Da nossa Europa

Quero compreender a simpatia e, diria mesmo, paixão pela actual União Europeia que muitos dos meus companheiros de lides manifestam. Poder-me-ia convencer que é a que temos possível… e ficaríamos por aí!

Porém, acredito que me permitirão humildemente discordar.

Em primeiro lugar, por razões históricas crendo que o que se configura actualmente nada tem a ver com o que Jacques Delors intuía. Claro que tudo é mudança… mas creio que há princípios sem os quais tudo caminha para o vácuo… [E aqui permito-me abrir parêntesis apenas para algo que me ultrapassa – o morticínio das crianças pelos Israelitas em Gaza e o papel “exemplar” da tal “actual Europa“]! Claro que também aqui haverá uma explicação e eventual desculpa desde que se parta do princípio que esta Europa é a Europa possível na actual conjuntura política.

E, a seguir, não podemos deixar de dar o salto que nos levará mais longe… e que nos custa a aceitar e que Israel na sequência da Ucrânia demonstrou.

A tal Europa porque almejamos passou a ser um protetorado dos USA… passou a ser o seu cimento e helas! a Nato. E isto numa altura histórica em que os USA como potência imperial começavam a dar sinal de alguma instabilidade apesar do seu imenso poder militar.

A actitude da chamada Europa é, indesculpável ou pior execrável. Já, creio ser mais difícil dar o passo seguinte no sentido de assumir que em última análise são os USA os grandes responsáveis pelo genocídio de Gaza… mas é só questão de mais um “esforçozinho”.

Mas viremos a página para a Ucrânia.

E aí as divergências já vêem de mais longe. Quero apenas focar-me no papel da, repito, “nossa” Europa desde o início do conflito até à desgraça actual e ao que se perspectiva.

Em primeiro lugar não posso deixar de lembrar… quando ainda no início do século séc. XIX Goethe aquando da sua viagem à Itália constatava sem margem para dúvidas que havia duas Europas, uma do norte e outra do sul (v. Goethe-Viagem a Itália) que, aliás nos últimos anos bem constatamos inclusive pelo claro domínio nas decisões fundamentais da Alemanha e dos seus aliados mais próximos e de que todo o Sul foi exemplo e em particular a Grécia que tentou ultrapassar as marcas e ainda hoje paga por isso… aliás como nós em menor escala.

Tivemos assim, claramente, sempre duas Europas e em que nós nos limitamos e orgulhamos de ser o melhor aluno da turma para não levar reguadas e assim fomos andando “cantando e rindo”… cavaquistica e soaristicamente mais ou menos desafinados!!!

Até que surgiu a Ucrânia em 2021 apesar de ter dormido sobre tantos prolegômenos. E, então, soaram as campainhas… mas não de, cá dentro, preocupados ainda como sempre com o próprio umbigo.

Mas… Afinal quem é que manda nisto?”

Teria sido tão lindo sentarem-se todos à mesa, dialogarem com um bom almoço e champanhe abraçarem-se todos e dizer: Finalmente somos todos amigos e irmãos!!!

Só que isso nunca aconteceu… apesar de algumas tentativas bem intencionadas… E porquê?… Porque os interesses e não só económicos, também políticos, não coincidiam de forma alguma… e o mundo não é estanque… tudo é mudança!

Pois é… A Ucrânia e aqueles terríveis putinistas que afinal passaram a ser um grande perigo vieram trazer mais um problema que até então se tentou ignorar e que só quem não olhava para o mapa (essa ignorância da geografia!) desconhecia ou melhor a que não convinha dar importância já que os “negócios” do tal mercado que em última análise é quem decide lá estavam a comandar.

Permitam-me duvidar que nas cabeças das nossas experts leaders da tal Europa houvesse espaço para o historial relativo a ilha da Crimeia ou muito menos o “pedaço” de terreno entre a Ucrânia e a Roménia chamada Transnistria… e muito menos porquê.

Na verdade houve sempre duas Europas e muito distintas .

O que hoje acontece é o habitual… a fuga para a frente que se chama Ucrânia e que só é possível graças a um cimento muito duvidoso chamado NATO… é esse o busílis… como cada vez mais se configura. Os nossos “amigos” americanos e os seus dólares não estarão muito interessados noutra coisa!

A hoje ainda designada por União Europeia passará a ser a U.E.O.T.A.N para satisfação da Sra Van der Lein e seus acólitos… e passarão a existir, já não duas, mas três Europas sem sabermos ao certo onde acabam.

E, recentemente, tudo parece, como se fosse possível, agudizar-se com uma nova VDL ainda mais aguerrida e “militarizada” a comandar as tropas.

Mas… será tão difícil perceber que tudo é pouco para evitar um conflito que culminará sem qualquer dúvida numa catástrofe terrível para a Europa existente e talvez para o mundo tentando ignorar p.ex. as já mais que suficientes dramáticas alterações climáticas? Será que esta gente à semelhança dos leaders israelitas, e não só, e tantos outros por aí dispersos não entendem que este mundo está por um fio… ou melhor, diria… a sobrevivência humana incluindo eles próprios e os seus próximos? Será que nem têm tempo para pensar e, muito menos, preocuparem-se com isso? Será que vão ao extremo de se convencerem que os progressos tecnológicos, fruto da concentração do capital nos USA e OTAN, em empresas de ponta em tempo útil lhes permitirá ultrapassar por influência divina todo este caos?

Ou será… Que todos não somos demais para, já hoje, denunciar com toda a força o que está acontecendo e lutar com todas as forças por algo justo que contribua para a paz e, em última análise, um mundo onde pelo menos tenhamos esperança em ver crescer os nossos filhos e netos?

A importância da dita Europa será fundamental nos próximos tempos para, em última instância, manter a vida no planeta Terra. Mas também o caminho tem que ser todo outro, muito diferente e que já não resta muito tempo! E isso vai ser muito importante mesmo na nossa política interna em que a esquerda terá necessariamente de “limar” divergências e, calculo, essa será uma das principais!

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