Vai Andando Que Estou Chegando

Por razões editoriais, o que acontece com frequência, estou a escrever no dia em que entra em vigor, a nova etapa de combate ao coronavírus, tendo passado o País do Estado de Emergência para o Estado de Calamidade. O que significou o alívio de uma série de medidas que conduziram à abertura de actividades comerciais de pequena dimensão, o mesmo se aplicando à indústria e a serviços, com regras, visando a protecção de quem exerce a actividade e de quem dela beneficia. Mas, tão importante como todo esse conjunto, também a possibilidade de podermos finalmente sair, embora com as devidas cautelas, da clausura imposta durante mais de 40 dias, libertando-nos para pequenos passeios que nos permitem finalmente o contacto com a natureza e a conversa com os nossos amigos e familiares, se tal for possível. Medidas que contemplam, finalmente, e bem, a inclusão dos mais idosos desde que estejam em condições físicas e delas possam beneficiar.

Trata-se de uma pequena abertura só possível pela conjugação de dois importantes factores, a compreensão do nosso povo para a natureza dos sacrifícios que nos tínhamos de sujeitar para combater a pandemia que se abateu por todo o mundo e a eficiência dos técnicos e demais trabalhadores que compõem o SNS, e de um governo, que é bom dizê-lo, se mostrou estar à altura das circunstâncias.

O novo ciclo que vai prolongar-se durante a próxima quinzena, abriu-se com a polémica em torno das comemorações do 1.º de Maio, com a igreja a colar-se aos condicionamentos e as celebrações do 13 de Maio em Fátima.

Vale a pena perder algumas linhas com tal assunto. Em primeiro lugar sobre o 1.º de Maio para reafirmar daqui a minha solidariedade sobre tal celebração, independentemente da forma como a CGTP decidiu realizá-la. A direita, toda ela, não poupou calúnias sobre a natureza e legalidade das mesmas, mentindo sobre a história dos autocarros, o montante dos participantes e, nas múltiplas calúnias e deformações, chegou ao ponto de as comparar com a injustiça face às comemorações impedidas da celebração do Dia da Mãe. Onde chegámos!

Por sua vez, altos cargos da igreja, tempos antes, já se tinham pronunciado que dadas as condições em que o país se encontrava em matéria de saúde pública, prescindiam das comemorações, vindo depois, numa nova onda, levantar o incomparável, com a celebração do 1.º de Maio, num argumentário que a Ministra da Saúde desmistificou numa entrevista a uma das televisões, tornando claro que o que estava em causa era, por razões sanitárias, a peregrinação, porque as celebrações em recinto fechado obedecendo às normas de todos conhecidas, se poderiam efectuar. Sabe-se hoje que por negociações com o PM e os Bispos de Leiria – Fátima, tais celebrações, em recinto fechado, com normas que ultrapassam, um pouco, o que está fixado se vão realizar. Para bom entendedor meia palavra basta.

Entramos assim numa quinzena marcada pela intriga, pela mentira, na qual, se juntaram o ódio mas também a cobardia, os medos de origem diversa, e a indiferença daqueles que sempre viram o processo, sentados numa qualquer esplanada, entre algumas imperiais e um prato de tremoços.

Por último, chamo a vossa atenção para a excelente reportagem de João Prudêncio, inserida no último número do JA sobre trabalhadores agrícolas emigrados e explorados no Alentejo e no Algarve, em campanhas de frutos vermelhos, na qual ele descreve, recrutados sem qualquer tipo de segurança, a maioria de países asiáticos, mas também do leste europeu, vivendo em condições miseráveis, num ambiente de terceiro mundo, aqui às nossas portas. Pergunto onde está a fiscalização, para que servem as demais autoridades, os deputados eleitos por todos os Partidos pela região, o que fazem, será que se deram ao trabalho de conheceram esta realidade e de actuarem perante o que viram, ou só porque estes cidadãos não votam, não interessam as condições em que vivem e são explorados?

Carlos Figueira

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