Com a aproximação do 25 de Abril é natural que surjam com alguma frequência publicações de histórias. Cinquenta anos é tempo para recordar memórias vividas por toda uma geração que sacrificou vidas, para combater um regime corrupto, sem liberdade, que perseguia com a prisão e morte a quem se lhe opunha. Num País pobre, em grande parte analfabeto, de baixos salários, de emigração a contas com a guerra por desacordo com os movimentos de libertação que se opunham a um regime colonial. Perderam-se tempos e vidas no longo processo de resistência que conduziu ao 25 de Abril vitorioso. Portugal aqui chega como o País mais pobre e atrasado da Europa. Ainda hoje pagamos as chagas de cinquenta anos de opressão e atraso.
Fraturas no Movimento Militar que deu origem ao derrubamento da ditadura surgiram logo após a libertação. O de maior expressividade com o General Spínola que passa de Presidente do MFA para formar um exército de mercenários que empreendeu ataques terroristas contra Partidos e forças democráticas, em particular o PCP, destruindo centros de trabalho, perseguindo e matando quem se tinha oposto à ditadura. O envolvimento popular que rodeou e apoiou desde a primeira hora o movimento militar, retirou base de apoio à acção terrorista em cuja origem estava ideologicamente o propósito de impedir o avanço das conquistas obtidas das liberdades, de termo às guerras coloniais, da nacionalização de empresas estratégicas, de combate ao latifúndio. A sua derrota conduziu o seu principal responsável à saída do País evitando assim ser julgado por actos terroristas.
Recentemente na origem de uma investigação jornalística descobre-se que Marcelo, Presidente da República, condecorou em segredo a meio do ano anterior Spínola com a Ordem da Liberdade, o que traduz o carácter de quem não honra o cargo que o 25 de Abril criou e a Constituição consagrou.
Em poucos dias no exercício da governação para que foi eleito, tendo como base de apoio dois deputados, o PM, Luís Montenegro, mentiu aos portugueses quanto à baixa do IRS propagada aos quatro ventos e agora se descobre reduzida a uns trocos face ao efectivo aumento do IRC em benefício das grandes empresas. O assunto é de tal gravidade que até mesmo o director do Expresso foi obrigado a vir a público pedir desculpas por ter publicado uma notícia falsa sobre tal matéria, assunto agendado para discussão e clarificação esta semana na AR, tal comportamento nas suas consequências acentua a ideia de que este governo não tem condições para governar.
Com a ascensão da direita ao poder vão saindo do armário figuras e teses do mais retrógrado. Uma delas recente com a apresentação por parte de Passos Coelho de um livro sobre a família de onde se extrai a ideia de um regresso ao passado no plano de direitos conquistados pala mulher no plano da liberdade e do seu relacionamento com a sociedade, procurando reduzir, condicionar e mesmo impedir, comportamentos que estão longe do que pretendem, voltando a reduzir o papel da mulher ao tratamento em casa de marido e filhos. A sociedade evoluiu a uma velocidade que não comporta comportamentos censórios sobre a vida de cada um, assentes num modelo que tem muito de Deus, Pátria e Família. Amplos extractos da grande burguesia para além de conservadores são sobretudo reacionários.
Acentuam-se, com razão, ideias de estarmos a viver num Mundo no qual tudo pode acontecer num curto espaço de tempo. A palavra e os desejos de Paz estão cheios de hipocrisia. A desinformação sobre cada um dos cenários de conflito tornou-se um dado natural tendo como exemplo próximo a retaliação do Irão ao ataque de Israel à sua Embaixada em território Sírio. Ao comum de nós chega-nos somente a informação fabricada pela NATO sem controvérsia porque se ignoram, goste-se ou não, a existência de outros povos e países e as suas motivações, como as de acusar sem provas a Rússia de todos os males, a ponto de planear uma guerra contra toda a Europa. Por muito que me afaste do seu regime, recuso-me a ser tratado como atrasado mental por parte das várias agências especializadas em moldar comportamentos e à propagação de notícias falsas.