Viva o dia Mundial da Cal Viva

Já aqui escrevi sobre as virtudes dos espaços (lojas, ginásios, salas de espera, etc.) em que aparelhos de televisão ligados, não emitem qualquer som, enquanto que se escuta música ambiente desirmanada do que se vê. Sob o manto desse som, podemos pôr-nos a adivinhar o que dizem ou cantam, habitualmente com pouco êxito. Acresce ainda que podemos ver os sucessivos rodapés com notícias, muitas vezes descontextualizadas; em suma o século XXI como ele é, ou como nos parece que seja. Nunca vejo nenhum dos extraordinários (e não o digo – inteiramente – a brincar) programas (vulgo, tolquechous) que passam ao longo do dia nos canais, mas ao longe percebo a dificuldade que os produtores devem de ter para arranjar assunto. São casos da vida, violência doméstica e não domesticada. Psicólogos, psiquiatras e gente com opinião sobre tudo, divididos entre compreensivos e alarmistas. Pasteleiros, cozinheiros (perdão, chefes); pessoas com doenças raras ou que não veem os irmãos há mais de vinte anos, ou as duas coisas em simultâneo. Famosos que não aguentam uma visita a Ayamonte (como disse Herman), porque aí ninguém os conhece e ultimamente (era sobre isso que lhes queria falar) comemorações dos dias mundiais de tudo o que mexe. Fiquei estupefacto: existe um Dia Mundial do Carocha. Ainda se existisse um dia mundial da carocha (pequeno animal, talvez subvalorizado na sua importância), ainda vai que não vai, agora se é do Carocha porque não do FIAT 500? Existem dias mundiais para praticamente tudo, e mais, para cada dia há duas três ou quatro comemorações. Antigamente lembrávamo-nos do Dia Mundial do Ambiente, da Mãe e do Pai. Do infeliz (não para os strippers masculinos) Dia da Mulher e o da Floresta. Acho que também o há da Baleia, aqui com bê grande. E os das Zonas Húmidas, que é sempre importante, para elas e para eles como diz o chôr Presidente da República. Não sei exactamente o que produziu tamanha inflação de Dias Mundiais, mas que foram uma bênção para os tolquechous, foram. Não sabe do que se há-de falar, vai-se ver hoje é dia X, ora bem, temos o Dia Mundial do Umbigo Para Fora e o Dia Europeu (lá faltava mais este) das Cuecas de Gola Alta – não confundir com Pipi das Meias Altas; é só escolher. Agora tudo isto me parece um processo do género, quem sou eu para não ter direito a um dia? Não sei se existe uma autoridade mundial que faça esta distribuição, mas se não existe o nosso Guterres podia dar uma mãozinha, sempre se desforrava das agruras da Ucrânia. Faziam dias mundiais de primeira, segunda terceira, com subidas e descidas de divisão. Por exemplo, o Dia da Mulher está em queda e só podia aspirar a uma liguilha para não descer. Se existe um Dia Mundial Para Se Discutir o Que Está Em Cima da Mesa, então temos uma perspetiva de subida à vista. Muitos dias mundiais fazem o mesmo efeito que aquelas lojas que constroem uma montra com tudo o que têm para vender. No meio da confusão tudo é igual e nada se vê. Como o que vai acontecer aos dias mundiais, e europeus.

Fernando Proença

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