Continua presente a grande afluência popular às comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Com maior expressão na manifestação em Lisboa, mas também de grandeza no Porto, as nossas maiores cidades, espalhando-se por todo o País em diversos actos com formas diferentes mas sempre integrados no mesmo objetivo. A direita no seu conjunto nunca se mostrou adepta da data e da expressão que teve na vida do País, quer da forma e do conteúdo que pelo envolvimento popular que seguiu ao golpe militar, o transformou numa revolução. Este ano foi visível nas comemorações oficiais a ostentação arrogante de ministros ou deputados ao não exibirem como símbolo o cravo vermelho, recusando-se mesmo a cantar a canção que serviu de senha para o avanço das tropas para Lisboa.
Ta onda revivalista em que a direita se encontra assente num negacionismo que alimentado pela generalidade da comunicação social e nas diversas redes sociais, lhes dá suporte e esperança para uma alteração substantiva do regime democrático. Não se trata, só por si, de um regresso ao passado, para o qual não terão apoios suficientes, mas em recuos nas conquistas profundas que a Constituição plasma, em matéria de direitos políticos, sociais e culturais, na imposição de uma nova ordem, assente em valores que de alguma forma nos remetem para um passado sombrio.
Neste cenário a vida política e a situação do País tenderá para a degradação, quer em actos simples de governação, quer no debate político traduzido na propagação da mentira, do ódio, do medo, sintetizado pelas declarações de Montenegro quando acusa infundadamente o PS de estar aliado ao Chega, quer de outro modo, na recusa da Procuradora Geral da República, a dar explicações ao País sobre a inconsequência jurídica que deu suporte ao caso “influencer“ que dão nota da profunda crise em que se encontra a justiça, cujas consequências ditaram a demissão de um PM, e de um governo de maioria absoluta, por decisão do Presidente da República, o mesmo que perante um grupo de jornalistas estrangeiros decide decifrar o que em sua opinião se fundam as personalidades de Luís Montenegro e António Costa, actitude não só inqualificável como pouco honrosa para um Presidente que era suposto assumir uma posição reservada na actualidade política, que traz, de forma inusitada, para o debate político a complexa relação com as ex-colónias, transformando assim o seu mandato em conversas de café colocando para muitos, justamente, a interrogação de estar ou não, em condições físicas para cumprir os dois anos que lhe restam no cargo que ocupa.
A este quadro responderam os portugueses massivamente no apoio aos cinquenta anos do 25 de Abril, anos que criaram um País novo, democrático, progressista, apesar de todos os erros cometidos ao longo da sua governação, quer pelos diversos governos que por aqui passaram, quer na presidência dos vários órgãos do poder local.
Maio vai ser politicamente centrado nas eleições para o Parlamento Europeu que na sua história recente pouco motivaram o voto dos cidadãos. É bom lembrar que as últimas eleições foram ganhas pelo PS com 33,4% deixando o PSD na casa dos 21,9% em lista encabeçada por Paulo Rangel agora em funções de vice Primeiro Ministro. A este propósito tem bastante interesse seguir a extensa entrevista de Ângelo Correia ao Público de hoje (dia 29), quando se refere ao cabeça de lista da AD, Sebastião Bugalho, um rapaz que nem barba tem, que salta de “comentarista independente“ para encabeçar a lista da coligação de direita, ao referir-se que o que predomina “não é a essência mas a aparência“. Apoiante confesso de Passos Coelho, Ângelo traça o percurso do seu regresso à Presidência do PSD e com ela a de toda a direita, numa demonstração de quanto também está dividida em relação aos caminhos de futuro.