Opinião: Vai Andando Que Estou Chegando

Caiu com estrondo a decisão do Juiz Ivo Rosa contra uma quadrilha que se havia acantonado nas mais altas instâncias da justiça e nesse sentido representa uma vilória para todos aqueles que defendem uma justiça rápida, isenta e de acordo com a Constituição da República.

Assistimos ao longo de anos a um inenarrável propósito de condenação por actos não provados, a fugas de informação sobre processos em segredo de justiça, apoiados e beneficiando de tais oportunidades uma imprensa ávida de notícias sensacionalistas, sem comprovar ou se preocupar com a sua veracidade, pasto para o salivar de comentaristas que lhes serviam de acomodação.

Poucos se interessaram sobre o papel do “justiceiro “ personalidade manhosa que no bom povo o caracterizariam como aquele “que lança a pedra e esconde a mão”.

Estou a referir-me ao famoso Carlos Alexandre que, com os seus comparsas se atreveram a viciar o sorteio de juízes para julgar tal processo, para que lhe caíssem em graça, num acto de extrema gravidade que diz bem do que se propunham e de quem os mandava. Mais que se deu impunemente ao cuidado, sem que de tal acto fosse minimamente acusado, ao dar uma entrevista sobre um processo que corria o seu curso, era suposto, em segredo de justiça, os mesmos, no seu conjunto que quando lhes convinha “deixarem escapar” informações sobre o andamento de tal processo.

É neste contexto que temos vivido com o conjunto dos cidadãos cada vez mais inquietos e descontentes com uma justiça que para além de morosa lhe sugeria a cada passo a isenção dos mais poderosos.

Não nutro, para que fique claro, nenhuma simpatia por José Sócrates, quer como cidadão comum, quer pelo exercício de funções enquanto Primeiro-ministro. Tenho como dever de consciência as maiores dúvidas sobre a proveniência de recursos financeiros que lhe permitem a ostentação da sua vida. Está fora de questão. O que me preocupa então é que a justiça o condene por culpa formada e não por suspeições infundadas porque não provadas em sede de juízo. A não ser assim, estamos perante uma justiça que exerce o seu poder de acordo com as suas conveniências, a seu bel-prazer, de acordo com matrizes ideológicas que nos repõem ao passado antes do 25 de Abril ao serviço dos mesmos interesses obscuros.

A situação que está criada é propícia à afirmação de um pasto onde capeiam o oportunismo, de todas as matrizes, de mãos dadas com o populismo mais acéfalo, terreno fértil para a afirmação política da extrema direita. O alvo está desenhado. O que pretendem tais forças é a alteração da Constituição na qual inscrevem uma diminuição de direitos e garantias dos cidadãos, perante a justiça e a vida. Nesse sentido é tão justa como actual a expressão de Garcia Pereira quando afirma que o 25 de Abril não chegou à justiça.

O alvo passa agora para a penalização do Juiz Ivo Rosa que ousou proferir tal sentença. Toda a sua vida a partir de agora passa a ser inspeccionada para produzir notícias falsas que dão manchetes e alimentam a gula salivar dos comentaristas de serviço. Se de tal podíamos ter dúvidas basta a primeira página do Correio da Manhã de hoje dia 12 de Abril a anunciar “um tacho” para o Juiz, servido por António Guterres o ainda presidente da ONU. De seguida teremos manifestações manipuladas por uma opinião pública descrente do estado democrático em que felizmente vivemos. Situação deveras perigosa perante a qual não nos pode colocar na prateleira da indiferença.

Carlos Figueira

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