Só um pouquinho de futebol

Campeonatos da Europa (ou Mundo) de futebol, eleições e barracas como a das gémeas brasileiras não têm como se fugir; mesmo que não queiramos vamos encontrar reportagens, paineleiros e opiniões nos diferentes programas e noticiários do nosso amado cantinho. Sobre o futebol, são horas e horas de entrevistas aos portugueses que estão na Alemanha, os que foram para a Alemanha e os que ainda hoje, data em que vos escrevo e jogamos contra a Chéquia (nome horrível) saem para a Alemanha, numa carrinha com quarenta anos, pintada de fresco, à pala de entradas e patrocinadores, que são, habitualmente a oficina que lhes arranjou um motor seminovo com provas dadas, e o que vier é de ganho. Como lhes confessei atrás, estive a ver o Áustria – França e depois de ouvir João Malheiro, o comentador mais chato de todo o arco televisivo (temos que nos pôr em dia com as modas da dicção), tive dúvidas que tivéssemos visto o mesmo jogo de futebol. Para ele tinha sido muito bom, para mim foi um aborrecimento (aborrecimento médio, mas aborrecimento), em que para ver o equipamento dos guarda-redes tive que me esforçar para não adormecer entre o jogo a meio campo, confuso e arreliador. Mal vai o futebol quando olho para o jogo e não percebo quem está a ganhar, todos jogam igual e muitas das vezes os que perdem continuam a defender e os restantes a fazer que atacam.

Chamam-lhe sentir o jogo, mas o que vejo é que falta o que seria normal, por exemplo para quem está a perder, o de serem emotivos, só para vos dar um exemplo. Mas não, quando olhamos com atenção, tudo o que se vê parece-me demasiadamente cerebral, um lugar onde a intuição (por exemplo entre os treinadores), está arredada da competição. Vejam-se as declarações de um comentador de galinheiro, que afirmou, perante uma equipa que perdia a dez minutos do fim e que tinha trocado um defesa por um avançado, que podia ficar “desequilibrada”. Aliás o horror dos comentadores (muitos deles treinadores desempregados, por isso mais importantes são as suas declarações) é o que chamam jogo “partido” ou “na vertigem” para vos pôr a par da novilíngua desportiva e que significa, mais ou menos, que as equipas finalmente começaram a jogar para a frente. Estas novas modas que sobram no futebol, também se fartam de fazer vítimas para onde olhemos, como por exemplo a do uso industrial da palavra “vivenciar” (era o caso duma aldeia que estava a “vivenciar”, o ambiente dum jogo de futebol) que ainda não percebi por que veio, com pompa e circunstância, substituir “viver”, talvez porque esta malta agora pense que as palavras apenas podem ter um significado. E numa incursão por profissões de gente que vai à televisão, percebi o aumento consistente de pessoas que são “criadoras de conteúdos”. Espero que os criem em cativeiro, porque é muito investimento para depois – o conteúdo – abalar.

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