Viajante solitário chega a Sagres depois de um ano ao volante

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Explorador demorou quase um ano a percorrer num todo-o-terreno mais de 37 mil quilómetros, a partir de Hong Kong. Expedição terminou no Cabo de São Vicente, em Sagres, com o objectivo de sensibilizar para a preservação dos tubarões.

 

Charles Frew, Charlie para os amigos, segura numa pequena garrafa de plástico e entorna alguma água no mar, junto ao Farol do Cabo de São Vicente. A água do mar, trazida de uma Reserva Natural de Hong Kong, rapidamente se dissipa sob o vento fortíssimo que fustiga a Costa Vicentina.

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“Achei que fazia sentido, mais por ser simbólico, por se tratar de uma reserva marinha lá em Hong Kong e aqui também existir um Parque Natural”, afirma ao Expresso o expedicionário que acaba de fazer 37 mil e trinta e oito quilómetros ao volante de uma pick-up todo-o-terreno, num percurso que demorou 361 dias.

No farol, amigos e visitantes aplaudem a entrada do veículo, com as bandeiras de Portugal e de Hong Kong. Charlie, britânico de 39 anos que vive há 10 na província chinesa, agradece, dá abraços e distribui beijos, enquanto os turistas tiram fotografias e lhes explica que a viagem tem também um objectivo ambiental, o de promover a defesa internacional dos tubarões. “São espécies a que ninguém liga e que não têm muitos amigos, mas eu penso que o tubarão é um dos próximos animais a extinguir-se. Basta ver o que lhe fazem na China ou na Tailândia, para ver que podem desaparecer rapidamente”, lamenta.

Viagem gota-a-gota na Mongólia

Pelo caminho, este ambientalista assumido perdeu muitos euros, mas ganhou recordações inesquecíveis, como da vez em que nos Pirinéus sobreviveu como que por milagre a uma avalanche: “De facto foi uma estupidez, porque existia uma cancela a fechar a estrada e um aviso de perigo de avalanche. Eu esperei pela noite, para forçar a cancela e poder subir ao cume do monte, de carro, de faróis desligados, para os guardas não me verem”, recorda. “Dormi lá e no dia seguinte, comecei a fazer um pequeno percurso a pé. Em menos de nada, a avalanche surgiu e se eu tivesse ficado soterrado não sei como seria”, conta.

Outra das estórias insólitas remonta à longínqua Mongólia, quando o radiador da Toyota se rompeu. “O radiador começou a pingar e tive de fazer 40 quilómetros com ele às costas, a pé, à procura de um mecânico. Quando encontrei um, paguei-lhe dois euros para me soldar o radiador, só que entretanto esqueci-me onde tinha deixado o carro. Passei oito horas à procura do jipe”, diz, com boa disposição.

Amor de mãe

A mãe, Susan Frew, ia seguindo o filho através do blogue, do Facebook e do tracking no GPS. “A tecnologia é fantástica hoje em dia, e dava para irmos tendo algum contacto com ele”. Habituada a outras aventuras do filho, como o mergulho técnico, Susan admite que ficou sempre apreensiva, mas já está habituada a saber das peripécias sempre a posteriori, o que acaba por ajudar.

“Ele sabe o que faz e isso leva-nos a confiar nele e a estar mais descansados”, afirma, desconhecendo provavelmente o episódio da avalanche.Charles contou sempre só consigo e com o carro, porque para ajudar, diz, existe o mundo todo.

“Penso que a maior lição que tirei da viagem é que o mundo tem gente muito boa e que ajuda. Nunca devemos ter medo de pedir ajuda. Vão, divirtam-se e as pessoas vão ajudar-vos da forma que conseguirem”, instiga o britânico, com os olhos postos já na América do Sul, para uma nova expedição.

JA/Rede Expresso
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