VRSA: Nautiber duplica número de trabalhadores em tempo de crise

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O empresário Rui Roque, proprietário dos estaleiros Nautiber

Empresa de Vila Real de Santo António cresceu e duplicou o número de funcionários, numa altura em que outras fechavam portas ou reduziam o número de trabalhadores. O engenheiro naval e empresário Rui Roque explica ao JA os segredos para conseguir “fintar” a crise

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DOMINGOS VIEGAS

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A Nautiber, empresa de construção naval de Vila Real de Santo António, é mais um caso de sucesso entre as firmas do país que conseguiram contornar a crise e, inclusivamente, crescer e duplicar o número de funcionários numa altura em que outras fechavam portas ou despediam trabalhadores. E tudo graças à inovação e à adaptação às novas tendências dos mercados, enveredando pela exportação.

Durante anos, a construção de embarcações para a pesca foi a principal fonte de receitas da empresa. Porém, os clientes começaram a escassear a partir do momento em que a construção de novos barcos para aquele setor deixou de ser apoiada por fundos comunitários. Restaram apenas alguns, dos Açores e só até há dois anos (aquela região autónoma continuou a usufruir de apoios europeus), bem como outros clientes, casos muito pontuais, que tinham alguma capacidade para construir com dinheiro próprio.

“A nossa principal atividade acabou por cair, mas começámos, com alguma antecedência, a retomar o setor das novas construções para a área marítimo-turística, um setor onde já tínhamos sido líderes de mercado. Felizmente, houve um grande empenho da CCDR e do Turismo de Portugal no apoio, através de fundos comunitários, aos nossos clientes daquela área”, explica Rui Roque, engenheiro naval e proprietário da Nautiber.

No entanto, a empresa só conseguiu retomar aquele mercado através da renovação quase completa do trabalho que tinha sido desenvolvido até então. “Começámos a associar novos ‘designers’ e arquitetos aos projetos para a área marítimo-turística. Hoje, o produto é identificado como sendo da Nautiber, mas também como sendo de um determinado ‘designer’. Chocámos um bocado o mercado com os novos modelos, há quem goste e há quem não goste, mas é sempre motivo de conversa e, consequentemente, é também fator de venda”, frisa Rui Roque.

Exportação permite ampliar equipa

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Este foi o primeiro passo com que a Nautiber conseguiu começar a contornar a crise. Mas o crescimento acabaria por surgir com a “saída da zona de conforto”, como diz Rui Roque, e com a procura de novos mercados, principalmente no estrangeiro, o que fez com que as construções para a pesca regressassem à empresa.

“Tivemos que sair da nossa zona de conforto, que era trabalhar para o mercado interno, e ir lá para fora, acompanhando a tendência dos mercados. Este facto também representou uma oportunidade de crescimento. Por isso tivemos que criar condições, não só físicas, mas também ao nível de organização. Passámos de pouco mais de 30 colaboradores para perto de 70”, conta aquele empresário.

Atualmente, e além de três barcos de apoio à aquacultura (dois para Sagres e um para Olhão), a Nautiber está a construir quatro embarcações de pesca, de maiores dimensões, para Angola. Recentemente foi construída uma outra, também para a pesca e para aquele país. E já há perspetivas de fechar diversos contratos com clientes de outros países de língua portuguesa e do norte de África.

“Neste momento, cerca de 60 por cento da nossa faturação já é proveniente da exportação e, dentro da exportação, cerca de 98 por cento refere-se à construção de embarcações de pesca. A exportação foi a forma de podermos continuar a construir barcos para a pesca”, revela Rui Roque.

E o futuro da Nautiber irá continuar a passar pela exportação, já que também há perspetivas de começar a construir embarcações das áreas da aquacultura e da marítimo-turística para outros países. Refira-se que, até agora, a construção destas embarcações têm estado praticamente reservadas ao mercado nacional.

“Já estamos a construir uma nova nave de construção. Só assim é que podemos encarar o mercado da exportação com outra tranquilidade. Trata-se de um mercado com mais valor acrescentado, mas também com requisitos contratuais muito mais apertados, o que nos obriga a ter outras condições”, explica aquele responsável.

Apesar de considerar que existem hipóteses de crescer ainda mais, Rui Roque prefere não dar passos maiores do que a perna e garante que o objetivo da Nautiber é o de “manter a estrutura atual”, já que esta é uma atividade com “ciclos melhores e piores” e as perspetivas “não apontam para a possibilidade de um crescimento estável e a longo prazo”.

“A Nautiber foi sempre uma empresa que teve a preocupação de manter a estabilidade no emprego. Há condições para crescer um pouco mais, mas tornava-se desagradável estar a contratar e depois despedir as pessoas. Estamos numa boa fase, mas o panorama a nível nacional não é esse. Ficámos praticamente sozinhos no mercado e o que aconteceu aos outros também nos pode acontecer a nós. Temos essa situação sempre presente no pensamento”, refere.

Mas o segredo do sucesso da Nautiber vai muito mais além e está alicerçado no facto do setor da construção naval ter uma grande tradição em Vila Real de Santo António, primeiro em madeira e, nos últimos anos, com a utilização da fibra de vidro.

“Crescemos a reboque dessa tradição e do conhecimento que existe na cidade há dezenas de anos. Continuamos a ver muitas pessoas, inclusivamente de outros países, que procuram Vila Real de Santo António para construir as suas embarcações. Esta cidade é uma referência que nos ajuda a vender”, explica Rui Roque.

Produto à medida do cliente

Outro dos segredos é o facto da Nautiber ser uma das poucas empresas de construção naval que realiza um produto à medida do cliente. Aquela empresa vila-realense já construiu mais de 300 embarcações, todas diferentes e seguindo escrupulosamente a vontade de cada cliente.

“Somos conhecidos no mercado como os alfaiates dos barcos. Há coisas que são um pouco mais difíceis, mas temos conseguido fazer aquilo que cada cliente quer. Isso também foi uma mais valia, que nos permitiu competir em tempo de crise. É muito difícil vender aquilo que todos fazem. Só se consegue vender aquilo que é diferente e é necessário ter a audácia de chocar o mercado”, defende o empresário.

A Nautiber esteve recentemente representada em feiras de Dusseldorf e do Dubai, promovendo os seus produtos, sempre com o objetivo de marcar a diferença no “design” e tentando outros mercados no âmbito do setor marítimo-turístico.

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