Vencer o cancro já é possível!

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A Associação Oncológica do Algarve celebrou este mês 21 anos

Há duas décadas, os doentes oncológicos tinham de deslocar-se 300 quilómetros, até Lisboa, para terem acesso a consultas e tratamentos. E muitos foram os que morreram desta doença, que “impõe” um diagnóstico precoce e um tratamento atempado. Hoje, a situação melhorou e a região já tem algumas armas de luta contra o cancro. A “culpada” é a Associação Oncológica do Algarve (AOA), que completa este mês 21 anos de vida. Em entrevista ao JA, os responsáveis explicam como “salvam” milhares de vidas todos os anos no Algarve. Mas também alertam que os pedidos de ajuda para compra de próteses, medicamentos e transporte tendem a aumentar

 

A Associação Oncológica do Algarve (AOA) nasceu há 21 anos devido “à necessidade de dotar a região de condições mínimas de apoio ao doente oncológico”, face “ao crescente número de casos de cancro” e à “inexistência, então, de uma entidade que no terreno trabalhasse na prevenção primária, na criação de infraestruturas de apoio e no acompanhamento do doente oncológico e família”, esclarecem os três responsáveis do conselho de administração, Santos Pereira, Maria José Pires e Jaime Ferreira.

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A instituição foi fundada em 1994 por um grupo de pessoas com experiência pessoal e profissional de problemas associados ao cancro, com destaque para o médico-cirurgião Santos Pereira, que esteve no grupo inicial que fundou a associação.

“Nesse tempo, os doentes oncológicos eram frequentemente forçados a percorrer 300 quilómetros para terem acesso a consultas e tratamentos em Lisboa”, recorda. E muitos acabavam por falecer devido a essa distância e à falta de recursos na região algarvia!

“Na altura era muito difícil e em muitos casos impossível de conseguir consultas e tratamentos na região por falta de capacidade de resposta local, a que se juntava uma grande falta de informação, relaxamento e muito pudor da população”, lembra Santos Pereira, acrescentando que, atualmente, a região já dispõe de “melhores acessos e armas de luta contra o cancro” e a população do Algarve está agora “mais informada”.

“Ao longo destas duas décadas a AOA tem testemunhado uma maior disponibilidade de meios no tratamento do cancro e mais apoio ao doente oncológico, particularmente no que se refere à patologia mamária”, sublinha.

Mais de 15 mil mulheres rastreadas anualmente

Hoje em dia, a AOA também já está presente de forma ativa em todos os concelhos do Algarve através de uma unidade móvel de rastreio do cancro da mama (a funcionar desde 2005), mas também com sessões de informação e sensibilização sobre a problemática do cancro e em eventos que chegam a agrupar milhares de pessoas, como é o caso da “Mamamaratona”, cuja 15ª edição vai decorrer no próximo dia 11 de outubro, em Portimão.

Nestes 21 anos de vida, a associação também conseguiu realizar alguns projetos importantes, como a construção da Unidade de Radioterapia do Algarve (2006), em Faro, que evita muitas deslocações forçadas a Lisboa, “uma vez que não existia tratamento por radiações na região”.

No que se refere à prevenção, a AOA, em parceria com a Administração Regional de Saúde (ARS), é responsável por mais de 15 mil rastreios todos os anos, sendo convocadas “todas as mulheres dentro da idade alvo para este rastreio (50 aos 69 anos de idade), com residência no Algarve”.

“Este número tem vindo a aumentar, resultado da maior consciencialização da população para a importância da deteção precoce do cancro, bem como resultado do bom trabalho desempenhado pela equipa da AOA neste rastreio”, enfatizam ao JA os três responsáveis do conselho de administração, manifestando o seu orgulho por este ser “o rastreio do género, no país, com maior adesão”.

Aumentam os pedidos de ajuda

Para além dos rastreios realizados em todos os concelhos algarvios e da unidade de radioterapia localizada em Faro, a associação conta com um núcleo de apoio psicossocial que é responsável por consultas e terapias de grupo. E ainda é muito solicitada para prestar apoio social e humano ao doente oncológico e às suas famílias.

Os pedidos de ajuda para compra de medicamentos e para deslocações para tratamentos e consultas são os mais recorrentes, adiantou ao JA o médico Santos Pereira, indicando que também há muitos pedidos que destinam-se à “aquisição de próteses capilares e mamárias, assim como lingerie ergonómica a preço de custo, apoio psicológico, consultas de nutrição e aconselhamento jurídico”.

“De facto, a par da crise económica, tem havido um acréscimo deste tipo de pedidos de ajuda. Não sendo esta uma área de intervenção da AOA, o nosso papel tem sido o encaminhamento para as instituições responsáveis por estes apoios”, frisa o fundador da associação.

Apesar dos avanços na área da oncologia no Algarve, os responsáveis da AOA salientam que ainda há um caminho a percorrer na região, até porque “ainda existe a necessidade de deslocação a outros locais, em casos que necessitem de tratamentos que tenham que ser realizados em centros especializados”.

Residência temporária para doentes em tratamento

Entre os projetos que estão por realizar num futuro próximo, os responsáveis da associação salientam a construção de uma residência temporária para os doentes em tratamento na Unidade de Radioterapia do Algarve (Casa Flor das Dunas) e a renovação do equipamento do rastreio do cancro da mama.

A primeira obra é uma das grandes prioridades da AOA, que dá muita importância à existência de um alojamento temporário para os doentes que têm necessidade de realizar tratamento por radiações.

“O tratamento é feito na Unidade de Radioterapia do Algarve, em Faro, por um período de quatro a seis semanas, em sessões diárias, com cerca de 10 minutos de duração. Como os utentes vêm dos mais diversos locais do país, parece prioritária a preocupação com o seu alojamento”, defende a associação, que já recebeu um terreno doado pelo município de Faro para a construção desta residência temporária.

Atualmente, os donativos e os fundos angariados através dos mais variados eventos promovidos pela AOA são encaminhados a favor deste projeto. O próximo será um concerto solidário, já esta sexta-feira, dia 10 de julho, às 21h30, no Centro Cultural António Aleixo, em Vila Real de Santo António. Trata-se do espetáculo “Toca a Ajudar” com várias bandas regionais e outras surpresas. Os bilhetes custam cinco euros.

Voluntários são a “força vital” da instituição

Sendo uma associação cujos recursos provém apenas da “anuidade dos sócios, donativos, eventos de angariação de fundos e campanhas próprias”, a AOA depende da boa vontade dos voluntários para exercer a sua atividade na região. “Sem eles, a realização da nossa missão – prestar apoio social e humano ao doente oncológico e família – seria impossível”, reconhecem os membros do conselho de administração, apelando à inscrição dos algarvios sensíveis a esta causa através da página da internet da instituição.

“Este precioso apoio vai desde o colocar etiquetas de morada no boletim informativo que a associação envia a todos os sócios, à execução de tarefas mais especializadas como a de enfermagem em rastreios nos nossos eventos desportivos de cariz social. Trata-se de um número incontável de voluntários ocasionais e altruístas, força vital desta instituição”, sublinham.

Segundo o Registo Oncológico Regional, a região algarvia totaliza entre 1.660 e 2.250 novos casos de cancro entre a população residente, numa média de 1.850 casos por ano. Os tumores do colo do útero, mama, pele, cólon, brônquios e pulmões apresentam uma incidência mais elevada no Algarve.

 

Nuno Couto/JA

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