Vai Andando Que Estou Chegando

A situação particular que ocorre na Catalunha a contas para além de uma crise política em torno da formação do futuro governo, com uma onda diversa de manifestações nas quais ocorreram actos de extrema violência, com expressões maior nas comunidades de Madrid e Valência, embora em qualquer delas cingindo-se em particular em torno da defesa da liberdade de expressão que tem como símbolo a figura do Rapper catalão Pablo Hasel, cidadão oriundo de uma família de classe média alta, acusado e em prisão por diversas crimes de incitamento à violência e ao ódio em desrespeito pela Constituição, personagem até há bem pouco tida como figura menor no universo social e cultural do País. As suas canções e afirmações públicas de apoio à extinta ETA e à Al-Qaeda de ameaças de morte a políticos, de agressões a jornalistas, injúrias ao Rei, assaltos a instituições bancárias, de entre múltiplas outras, e pelas quais tem de enfrentar a justiça de um Estado democrático, expresso na Constituição que o rege e na qual o direito à liberdade de expressão está claramente definido, surgem neste momento como acções de solidariedade totalmente fora do contexto, venham elas de quem vierem.

As manifestações que tiveram eco devido em toda a comunicação social, extravasando pela sua importância as fronteiras do País e em particular o universo catalão, exigem uma reflexão séria sobre quem nelas participa porque na verdade a composição tem motivações muito diversas que extravasam um movimento que surgem sem liderança política que se conheça mobilizado pelo conjunto das redes sociais exprimindo-se, nos casos de maior violência, de uma forma anárquica como anti-sistema, nas quais se destacam gente organizada com capacetes de protecção e mochilas contendo produtos inflamáveis para além de outros que lhe permitem assaltar lojas e roubar produtos nelas contidos, constituindo uma frente de combate numa primeira linha de agressões às forças policiais destacadas para conter a onda de violência que provocam e de cujas imagens tivemos múltiplas vezes em directo emitidas pelos vários canais de televisão públicas e privadas.

Mas, neste movimento que de momento se pode caracterizar de forma simplista como anti-sistema, estão presentes igualmente a maioria dos jovens participantes, cansados de uma sociedade que não responde aos seus anseios e projectos de vida, vítimas de um crescimento de desemprego que os tem particularmente visado e colocado à margem lhes tem roubado a necessidade de diversão, por condicionamentos consecutivos em defesa dos cuidados a ter para conter os efeitos da pandemia, num quadro deveras complexo no qual o Rapper e a defesa da liberdade de expressão, em muitos deles, lhes são completamente indiferente. É esse o fosso que urge separar para responder com políticas económicas e sociais que os afastem de um inconformismo sem outro propósito que não seja expandir e ganhar apoios para expressões de violência anti-sistema.

Na resposta política a tais acontecimentos diria que da esquerda ao centro e à extrema-direita, são poucos os que ganharam apoios escondidos que estiveram na penumbra, hesitando sobre que posições claras a tomar, perante uma esmagadora maioria de gente comum, que repudiou, num largo coro, tais actos numa penalização que vai ter expressões políticas a curto prazo, podendo mesmo abrir portas a uma crise política no actual Governo. Sobretudo pelas posições contraditórias expressas pelo Podemos que participa no Governo da Nação com cinco ministros, um dos quais Pablo Iglésias como vice-primeiro ministro, posições que se expressaram de solidariedade ao Rapper Pablo Hasel, em defesa de uma liberdade de expressão que a Constituição consagra e portanto não estava em causa como direito.

Quanto ao futuro Governo na Catalunha o impasse mantém-se embora tenha ganho peso uma solução liderada pela Esquerda Republicana Catalã que, a acontecer, desembocará em novas acções pela independência da Catalunha.

Carlos Figueira

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