Vai Andando Que Estou Chegando

Estamos na eminência de uma crise política, talvez a maior em democracia, com repercussões pesadas em todo o Universo da vida do País, a ser, como de todo me parece inevitável, pelo chumbo do OE por parte da esquerda, ou seja, do Bloco e do PCP.

De acordo com declarações anteriores do Presidente da República iremos para eleições antecipadas uma vez dissolvida a AR o que pode significar a estagnação do País por largos meses com fortíssimas repercussões no aproveitamento imediato dos fundos comunitários.

Na raiz da crise estarão exigências quer do Bloco quer do PCP fundadas não tanto sobre as questões orçamentais mas em áreas que estariam para além dele. A ser verdade não deixa de se colocar alguma estranheza. Porquê agora e não antes, quando da criação deste governo, por parte das forças políticas que o viabilizaram. Fico sem saber quais são as ditas reformas e os montantes que implicavam, como se pagariam, tendo presente o equilíbrio das contas públicas tendo presente os recursos que o País detém. Porquê agora se pede um documento escrito que explanasse as medidas a tomar no curto e médio prazo quando, em particular, o PCP sempre recusou tal processo remetendo-se para uma posição de aprovação à peça quando poderia ter exigido, como sustentação do governo, propostas que não se limitassem somente ao OE em cada ano.

Com o chumbo do Orçamento é necessário ter em conta, porque o eleitorado as vai pedir, caem medidas de aumento de salário mínimo e das pensões, de reforço do SNS, de várias matérias laborais em discussão, para além das repercussões políticas que origina, pelo alento que dão a toda a direita. Pode alimentar-se a ideia que neste quadro caberão culpas ao governo pela sua intransigência, segundo alguns, mas o facto é que quem governa assume responsabilidades pela condução do País com poderes e conhecimento diferentes de quem se limita a reivindicar.

Estamos perante uma mudança de ciclo político para o qual contribuíram em boa parte o radicalismo do Bloco preso aos trotskistas e ao esquerdismo radical da UDP e um PCP sectário, cada vez mais centralista, onde continuam a predominar a desconfiança a par do “velho ódio” ao PS, só interrompido quando da eleição de Mário Soares e Jorge Sampaio. Do resultado eleitoral, no quadro de uma direita ainda esfrangalhada, pode resultar uma vitória do PS com maioria absoluta, ou relativa, muito à custa do esvaziamento do Bloco e do PCP, o que a acontecer, seria o toque de finados da esquerda à esquerda do PS.

Neste quadro é interessante referir a posição assumida pela CDU no pós eleitoral autárquico em VRSA, quando de cima, em nome da Direcção Regional do Algarve, decide que o eleito vereador não aceitasse uma proposta do PS para integrar a tempo inteiro o executivo da Câmara, ao qual atribui-a responsabilidades pelos pelouros do desporto, juventude, ambiente e modernização administrativa. Decisão que não foi aceite pelo vereador, o que conduziu à sua demissão do Partido e juntamente com ele novos militantes que tinham sido recentemente recrutados. Tal posicionamento politico assumido pela direcção do PCP contrasta com o apoio que deram em Coimbra para que o eleito vereador aceitasse a tempo inteiro uma gestão que engloba toda a direita e o mesmo se passa no Porto com o encosto Rui Moreira. Esta deriva cabe perfeitamente na posição assumida por Jerónimo no pós autárquico quando chamado a pronunciar-se sobre eventuais acordos respondeu que a actitude do PCP estaria sempre pautada por caso a caso, ou seja sem posição política definida.

Carlos Figueira 25.10.2021

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