“Sempre houve pessoas racistas em Portugal, mas agora assumem-se” – Carlão

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O cantor Carlão diz que sempre houve racistas em Portugal, mas a extrema-direita “abriu portas” para que se assumissem, notando, no entanto, que há movimentos contrários e que o país é seguro para imigrantes.

“Essas pessoas existem, são muitas, mas as pessoas do bem são muitas mais”, disse o músico, que atuou nas comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas, em Angola.

O músico criado em Almada, que foi apresentado pelo embaixador português em Luanda, Francisco Alegre Duarte, como um símbolo pujante” do Portugal moderno e de cultura mestiçada, diz que sempre houve racismo em Portugal, mas o aparecimento de certos atores políticos abriu portas “para que as pessoas se assumissem”.

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Deu como exemplos Trump, Bolsonaro e políticos da extrema-direita europeia “que dizem barbaridades e não são punidas por isso”, o que ajudou a que muitas pessoas se sentissem à vontade para falar.

“Essas pessoas sempre foram racistas, sempre foram xenófobas, agora acham que têm essa legitimidade”, comentou o artista, afirmando que, se por um lado é bom saber quem são essas pessoas, porque “já mostraram a cara”, por outro “é muito assustador porque não é uma luta limpa”.

Carlão

Carlos Nobre, o Pacman dos Da Weasel, agora mais conhecido como Carlão, assinalou que a extrema-direita “mente descaradamente e deturpa factos”, apontando o Chega que “mente todos os dias”, mentiras que atraem os menos informados o que é “muito perigoso”.

Destacou, no entanto, que se registam também movimentos que contrariam esta tendência, notando que logo depois das eleições que deram 50 deputados no Parlamento ao Chega, se registou uma enorme afluência nas comemorações do 25 de abril “como não havia há muito tempo”.

Questionado sobre se ser imigrante hoje em Portugal apresenta riscos, admite que os movimentos de extrema-direita vieram tornar a agressão “corriqueira”, mas considera que Portugal não se tornou inseguro.

“Quando as pessoas estão descontentes, por várias razões, agarram-se àquilo que têm e está ali uma pessoa a alimentá-los com mentiras e vão atrás”, disse o artista, contestando afirmações associadas à emigração como a falta de segurança, o roubo dos empregos ou o viver à custa dos subsídios.

A ascensão de partidos como o Chega, mas não só, mostrou que “há muitas pessoas xenófobas e racistas e com medo da emigração, com medo da diferença, homofóbicos, sexistas, machistas, há essa gente toda, mas muito mais gente que é completamente contrária a essas pessoas. As pessoas do bem vão prevalecer, não estamos nesse ponto em que não é seguro”, observou.

Nascido no Huambo, filho de emigrantes cabo-verdianos que depois se instalaram em Portugal em 1975, quando tinha apenas dois meses, Carlão confessa que não tem “uma ligação forte a Angola”, mantendo-se mais próximo das suas origens familiares de Cabo Verde.

“Os meus pais foram muito felizes aqui (em Angola), infelizmente tiveram de sair, foi uma altura complicada. Acho que da próxima vez que cá voltar tenho de ir ao Huambo, o sítio onde eu nasci”,

Sobre a Angola de hoje tem “muita curiosidade”.

“Acho que é um país com um potencial gigantesco, mas que ainda está a sair um bocado dessa tragédia da guerra que assolou durante muitos anos toda a gente. Isso marca gerações, não marca só a economia, as estruturas, mas a própria alma das pessoas. Angola sofreu muito e continua a sofrer. A esperança é que esse potencial venha a ser bem canalizado, bem aproveitado com uma sociedade justa para todos os angolanos”, almejou.

O vocalista dos Da Weasel, banda que fundou em 1993 e com a qual conheceu o sucesso, vendendo milhares de discos, expressou “felicidade” nestes regresso a Angola, país onde já tinha atuado em 2006, manifestando a vontade de voltar “noutras circunstâncias”.

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1 COMENTÁRIO

  1. O caro Carlão, que aprecio como cantor e é angolano de nascimento, saberá que, no seu país – desconheço se essa prática ainda é mantida –, o documento de identificação pessoal (vulgo, Bilhete de Identidade) continha (ou contém) um espaço destinado à referência da cor da pele do seu portador, se negra, se branca.

    Por outro lado, segundo testemunhas vivenciais que o têm sentido na pele, cidadãos portugueses têm sido alvo de tratamentos não muito curiais, para não dizer claramente ofensivos, com um razoável toque de agressividade, em Angola, por parte de angolanos, como por exemplo “o que é queres, oh branco ? “ e outros mimos do género …

    Talvez seja aconselhável, pois, sermos um pouco mais comedidos, quando apodamos, com o dedo tão ligeiro, os Portugueses de “racistas”, parecendo que todos os outros, designadamente, os africanos, são gente de mente imaculada …
    Talvez não seja bem assim, até, porque também os há – e num número não inferior – entre o próprio universo dos negros, face aos brancos.

    O mesmo se diga, quando se apodam os Portugueses de esclavagistas.
    Sem dúvida que o foram, porém, num contexto temporal e histórico completamente distinto do actual.
    Também, neste caso, os papagaios do costume da fauna “woke”, que o afirmam, revelam a sua aversão à verdade, omitindo que os Portugueses foram, em matéria de traficância de escravatura, verdadeiros meninos de coro, ao pé dos Árabes, esses, sim, os grandes negreiros, dos quais, curiosamente, ninguém fala …
    Igualmente, fazem por ignorar que, por esses tempos, vários foram os sobas que venderam muitos dos seus próprios súbditos para a escravatura.

    São verdades duras de ouvir, mas constantes dos registos históricos.

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