António CONQUILHA

Prof. António Francisco vai dar nome ao Estádio em Vila Real de Santo António

No dia 17 de janeiro de 2016, já se passaram oito anos, aquando do falecimento do Mestre Conquilha, dedicámos em VOU ALI… E JÁ VENHO, uma crónica intitulada: Morreu o Mestre Conquilha.

Agora, ao fazermos emergir esta crónica, ela vai centrar-se quanto a nós, na grande e merecido homenagem, que o Município vilarrealense, e o seu executivo, de mão dada com Álvaro Araújo, vão fazer a um dos seus filhos, neste caso ao Prof. António Francisco, e sobre a qual deixamos esta evocação:

«Foi, durante toda a sua vida, um grande lobo-do-mar, não apenas pela fragilidade das embarcações que governou, que eram débeis cascas de nozes, quando enfrentavam Invernos agrestes. Tudo era desespero, quando sentados ao colo do estreito de Gibraltar procuravam terra firme até que o tempo amainasse. […]

Com o desaparecimento do Mestre António Conquilha, forma afectiva como o seu nome foi sendo povoado, fica cada vez mais débil, de resistência mesmo muito fragilizada, o enorme cordão umbilical que ainda vai prendendo os famosos «mestres de pesca» de «Vila Real de Santo António», à nossa memória e a história e de marcante identidade de Vila Real de Santo António, que ao longo de décadas foram, na sua maioria, os nossos ídolos, os nossos pequenos grandes heróis…

A verdade é que Vila Real de Santo António ficou mais pobre, mas mais pobre ainda ficou o mar… O mar dos Açores, o mar da Fuseta, o mar de Larache, o mar de Tarifa, o mar de Tânger, de Algeciras, de Rabat… todo esse mar que por várias vezes foi golpeado pelo Mestre António Conquilha, por todas as referências dos nossos «mestres de pesca»… E os que ainda restam são para o nosso ego a débil luz de um farol então gigante que nos indicava o caminho… Nos iluminava e renovava a esperança de haver lume aceso em casa…

E neste tempo de homenagem a um dos últimos «mestres de pesca» de um tempo memorável e fascinante, para a pesca e a industria conserveira. De um tempo em que a barra do Guadiana nos afogava a alma e o ondulado do mar de Larache varria o sal da proa à ré. O sal que servia de agasalho para o biqueirão adormecido nos porões… E quando o estuário do Guadiana era um promontório de mastro de traineiras e enviadas, com nomes de homens, com nomes de gente, e desta gente, em homenagem aos mestres das traineiras deixamos todos estes nomes: António Conquilha, José Rosa (José Pexinha), José Cebola, João Cebola, Miguel Rosa (Miguel Pixinha), Emiliano, Joaquim Manuel, Júlio Mendes, Elvino Matias, Nicolau Matias, Hildrico Pires, Coelhinho, Sangandonga, Alexandre Borges, João Salas, José Salas, Romualdo Matias, Vairinhos (Mata Sete), José Pardal, João Diabo (João Martins), Joaquim Paulino, Eduardo Conquilha, Alberto Matias e Nicolau Matias e muitos outros, não muitos, que a minha memória acelerada não conseguiu por agora agrupar a todos estes…[…]”

No outro dia, e como memória e pelo acontecimento que se vai viver no próximo sábado em Vila Real de Santo António, reenviámos ao Profff… a crónica e o António Francisco respondeu-nos:

«Obrigado, Manel. Já lá vão oito anos.
Como ele ficaria orgulhoso se pudesse viver a homenagem que me vão fazer.
No seu métier foi um campeão.»

Conhecemos bem, o António Francisco, de tal forma, que deveria ser proibido, tratar esta longa, séria amizade e companheirismo, em vinte linhas. Uma longa vida lado a lado, todavia, embora eu fosse mais velho, ele nunca me respeitou e de tal forma, que num dia, o velho Campo Francisco Gomes Socorro, na defesa do nosso PICNIC e como lateral esquerdo apareci caído o lado direito da defesa adversária, ele correu para mim, pegou-me pelo fundilho dos calções e disse-me: «Neto! andas perdido. Vai já a correr para o teu lugar…»

Os que envelheceram que por aqui ainda andam, apesar do tempo, dezenas e dezenas de anos que se encaixotaram, ainda têm em memória o menino António, filho do Mestre Conquilha…

A 1 de Fevereiro de 2023, o António, esteve no Estádio, que no próximo sábado terá o seu nome, para numa celebração de portas abertas, juntar numa sala, que começou vazia, mas depois rebentou pelas costuras por força das memórias e das emoções, para no modo e no estilo como geriu toda a sua vida, subir ao palco de uma vivência que começou incerta porque eram tempos onde o mar liso, estava mais agreste que os ruídos do Adamastor.

E nesse dia, como quem dá a volta à terra uma mão cheia de vezes, o Profffff António Francisco, como tem todos os nomes, mais em memória que em registo e totalmente confiante, por todo o histórico, que ninguém levaria a mal por ficar de fora, lá foi rodeado por uma estranha emoção, reconhecendo e agradecendo, a alguns colaboradoras e colaboradores, que contribuíram decisivamente para o prestígio que o Município de Vila Real de Santo António foi alcançando como importante centro de estágio desportivo nacional e internacional, mas de igual modo escancarando de par em par, as portas de toda a actividade desportiva do concelho, com asas para os clubes e o paradigma desportivo de cada colectividade.

Tarde/noite, que foi também o eco de nomes como António Almeida, Maria Eulália, Isa Moia, Rui Silva, João Campeão, Délio, Mário Rola, António Rosa e ainda de outros, e outros que forma parceiros decisivos para o sucesso do Complexo Desportivo, tais como José Carvalho, Lara Ramos, Fernando Mota, Jorge Vieira e num tempo muito anterior, Américo Solipa.

Mas também não foram esquecidos e até estiveram presentes, ex-autarcas, nomeadamente António José Martins, António Murta, ambos como antigos presidentes da Câmara de VRSA e António José Fernandes, igualmente como antigo vereador.

Lembramos, que na sua longa actividade, ainda se cruzou com o período em que o saudoso Alfredo Graça, esteve na presidência da Câmara. Um tempo onde não havia nada, apenas terrenos baldios, que se cruzavam com a mata, onde a malta ia armar ao pássaro e à camarinha. Mas havia o impulso destemido de Alfredo Graça…

Desde a aberta da Carroça o Campo do Glória, passando por rua a rua,tudo era o nosso estádio maior…

Existia o velho Campo Francisco Gomes Socorro; a Barquinha; a Aberta da Carroça; o Campo das Árvores, paredes meias com a Fábrica Aliança; a Muralha, onde então se fazia a feira, que mais tarde passou a ser o «Campo do Baia»; uma jorra bem enlameada, anexo às casas onde habitavam alguns funcionários da CP, onde o saudoso Militão, o nosso Moletas e o Correia dos Santos eram os craques…e ainda o Campo do Glória, onde metade do campo era jorra e areia, mas valia tudo, até que o saudoso Zé Renhaca, que habitava nos antigos balneários e por isso se julgava o dono do pelado/jorra/areia… mandava tudo embora; e os campos rua a rua, até que aparecesse a polícia que naquele tempo, corria menos que a malta. Num tempo onde também havia umas jogatanas na praça Marquês de Pombal… com cadeiras a voar…

António Francisco, faz parte de toda esta história e dela foi e continuará a ser, um fazedor de amizades e de consensos, para o engrandecimento da terra, dos clubes, da actividade desportiva, do desporto como fonte de cultura, saber, humanismo e sociabilidade.

Numa tese (1) de autoria de Filipe Santos, sobre o Complexo Desportivo de Vila Real de Santo António, em certa altura, podemos ler: «Para além das atividades do associativismo desportivo local, tais como treinos, competições e eventos, a atividade desportiva no concelho é também muito caracterizada pelo fenómeno do turismo desportivo na área dos eventos e dos estágios desportivos. Com o surgimento do Estádio Municipal e a Pista de Atletismo em 1992, os responsáveis pelo Desporto a nível municipal pretenderam, desde logo, aproveitar a oportunidade para favorecer a hotelaria do concelho, criando as sinergias necessárias entre a oferta turística e a oferta desportiva, tal como já acontecia no concelho de Albufeira, no aldeamento turístico das Açoteias. Este facto foi referido pelo Prof. António Francisco, que desempenhou funções de aconselhamento e direção do Desporto no município desde o início dos anos 80 e até 2006, e que foi o principal impulsionador da criação das instalações do CDVRSA.» […]

Aqui chegados, por mais teses que ilustremos e lhes demos alma e talvez vida, a grande tese é a grandeza do trabalho, por vezes indiscritível, realizado por António Francisco, que rodeado por gente boa, paridos e alimentados pela incubadora da sua humildade, do reconhecimento de estar rodeado de gente que nasceu e cresceu lado a lado, porque na Bila, naquele tempo todos nascíamos uns ao lado dos outros, embora pela forma como Deus dá sentido à vida, uns não tivessem nenhuma casa de banho e outros tivessem duas, não criou muros ou cimentou angústias, antes tornou-nos mais fortes.

António Francisco, soube e continua a saber, utilizar a sua riquíssima modéstia e acolher o respeito e a amizade, fruto da sua competência profissional, diga-se e diga-se repetidamente, por ter feito de cada funcionário, de cada colaborador membro da sua família, tendo como objectivo único ajudar a erguer Vila Real de Santo António, a cidade mais encostada ao fim do mundo português…

António Francisco, o Proffff António Conquilha chega ao topo da galeria dos que entram definitivamente na história da Cidade Pombalina e a malta da sua geração, aqueles que com ele conviveram, assim como o velhote, também se sentem recompensados, por um dos seus estar hoje sinalizado como um notabilíssimo exemplo de trabalho, profissionalismo, coerência, inovação numa área tão sensível como o desporto e liderança.
Evocar todos os palmos da sua carreira profissional, porque é disso que se trata seria um erro tremenda, pela impossibilidade de o fazermos do «pé para a mão», como se costuma dizer, mas, sobretudo, porque deixaríamos para trás outras apresentações, outros momentos, outros acontecimentos.

Por razões que não nos permitiram alterar, porque quando temos uma certa idade o tempo não passa só porque rasgamos a página do calendário e por outros compromissos assumidos, não nos deixam estar no próximo sábado de manhã em Vila Real de Santo António, onde o seu nome será eternizado, daí, estas linhas, que agradeço ao Jornal do Algarve, fazendo delas, o nosso meio abraço apertado ao Profff António Conquilha, que será completado e de igual modo mais apertado, quando breve nos reencontrarmos na Bila, no velho almoço do PICNIC, o nosso CLUBE DE SEMPRE, que nos ajudou a instituir a nossa própria identidade e paixão por Vila Real de Santo António. E neste cantar de parabéns ao António não podemos de igual modo deixar de fora, outra a vez a justa coragem de Álvaro Araújo e do seu Executivo, de não deixar para trás e para os outros, que jamais se lembrariam, ao perpetuar e honrar um dos nossos, o Prof. António Francisco…, tal como ontem em tempo distantes, foram distinguidos, por exemplo o Prof. Caldeira e o GRANDE ILÍDIO SETÚBAL.

Parabéns, António. Parabéns, António Conquilha…

Uma nota dentro deste tempo: António Francisco, o Profff António Conquilha, no dia 13 de Maio, de 2023, Dia da Cidade, foi homenageado pelo Município, com a Medalha de Mérito Profissional, teve o primeiro reconhecimento da CM de VRSA.

(1) Filipe Manuel Rodrigues dos Santos – 2015 – Dissertação elaborada com vista à obtenção do grau de Mestre em Gestão do Desporto

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