Vai Andando Que Estou Chegando

Carlos Figueira
Carlos Figueira
Foi membro do Comité Central e da Comissão Politica do PCP até ao XVI Congresso. Expulso do Partido em Setembro de 2002, num processo que envolveu Edgar Correia e Carlos Brito. É membro da Refundação Comunista. Saiu do país clandestinamente em Agosto de 1964, foi aluno da Universidade Livre de Bruxelas em Ciências Políticas e Sociais e mais tarde no Instituto de Ciências Sociais e Políticas de Moscovo. Atualmente é consultor de empresas, escritor e cronista regular na imprensa regional e nacional.

Na ressaca das eleições autárquicas fomos inundados com uma onda de comentários nos quais se somam análises objectivas sobre os valores obtidos por cada partido com todo um rol de adivinhações quer sobre o futuro de vida de António Costa, quer sobre a possibilidade desta legislatura não cumprir até ao fim o seu mandato. A somar temos um tempo igualmente marcado pela intriga a mentira e o disfarce. De tudo resulta que são visíveis os sinais de entrada num novo círculo político.

Mas começando pelos resultados das autárquicas a inesperada vitória de Moedas em Lisboa relança a posição de Rui Rio e do PSD, apesar de terem perdido mais de 38.000 votos. Moedas não terá vida fácil a dirigir Lisboa dada a posição ultra minoritária em que foi alcançada a vitória para o executivo camarário e já se anuncia que retirou da Net o seu Programa eleitoral. A luta interna pela sucessão agudiza-se apesar de contar com o apoio estratégico de Marcelo cada vez mais interveniente na governação do País procurando sinais de crise que lhe possam permitir a marcação de eleições antecipadas. Marcelo em cada dia se assume mais como Presidente de uma facção em prejuízo de o ser de todos os portugueses como a Constituição expressa com clareza.

No PS apesar dos maus resultados obtidos particularmente em Lisboa perde no plano global do País mais de 143.000, facto que deve pesar na análise profunda a tais perdas englobando nesse sentido o comportamento do governo a necessitar de algum arejamento. Mas, apesar da diminuição da sua influência a nível autárquico, continua de longe a ser a força politica com mais Câmaras e Juntas de Freguesia o que lhe permite presidir à Associação Nacional Municípios e igualmente à Associação Nacional de Freguesias o mesmo sucedendo com a Presidência da Área Metropolitana de Lisboa.

Na esquerda os resultados são marcados pela derrota da CDU que perde Câmaras e 78.000 votos, não recuperando nenhuma das que perdeu à quatro anos, derrota perante a qual se procura num extenso e intemporal comunicado do CC os maus resultados, atribuindo-os a factores externos sempre ausente de qualquer auto crítica. O PCP faz falta à sociedade portuguesa, mais que não seja para o seu equilíbrio. O Cunhal percebeu na altura que era tempo para a sua retirada Jerónimo, preso a compromissos internos, falta-lhe coragem para assumir o seu abandono como Secretário-Geral do PCP, dando espaço a uma nova geração.

A derrota do Bloco, apesar do conforto da eleição pela primeira vez de um vereador para a Câmara do Porto confirma, mais de 20 anos apos a sua criação, a ausência de uma presença militante e activa politicamente por falta de enraizamento no País. Vive do voto nos maiores centros urbanos e do afecto que dispõe na comunicação social.

Entretanto o empolamento que a direita fez destes resultados, anunciando o declínio irreversível do PS, é contrariado pela sondagem para eleições gerais que o Sol de 2 de Outubro publica, dando o PS com 41,5% das intenções de voto, o PSD com 27,2%, o Chega com 8,9%, a CDU com 5,5% e o Bloco com 5%. Tais resultados obtidos pela esquerda abrem caminho para uma reflexão sobre alternativas e alianças futuras. Se tivesse havido tal postura, na qual se engloba também o comportamento político do PS, não se teria perdido a Câmara de Lisboa.

À margem tivemos o imbróglio da substituição da nomeação do Almirante Gouveia e Melo para chefe do Estado Maior da Armada em substituição do actual Mendes Calado. A fuga de informação deu origem a uma reprimenda pública de Marcelo ao Ministro da Defesa com a direita a reclamar a demissão do Ministro. Afinal segundo o Sol o Presidente estava a par de todo o calendário e a fuga de informação se existiu partiu do interior da sua Casa Militar. Difícil seria se assim não fosse. O curto comunicado da Presidência dando conta que o assunto estava encerrado é mais um episódio típico do comportamento ético do actual Presidente bem retratado no livro de memórias de Balsemão.

Na actualidade política imediata temos a complexa situação da aprovação ou não do OE. Para a semana daremos conta do que pensamos sobre tal matéria.

Carlos Figueira

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