Vamos consagrar Zé Aranha (I)

...CONTRA A DEPRESSÃO...

A crónica que seguidamente irei fazer deslizar ao colo do meu Remate Certeiro, diga-se em duas prestações, com o título: Vamos consagrar Zé Aranha – hoje segue a primeira de duas ou três prestações, tem mais de 40 anos e foi escrita num tempo em que estava muito longe de vir a saber que iria publicar dois livros, quanto mais, mais de uma vintena, mas com sorte, sempre a sorte, até me aconteceu, escrever prolongados factos da vida de Zé Aranha, como por exemplo o livro Zé Aranha – repentista – A Sabedoria das Palavras, com Prefácio do grande António Rosa Mendes e com o apoio da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António.

Salpicos da vida de Zé Aranha. Zé Aranha a Sabedoria das Palavras

Zé Aranha, cujo livro foi um contributo para a história da oralidade, mas as Escolas do Algarve, incluindo as de Vila Real de Santo António e a Universidade do Algarve não sabem, é a história de vida de um sábio tão apetecido, que até foi espaço literário escrito por gente ligada ao mundo Académico, que enganados por outros, escreveram sobre Zé Aranha, como quem mutila os princípios do conhecimento.

Ora, até foi por estas e por outras, que um dia até andei meio enleado, porque alguém, outra académica, tinha descoberto em mim um devastador copiador, onde até me trataram como cobarde. Não faz mal, ainda cá estou e com a mesma inocência de sempre, coisas simples, a quem ninguém passa diplomas…é pá, onde é que eu já vou, até me apetece dizer, «me deve ser do calmaço» que por aí anda…

A crónica, a tal crónica, com o título acima anunciado, que pode ser lida nas páginas 156, 157 e 158 do livro Bancadas Vazias – Memórias de Um Tempo de Rádio (RDP – Rádio Algarve, vários anos de crónicas, que foram difundida aos microfones da Rádio Algarve, um parenta muito chegada, mas pobre da Antena I, onde durante uma mão cheia de anos fui figura presente, com contratos assinados mês a mês, não pensassem eles, que pelos 1.600$00 escudos que recebia por mês, viesse a dar o salto para a BBC, sem avisar ninguém.

O título da crónica, Bancadas Vazias, que até fez história e na rua até me chamavam pelo nome da crónica, que em 1992 passou a livro, então apresentado sob a presidência do Prof. Joaquim Vairinhos, Presidente da Câmara Municipal de Loulé, no Marina Hotel, diga-se, naquela época o mais marcante hotel de Vilamoura, mas que devido a estratégias comerciais e conflitos de interesses passou a chamar-se Tivoli, (coisas dos Salgados) e hoje já nem sei como se chama…

Bancadas Vazias, Memórias de um Tempo de Radio (RDP – Rádio Algarve, que insere Zé Aranha, nas páginas 156,157 e 158

Bancadas Vazias foi uma crónica de sucesso, desafiante, tratando os bois pelos nomes, diga-se, ao tempo, uma crónica revolucionária, que tinha na ironia e na jocosidade, um arrepio que entrava pela alma dos ouvintes. Era uma crónica que andava na rua, ainda que por vezes com roupa velhinha, mas sempre lavadinha e asseadinha, isto é, sem manchas…

Sim, Bancadas Vazias foi um sucesso, uma crónica atrevida, que o digam o Luís Livramento e o Luís Costa, gente que trilhava o profissionalismo mais exigente ao serviço da RDP. Crónica que era publicada à sexta-feira ao cair da tarde e que mais tarde, passou a ser transmitida no sábado ao meio-dia. Crónicas, muitas delas, arrumadas no improviso, – de tal forma, que quando publiquei o livro tive que andar em busca de sons guardados um pouco por toda a parte – estivesse em que parte estivesse do País ou do mundo. Quando era em directo, o Luís Costa, dizia-me sempre:

-Neto Gomes, tens que falar um bocadinho para o Pacifico Brandão (aí que saudades) confirmar se estás a chegar bem.

Pois um dia, directamente de Paris, comecei a falar como experiência dizendo:

-Aqui estamos no Aeroporto de Faro, numa altura em que acaba de chegar sua Santidade o Papa, acompanhado da mulher e dos filhos…

Depois, fez-se um prolongado silêncio…

E eu, num dos outros lados do mapa, numa pastelaria preparado para mastigar un baguette, ainda dizia:

-estou, estou… posso começar… segundos que pareciam horas:

-Neto, ó Neto…

-Diz! Luís.

-É pá, mas que grande barraca….

-Mas o que foi?

-É pá! o Pacifico pensava que era já a crónica e colocou no ar, tu a dizeres que Papa acabava de chegar…!

Agora o silêncio de horas era o meu… Depois, a minha resposta…

-Luís. Luís Costa! vai correr tudo bem, a minha crónica de hoje é sobre o Zé Aranha, que pintava pardais de amarelo e vendia aos ingleses como se fossem canários.

-Vamos lá…
O que está feito está feito, acrescenta o Luís Costa, para depois disparar:

Esperamos que não haja barraca… Podes começar…

E VAMOS CONSAGRAR ZÉ ARANHA, vai começar:

«Se fosse vivo diria «que me entrou água na casa da máquina».

Quem não se lembra dele? Zé Aranha, que nunca entrou em jogos florais. Penso que toda a gente te conhece Zé! Mesmo os que te vão descobrindo de geração em geração. Os doutores, os engenheiros, os pescadores, os «carroceiros», como se diz lá para os nossos lados.

A guarda-fiscal, os polícias, os juízes, a drogaria Faísca, o Zé Tacão, o Sebastião «Ratita», que um dia foi operado e só tinha moedas no estomago. Se não te conhecessem eu diria: – «Foi o homem que vendeu um pássaro coxo. Foi o homem que pintou um pardal de amarelo. Que chamava ao dinheiro arame. Que dizia para o Chefe da Polícia: – «Que merda de policias tem você aqui, que até têm medo de vir sozinhos para o posto?» Ou então à pergunta de «me acompanhe ao posto» ele respondia: – «à guitarra ou à viola»

Nasceu e morreu em Vila Real de Santo António, mas poucos assumiram o respeito que se lhe deve como grande figura popular. E se existem buracos, cantos, ruas estreitas, torneiras, fontenários e galinheiros, para não falarmos em avenidas, jardins ou escadas com nomes de pessoas que nada fizeram por Vila Real de Santo António, que raio seria exigir demais, que pelo menos a mais pequena sala do futuro lar da 3.ª idade ou centro de dia se possa perpetuar com o nome de «Zé Aranha?»

Não se pede uma estátua ou um museu. Não se pede, nem bandeira, nem hino, pede-se apenas, num tempo em que não existe cão ou gato que não tenha um nome, um local que contemple a memória do Zé Aranha.

O Zé Aranha ainda percorre o País. Ele é a alegria e o respeito em muitos serões. E basta a recordação da 1.ª anedota. Do 1.º canto. Da 1.ª história, logo a noite inteira se cumpre com um verdadeiro ciclo: Zé Aranha.

Um dia como todos os seres humanos o Zé Aranha morreu e a sua urna foi aos ombros da polícia. E era no tempo em que a polícia, já ao tempo «pela lei e pela grei» antes de falar dava logo em cima da malta. Só que o Zé Aranha era uma figura tão popular que toda a gente o amava. Ao dinheiro chamava arame.»

Ficamos por aqui, sem remorsos, porque como o sol, o Zé Aranha voltará na próxima semana. E se for eu a falhar, arranjem Zé Aranha – repentista – A Sabedoria das Palavras, que o ABC ou o OLX ou lá como se chama, deve vender a um tostão furado.

É o País, onde existe gente que nunca conheceu o Zé Aranha, porque ELE, o homem que fez um mastro em aparas a olhar para uma sopeira, nunca chegou a uma pomposa feira do livro. O Zé Aranha, também gostava mais dele, tal como era, sem desvios, nem ódios, como eu conheço, nuns quantos ELES e numa quantas ELAS, tão mamíferos, que já velhos/as, continuam a mamar, em qualquer mama. Venha lá esta lei da corrupção, mas atenção, que existe gente que assinou a tal peditório para a mudança da justiça, sem valores, nem moral.

Consultem os papeis na Biblioteca Nacional…

E como terminava, cada BANCADAS VAZIAS: «Então, até para a semana, se ainda nos deixarem andar por aqui…»

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