Vai Andando Que Estou Chegando

A ressaca da rejeição do OE/22 marca o posicionamento das várias formações políticas num clima claramente pré-eleitoral. Mesmo com uma direita a acertar contas internas surgem desde já preocupações quanto ao valor do salário mínimo e mesmo sobre os baixos salários que se praticam, assunto ausente nas suas preocupações anteriores, a não ser ao inverso, quando no Governo de Passos Coelho, o último governado pelo PSD/CDS, a mando e para além do exigido pela Troika, baixou salários, retirou benefícios sociais (férias e décimo quarto mês), mesmo às pensões de 300 e picos €.

Mas para além da demagogia que tais intenções comportam, o debate à esquerda e à direita sobre o futuro do País, até ao presente, centra-se em torno das maiorias absolutas que podem ser obtidas por uma direita renovada (PSD,CDS,IL,Chega) ou pelo PS.

Na esquerda Bloco e PCP têm ocupado o seu tempo político a tentar enviar culpas pela queda do Orçamento ao PS, com justificações não só pouco plausíveis, porque invertem sistematicamente o ónus das responsabilidades pela crise criada, como reflectindo um estado de alma política que os aproxima de uma velha doença infantil, fundada no sectarismo e na arrogância a par, diria mesmo, de um certo delírio próximo do misticismo, o que os afasta não só da realidade em que o País vive, como do objectivo essencial para o qual se devem bater, ou seja,no plano das alianças políticas, ao ter como inimigo principal o PS classificando a eventual maioria absoluta deste partido como uma catástrofe para o País. São várias as afirmações produzidas por dirigentes e comentaristas neste sentido.

Seguindo o tema, sublinho a entrevista de Jorge Cordeiro ao DN a 12 do corrente, quando não só afasta qualquer entendimento com o PS, como acusa a Renovação Comunista de ser portadora de um projecto que conduziria o PCP como força de apoio ao PS. Ridícula e insensata observação, quando na realidade a RC se tem expressado, de forma contínua, na defesa para toda a esquerda incluindo naturalmente o PS, na procura de um entendimento entre todas as forças democráticas, no plano político, social, associativo, para tornar possível um governo ancorado no centro esquerda, com a indispensável solução governativa, sustentada em políticas sociais e de desenvolvimento, tendo em mente o progresso do País.

Aqui chegados cabe perguntar que respostas políticas tem a esquerda às declarações produzidas ao Expresso desta semana, por Duarte Carneiro, coordenador da campanha do PS, nas quais afirma que em caso de minoria preferia alianças com a esquerda a não ser em casos como a descentralização e o combate à corrupção os quais necessitam de uma maioria qualificada na AR. Neste contexto contaremos com um PCP e Bloco a apoiarem-se a si mesmo? Uma maioria do PS é pior que uma maioria de direita, afastada que tem estado da crítica política por parte da esquerda, como se a direita não existisse? São estas algumas das questões que têm de estar no centro do debate política pré eleitoral. O resto será de todo desinteressante, esmagado que estará por um comentário predominante de direita que tudo fará para a levar ao colo ao poder.

Por aqui chove ininterruptamente há mais de uma semana. Sinto-me condicionado e incómodo na forma de viver estes tempos inóspitos. Mas existe sempre um outro lado de análise, mais positivo menos queixoso. Afinal a chuva, mesmo que intensa, faz falta, porque mata moscas, afasta pragas e prepara a terra para novas culturas. É o círculo natural que a natureza, na sua enorme sabedoria nos oferece para nosso conforto, contribuindo para acolhermos com naturalidade, que nem tudo o que nos afirmam como certo, certo estará!

Carlos Figueira

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