Vai Andando Que Estou Chegando

Estou seguro que partilhei com milhões de cidadãos das mais diversas origens sociais, da maioria dos países do Mundo, a vitória do candidato democrata Joe Biden e com tal resultado a confirmação como vice-presidente de Kamala Harris, mulher negra, com ascendência indiana, de quem se falará no futuro.

A partilha antes de declarada a vitória de Biden sobre Trump envolveu momentos de angústia a cada momento que eram conhecidos os resultados de cada Estado e da influência dos mesmos na composição de um colégio eleitoral, produto de um sistema demasiadamente complexo e difícil de decifrar para o cidadão comum na Europa. Mas a incredibilidade estendia-se à perplexidade perante a montanha de votos, a cada momento arrecadados por Trump porque imaginávamos que a sua derrota se verificaria por montantes mais distantes daqueles que a realidade nos impunha, dada a imagem carroceira, aldrabona, inculta, aventureira, dava afinal para verificar que o populismo erguido como uma arma ideológica para iludir e manipular consciências, apoiado pela panóplia das redes sociais, e boa parte da imprensa e sobretudo televisões, pode ser determinante para construir tais personagens ao ponto de ter sido possível gerir, governar, até ao último instante, o maior País do Mundo, mesmo desvirtuando a sua Constituição.

A sua derrota terá consequências benéficas na Europa e no resto do Mundo, constituindo um recuo para os avanços da extrema direita (não só xenófoba como António Costa a identificou, referindo-se ao Chega) porque nos seus objectivos estão incluídos projectos mais vastos para além do racismo, alguns deles visando direitos e liberdades que a nossa Constituição consagra.

Escrevo esta crónica no dia em que entram em vigor as normas contidas no decreto do PR e aprovadas por maioria na AR. A situação que o País vive é de uma enorme gravidade face ao número crescente de infectados que diariamente a diversa imprensa e sobretudo as televisões nos dão nota diariamente. No fundamental sou um dos que manifesta o apoio a tais medidas, mais que não seja porque alguma, esta ou outra, tinha de ser tomada e assim sendo quem critica tem de sair da casca e propor outra ou outras soluções perante a gravidade da situação que enfrentamos, quer sejam dirigentes políticos como a imensidade de comentadores de TV e jornais que de súbito se tomam como senhores que tudo sabem sobre tal assunto. A cada quinzena haverá um balanço sobre o caminho percorrido e os resultados obtidos, boa oportunidade para surgirem novas ideias e corrigir as que não resultaram como previsto.

No meio de tanta animosidade não é necessário estar demasiado atento à realidade que consome o tempo das nossas vidas, para nos darmos conta que paira sobre o nosso sistema de saúde pública um bando de corvos decidido a abocanhar boa parte dos dinheiros públicos, destinado a tratar da saúde dos cidadãos, para quem o covid não interessa como negócio. Só espero que o Governo cumpra a sua obrigação de defender o SNS o que não impede a contratualização com sistemas privados ou cooperativos, a preços justos, incluindo o acolhimento e tratamento de doentes infectados pelo vírus que deu origem à pandemia.

Em resultado das recentes eleições nos Açores foi formada uma coligação de direita encabeçada pelo PSD a segunda força mais votada, dado que o PS embora perdendo a maioria absoluta, continuou como o Partido obtendo a maioria dos votos depositados em urna. As questões que se colocam em nada têm que ver com a legitimidade democrática do PSD ter procurado juntar a direita para obter o número de deputados suficiente formar Governo. A questão de principio que se coloca é a de saber o porquê do Ministro da República ter dado desde logo o aval a tal solução sem antes como deveria ter consultado a opinião do Partido mais votado, como consultar a Assembleia Regional com soluções por tal Partido apresentadas. Da negociação do PSD com diversas forças de direita, entra pela primeira vez o Chega, através de acordo secreto, estranho desde logo, decisão que vai ter profundas repercussões no Continente, traduzindo uma realidade de sempre. Quando se justifica estando em causa o exercício do poder, o PSD está de braços abertos para acolher o Chega ou qualquer outra formação de extrema-direita.

Carlos Figueira

[email protected]
09.11.2020

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