Saúde: Gabinete de curiosidades

Salvador Santos
Salvador Santos
Salvador Santos, nasceu em Chaves, no ano de 1979. Vive no Algarve desde os quatro anos. Frequentou o curso Estudos Portugueses na Universidade do Algarve. Foi editor na Sul, Sol e Sal. É autor dos livros de poesia «Selvagem» e «Cartographya»

Dizer que o Algarve evoluiu e que o governo central não percebeu – ou não reagiu a essa alteração demográfica, económica e social – começa a ser uma espécie de jargão que se atira para cima da mesa em qualquer ocasião. Um argumento que serve todo o tipo de discussão. E, na verdade, difícil será encontrar uma área da governação onde o estado central tenha antecipado necessidades, suprimidos deficits, tratado o Algarve como parte do todo nacional. E, nesse aspeto, é de justiça que se refira que o Algarve não tem mais razões de queixa do que outras regiões periféricas do país.
Se o Cristo Rei fosse o «Governo» o horizonte do seu olhar seria os seus próprios pés. O que isto pode ter de razão e substância não iliba os algarvios e os que se relacionam com a região, de responsabilidades na condução do seu destino. Muitas vezes, o discurso contra o centralismo é apenas uma narrativa que visa isentar a lassidão das estruturas regionais, a fragilidade do tecido económico e social, e, seguramente, a mediania da sua representação política.

Aproxima-se o verão e, no Algarve, a população multiplica não se sabem bem por quanto. Sabemos que as filas aumentam nas estradas e no supermercado. Os prédios vazios tornam-se um, ruído insuportável de gente a bater portas a todas as horas do dia. Aumentam as confusões, os acidentes, os roubos. Na restauração os preços sobem. Para a praia, sobretudo, durante o dia. Para os passeios marítimos, bares e discotecas, à noite. As estimativas indicam que o número de pessoas no Algarve, durante o período
de férias, triplica.

Ninguém vai para as férias doente ou com expetativa de adoecer. No entanto acontece. E para quem tem necessidade de recorrer ao SNS as expetativas não são as melhores. As camas nos hospitais não aumentam. Os médicos, enfermeiros e outros auxiliares de ação médica não triplicam.
As unidades hospitalares continuam as mesmas. E, não deve ser segredo para ninguém que os médicos também tiram férias e que muitos preferem gozar os seus dias de descanso nos meses de verão.

Sobre as coisas da saúde cá no burgo adianto umas observações dispersas, parcelares, avulsas que sem o efeito de conjunto, ainda assim, permitem uma aproximação ao seu quadro real. De um gabinete de curiosidades sobre o SNS no Algarve poderia constar informações como aquelas que a seguir se descrevem.

A expetativa da existência do Hospital Central, desde 2008, tem impedido o investimento nas unidades atuais de Faro, Portimão e Lagos.
A gestão da Unidade Local de Saúde do Algarve (ULSA) está centrada apenas nas necessidades de manutenção. Não tem havido orçamento para investimento e os cerca de 39 milhões de euros que vão ser investidos na ULSA não foram da responsabilidade do governo. Resultaram, isso sim, do trabalho conjunto com a CCDR Algarve e a Universidade do Algarve, via Faculdade de Economia. Até 2020 a ULSA só contava com uma candidatura a fundos da União Europeia na área da digitalização.
A ULSA arrecadou cerca de 4 milhões de euros de doentes tratados no SNS e que, perante a gratuitidade do sistema, entenderam doar equipamento ao hospital.
Em Lagos, o hospital privado passou para o Serviço Nacional de Saúde.
A colaboração entre a ULSA e a Universidade do Algarve traduz-se, ainda, em coisas de pequeno valor – próteses, sistemas de comunicação, auxiliares – mas muito significativas para os doentes.

Quem tem estudado os assuntos da saúde pública aconselha a ULSA a reforçar a ligação à investigação e ao conhecimento. Falam na necessidade de planeamento e visão estratégica.
Alertam para as especificidades do Algarve e para a necessidade de adequar a oferta à sazonalidade da região.

Deixe um comentário

Exclusivos

Pescadores envelhecem e jovens não querem continuar a arte do mar

A ligação do país e da região ao mar é, indiscutivelmente, uma das marcas...

Investigadores algarvios fazem história na Antártida

Pedro Guerreiro, João Brazão e Rita Costa foram os escolhidos para representar o Centro...

Procura pelas cantinas sociais tem vindo a aumentar

As primeiras cantinas sociais na região algarvia surgiram em junho de 2012, com a...

Isilda Gomes: “Lutarei em qualquer parte pela defesa da região”

JORNAL do ALGARVE (JA) - Em 2013, quando assumiu o primeiro mandato, disse ao...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.