Vai Andando Que Estou Chegando

Por imprudência minha fiquei confinado às paredes da minha casa e às ruas do burgo onde assentei arraiais já vai para mais de uma dezena de anos, porque fiquei impedido de conduzir o que quer que seja desde que tenha rodas: automóvel, bicicleta, trotineta e coisas afins, por um período nada amável de três meses e meio. Dei por mim a certa altura a pensar que resposta dar a este sentido de prisão que me aprisionava o espírito e sobretudo me obrigava a calcorrear quilómetros para realizar o aprovisionamento da casa ou a soluções tão simples como a de pagar as contas do condomínio.

A rede de transportes públicos, rodoviária ou ferroviária, que serve a cidade de VRSA é um verdadeiro martírio para quem tenha ousado planear um passeio que seja à capital do Algarve, ou mesmo a qualquer lugar de vizinhança. Trata-se de um verdadeiro escândalo de que só te dás verdadeiramente conta quando te encontras na situação a que fui condenado.

Para não cair em situação de desespero, reacção que tudo indicava, a curto prazo, poderia ocorrer, resolvi planear uma viagem que acabei com gosto executar em três Países próximos na Europa: França, Holanda e Alemanha, acabando por terminar, por circunstâncias que à partida não estavam previstas, em pleno Mediterrâneo, primeiro em Palma, capital de um arquipélago, cuja diversidade e sofisticação proporciona acolhimento a gente das mais variadas origens e gostos, visíveis, em muitos momentos, na exibição dos sinais da fortuna que possuem.

Voltando à Europa rapidamente me dei conta que o orçamento que tinha disponibilizado para a viagem não me permitia veleidades quanto a frequentar restaurantes, mesmo os que tinham aparência de poderem ser mais acessíveis. Tive de me adaptar à circunstância de mudar hábitos alimentares, comendo o que por cá não me passaria pela cabeça e em vez de duas refeições ir comendo ao longo do dia, muitas vezes sentado num banco de jardim, o que me permitiu, numa das vezes, um diálogo interessante com um emigrante espanhol, vitima da crise de 2008.

Interessante diálogo, cujo centro se situou em torno da pandemia e dos seus efeitos no quotidiano da vida das pessoas. Dizia ele que mais do que a perda do emprego, facto que poderia ocorrer, o que preocupava a gente era o medo de morrer. Sentimento por sua vez que associava noutra gente ao cansaço que estava a provocar o uso excessivo das máscaras, os cortes ao convívio, o desejo de voltar a uma vida normal, num horizonte que acabavam por não acreditar que lhes estivesse tão próximo, o que estava a conduzir ao isolamento das pessoas. Este conjunto de questões fui encontra-las mais tarde, quando em diálogos mais prolongados na ilha de Menorca, onde acabei por prolongar a minha estadia em pleno Mediterrâneo.

De resto interessei-me bastante em observar a organização urbana das cidades que visitei. O uso da bicicleta eléctrica ou tradicional é hoje um meio de transporte utilizado massivamente, devidamente assinalado e protegido por infra-estruturas criadas para tornar seguras a sua utilização, os parques verdes invadem, proliferam, os vários locais de cada cidade tornando mais agradável e saudável a sua vivência.

Acompanhei de longe o que por cá se passava. Não descobri notícias de Portugal em jornais ou TV’s a não ser uma vez no El Pais referindo os incêndios. Tenho pouco jeito para lidar com a Net e procurar o seu acesso, assim mesmo dei-me conta que tudo ou quase tudo andaria em torno da Festa do Avante e das primeiras discussões do próximo OE, onde estranhamente, para a minha compreensão, o PCP não se fez representar, adiando a sua participação em tais reuniões, para depois da Festa do Avante. Somos de facto muito originais.

Carlos Figueira
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