Vai Andando Que Estou Chegando

A morte de Otelo, Capitão de Abril, membro da estrutura militar que conduziu à queda da ditadura, num contexto a que seguiu de imediato um enorme apoio popular, suscitou como é natural, um sem números de comentários políticos. Alguns, na minha opinião, hoje como quadro politico, saído de mais de seis anos de clandestinidade, o que me permitiu a mim, e a muitos outros quadros políticos ao serviço do PCP, estar a par dos acontecimentos que se previam virem a ocorrer pelo movimento militar em perspectiva. Lembro na altura como responsável do Comité Regional das Beiras ao qual pertenciam, António Lopes e Vasco Paiva, discutirmos o que fazer, se a acção dos militares fosse vitoriosa. Dias depois voltamos a encontra-nos, já no Pais de Abril. Cada um à sua maneira tinha cumprido o Plano que tínhamos esboçado, ou seja, ganhar a rua, ao lado do povo.

Num contexto politico de agora no qual a direita procura omitir e reescrever a história, quero sublinhar o apreço pelo revolucionário que, como outros, tiveram um papel fundamental na queda do regime ditatorial de mais de quarenta anos. Será ainda cedo para analisar com independência tal empolgante período, no qual, ao longo dos anos que se seguiram ao 25 de Abril, Otelo se revelou uma personagem complexa que atingiu o seu auge contraditório, com a criação e liderança de um grupo terrorista das chamadas brigadas das FP25 de Abril, no exacto momento em que o Pais, após o 25 de Abril, assistia à construção de uma Constituição na qual foram inscritos não só os valores da liberdade mas igualmente a consagração de direitos no plano da saúde, educação e desenvolvimento.

Após a sua condenação com penas pesadas de prisão, por iniciativa de Mário Soares com apoio parlamentar do PS e PCP, foi aprovada uma Lei que reduzia penas e permitia a Otelo viver em liberdade com a passagem para a reserva na sua função como militar. Lei em pleno governo de Cavaco, acolhida pela direita na AR com uma enorme pateada nas quais, entre outros, se distinguia o aflito, hoje comentador da SIC, Marques Mendes, personagem que viria a integrar o fim do governo cavaquista.

Em ajuda à compreensão desses conturbados anos, a Edição do Publico de hoje ( 26.07 ) publica um relato equilibrado de tais acontecimentos, em contraste com outros que não reconhecem que um acto de reconhecimento, ao homem, politico e humano, enorme protagonista da nossa história recente, está para alem de todas as criticas que lhe podemos apontar, por actos injustificados e contrários à sua generosidade como militar de Abril.

Na véspera do grande mês de férias a direita continua a pautar as suas críticas ao governo acusando-o de estar cansado, esgotado, somando a tal análise, o repetitivo apelo à substituição de vários ministros. Aqui chegados fico com a convicção se é o governo que se mostra cansado ou a oposição da direita que não encontra mais rumo, a não ser em pequemos casos, provavelmente, por cansaço, de cujas entranhas politicas, até agora, não saíram mais que uma proposta de revisão constitucional, quando a esmagadora maioria dos portugueses está sobretudo inquieta se após o verão terão trabalho assegurado, justamente inquieta pelas desigualdades que se acentuaram, pelo desafio em que se encontram perante o teletrabalho, pela educação à distancia dos seus filhos sem acesso a um computador em resultado da pandemia, pelo crescendo do numero de infectados, alguns deles “negacionistas” que quando infectados, recorrem ao SNS pago por todos os portugueses para serem vacinados.

Todo este drama ocorre numa situação de crescimento da riqueza nas mãos dos mesmos de sempre que recorrem a todos os artifícios que a Lei lhe permite para tranquilamente passarem férias, impunes, em resort de super luxo.

Neste mundo acentuadamente desigual existem em Lisboa e Madrid filas para comprar Mercedes.

Carlos Figueira

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