VRSA: Recuperar os 245 anos de história da cidade raiana

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Vila Real de Santo António comemora 245 anos a 13 de maio. Para assinalar a data da fundação, o historiador Fernando Pessanha junta-se à autarquia e à Editora Guadiana no lançamento de três publicações que resgatam a história da cidade transfronteiriça. O resultado é o lançamento de duas coleções de postais e de uma separata, obras onde se encontram publicados documentos praticamente desconhecidos do público.

A fundação de VRSA é assinalada, este ano, com a publicação de duas coleções de postais e uma separata publicada pelo historiador Fernando Pessanha no último volume dos Anais do Município de Faro.

Uma das coleções é uma reedição, enquanto outra inclui reproduções de documentação praticamente desconhecida e que vem dar a conhecer novos dados relativos a momentos incontornáveis da História de VRSA, como as manobras militares aquando da fundação da vila ou a Grande Batalha do Guadiana.

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“São obras cartográficas de grande valor histórico e artístico, que facultam informações importantíssimas sobre as festividades da fundação de VRSA ou outros momentos fulcrais da nossa história contemporânea”, começa por contar ao JA Fernando Pessanha.

O investigador vila-realense refere-se à reedição da coleção agora intitulada “Cartographia das Manobras Militares – Fundação da Villa Real 1776”, inicialmente publicada em 1995 e que consiste num “conjunto de cartas militares à guarda do Arquivo Histórico Municipal António Rosa Mendes e da autoria de José de Sande Vasconcelos, engenheiro militar colocado em VRSA aquando da construção da vila pombalina, logo em 1774”.

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A primeira e a segunda edição da coleção de postais. Créditos fotográficos: Gonçalo Dourado

Já a separata, “O Sotavento algarvio na cartografia militar de José de Sande Vasconcelos – Os casos de VRSA e Faro”, inclui todo o contexto histórico, político e cultural relativo aos documentos reproduzidos nas coleções de postais, que podem ser adquiridas na Editora Guadiana, através do e-mail [email protected], pelo valor de 15 euros.

O incêndio do antigo Arquivo

O incêndio que teve lugar na casa da Câmara, em 1908, destruiu parte da documentação do arquivo municipal, o que tem representado um entrave à construção do conhecimento sobre a história local. No entanto, os documentos incluídos na coleção das manobras militares sobreviveram. Os documentos presentes na reedição da coleção de postais estiveram, até aos anos 90, a decorar os corredores da Câmara Municipal de VRSA, sendo agora lançados num formato maior e com maior qualidade.

“Em 1995, o vereador Mário Sousa solicitou à Editora Guadiana a reprodução dos originais, que foram fotografados em alta qualidade”, explicou Hélder Oliveira, proprietário da editora, ao JA.

Cerca de 26 anos depois, a Editora Guadiana teve a ideia de fazer esta reedição, com autorização da autarquia e, desta vez, com o enquadramento histórico de Fernando Pessanha.

“A editora pretende pôr à disposição das pessoas e dos vila-realenses este património histórico, que deve ser divulgado”, acrescenta Hélder.

No entanto, o historiador decidiu aproveitar a ocasião para divulgar a documentação que entretanto encontrou noutros arquivos nacionais, já que “tem sido através da pesquisa nos arquivos militares que temos conseguido identificar as fontes primárias que nos permitem reconstruir a história da terra”, explica.

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Redescobrir a história e aproveitá-la para o turismo

Ao longo dos últimos anos, Fernando Pessanha tem identificado fontes históricas “que existem espalhadas pelos arquivos nacionais, nomeadamente nos arquivos militares”.

A nova coleção de postais que a autarquia de VRSA está a publicar, intitulada “Cartographia da Villa Real”, é constituída por “fontes históricas que se encontram dispersas por outros arquivos a nível nacional, como o Arquivo Histórico Militar ou o Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Militar. Foi necessário ir à procura”, explica. É nesse sentido que agora são dados a conhecer as plantas dos fortes, fortalezas e baterias que constituíam o sistema defensivo de VRSA e que acabaram por desaparecer com o passar do tempo.

A publicação das novas investigações sobre a história de VRSA em revistas da especialidade provoca “efeito bola de neve”, refere o investigador que já publicou mais de duas dezenas de trabalhos historiográficos em representação da Câmara Municipal de VRSA. “De facto, são publicações necessárias para a democratização do conhecimento sobre a nossa história e que podem ser aproveitadas para a dinamização de outro tipo de projetos, como a nível do turismo, por exemplo”.

A documentação relativa ao corso e à pirataria, assim como aos fortes, fortalezas e baterias “monumentos entretanto desaparecidos”, podem vir a tornar-se “num conjunto de recursos que nos permitem, através da instalação de sinalética in loco, criar circuitos temáticos que acabam por desenvolver outros setores da economia local como a restauração, comércio e hotelaria”.

“Este trabalho pode ser aproveitado enquanto fator de dinamização económica da região. Pode, efetivamente, constituir um novo cartão de visita para uma nova imagem de marca de VRSA”, considera.

Apesar de estes exemplares da arquitetura militar da vila já não existirem, “ainda podemos recordá-los, através da investigação e da criação de núcleos museológicos e de centros interpretativos”.

A “desconhecida” Batalha do Guadiana

Recentemente, Fernando Pessanha foi convidado a publicar uma nova investigação sobre uma batalha “praticamente desconhecida” do público generalista. Trata-se da Grande Batalha do Guadiana, de 1801, cujo estudo permanece praticamente inédito.

A carta militar desta batalha, da autoria do então capitão Baltazar de Azevedo Coutinho, está incluída na coleção “Cartographia da Villa Real”, que segundo o historiador tem “um valor técnico e artístico notável”.

A Batalha do Guadiana “foi um combate de artilharia que marcou um dos momentos mais marcantes da História Contemporânea do Algarve e do Baixo Guadiana, em particular. Se não tivéssemos sido vitoriosos, provavelmente hoje falávamos em castelhano”, conta ao recordar o caso de Olivença.

No entanto, este acontecimento não é muito conhecido, já que a perda dessa terra alentejana para Espanha ofuscou a vitória portuguesa na batalha do Guadiana.

“A perda de Olivença foi tão polémica que acabou por eclipsar completamente o resto deste conflito militar, nomeadamente o que aconteceu nos outros teatros de operações como o do Algarve com a Andaluzia”, explica Fernando Pessanha.

Identidade da terra

Para o novo presidente da Câmara Municipal de VRSA, Luís Romão, este trabalho “é muito importante em termos de identidade da terra”, refere ao JA.

“Um dia que perdermos a identidade que temos da nossa terra, estamos a perder tudo”, acrescenta.

A autarquia vila-realense aceitou o convite para se associar a estas publicações, “mesmo com as dificuldades em termos financeiros”, pois “há coisas que têm um valor tremendo”.

Luís Romão considera que esta coleção é a “perpetuação da informação histórica”, contribuindo assim também para apoiar uma empresa da cidade, “que como todas as outras, estão a passar por dificuldades tremendas devido à situação pandémica”.

No entanto, o autarca refere que a Câmara Municipal de VRSA acaba por ganhar “um estudo e um objeto de grande valor, não apenas em termos de informação histórica, mas também em termos artísticos e de imagem”.

“Acho que qualquer pessoa gostaria de ter um objeto destes. É uma obra de arte”, refere Luís Romão ao JA, valorizando ainda o trabalho da Editora Guadiana e do empenho “fundamental” de Fernando Pessanha.

Para o autarca, estes documentos podem vir a ser “mais uma ferramenta de trabalho” para os professores de história, tendo o município de “apoiar este tipo de iniciativas, dentro das limitações”.

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Fernando Pessanha e Luís Romão. Créditos fotográficos: Gonçalo Dourado

Pirataria no Guadiana na sétima arte

Ao JA, Luís Romão revelou que existe uma produtora de cinema e de audiovisuais que “está muito interessada” em criar uma série sobre a pirataria no rio Guadiana.

“Estamos a trabalhar nisso, em parceria com o Fernando Pessanha. Poderá ser uma série de ficção, que iria dar relevância a VRSA”, conta.

O presidente do município, com os estudos feitos pelo historiador, apresentou a proposta para a criação da série romanceada, “mas com conteúdo histórico” de VRSA.

Luís Romão, também diretor da Eurocidade do Guadiana, refere que a entidade transfronteiriça está a apostar num projeto de território museu e da questão patrimonial.

“O território museu não tem de ser apenas locais edificados, podem ser coisas palpáveis. É uma necessidade do Algarve e esse projeto tem esse objetivo; fugir do turismo de praia”, acrescenta.

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