por outro lado, mesmo que tenha de haver alguma contenção, numa ou noutra nomeação, que aconselhe bom senso político, não se pode cair no exagero de impedir quem, com comprovadas competências para exercer funções directa ou indirectamente associadas à governação, as possa exercer. A AR está directamente em debate parlamentar ou em sessões de comissões de inquérito, para discutir e aferir o mérito das funções que estão a ser exercidas por este ou aquele outro membro do governo. Mas, na verdade, o tempo de eleições é o pior momento para que de todo este desacato (que ajuda a vender imprensa em notáveis dificuldades económicas) crie condições para uma abordagem séria deste problema, liberto de hipocrisia.

À margem de toda esta questão surge a situação da expulsão de um membro do PCP, da concelhia de Cascais, salvo erro, acusado ao que é tornado público, por discordar da posição do partido na aprovação do OE proposto pelo governo do PS. Posição que surge com contornos contraditórios, porque sendo defensor do acordo que deu origem à chamada “geringonça“ aparece agora num fervor revolucionário a sustentar o erro da aprovação de um OE porque no seu entender só favorece o grande capital. Aqui chegados pergunto: e então qual era a solução? Entregar a aprovação do OE para as mãos de um acordo do PS com o PSD? Essa seria assim a solução dita revolucionária, para melhor defesa dos interesses dos trabalhadores?

Toda esta situação cuja expressão interna de todo desconheço, nem tampouco estou interessado, faz-me todavia recordar, a discussão em torno do “novo impulso” cujos contornos políticos e ideológicos se assemelham, em boa verdade, quanto a medidas que visavam igualmente uma maior democratização do funcionamento das estruturas do Partido. Listas alternativas para todos os órgãos, maior descentralização nas decisões a tomar, de entre outras. Num combate político que como é conhecido levou à expulsão de alguns membros da direcção de então (de entre eles, eu e o Edgar Correia) e à punição com afastamento, de Carlos Brito e ao afastamento por opção própria. Esta situação agora anunciada, num mundo em que cada vez mais a presença do facebook permite a exposição e difusão, de opiniões diversas, reais ou fabricadas, representa um universo para o qual a direcção do PCP, a todos os níveis, tem de estar preparada para seriamente responder para convencer.

Por último, a Regionalização ganha, tudo aponta, para um novo folgo, cuja expressão maior é, por enquanto, identificada pela unanimidade a que chegaram os autarcas do Norte do País sobre sua necessidade. Por sua vez, João Cravinho abre um ciclo de debates sobre o tema agregando experiências de outros países da UE. Neste novo clima que me parece estar a crescer, pode tornar-se incontornável que a Regionalização possa vir a ser uma questão central de debate e programa para todos os partidos concorrentes às próximas eleições legislativas de Outubro próximo. E todos nós sabemos como o tempo passa depressa.

Carlos Figueira

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