CRÓNICA DE FARO: Dr. Santos Pereira, a gratidão devida!

O voto de pesar aprovado por unanimidade na Assembleia da República traduz o respeito e o apreço que, pelo país fora, é tido essa figura incontornável de médico, benfeitor e cidadão, recentemente falecido e que foi um trabalhador incansável pela saúde, com evidência para a especialidade da oncologia na região do Algarve, o sempre lembrado Dr. Alberto Fernandes Santos Pereira. Fundador e presidente da AOA (Associação Oncológica do Algarve) foi, “contra ventos e marés” e “o poder instituído” o principal obreiro da criação da Unidade de Radioterapia do Algarve, além de muitas outras iniciativas e melhorias objetivando os algarvios ou aqui residentes e vítimas do cancro, numa dedicação de pertinazes décadas a esta nobilitante e solidária causa.

O Dr. Santos Pereira contava 80 anos de idade e nascera em Angola (concelho de Robert Williams, no Huambo), havendo-se licenciado em 1965 na Faculdade de Medicina de Lisboa e trabalhado antes de se radicar em Faro (Novembro de 1978, como cirurgião do então Hospital Distrital, onde criou a Consulta e o Núcleo de Seneologia e desempenhou vários cargos, desenvolvendo os mais diversos trabalhos científicos).

A sua meritória ação foi reconhecida em 2012 pelo Ministério da Saúde ao atribuir-lhe com a maior justiça e a mais alta dignidade a “Medalha de Grau Ouro”, como “reconhecimento da importância do trabalho desenvolvido ao longo da sua vida profissional em prol do Serviço Nacional de Saúde, pelas suas excecionais qualidades humanas, altruísmo e ética, atestadas por todos aqueles com quem partilhou a sua vida profissional”.

Foi em 1994 que o seu espírito benemérito de homem bom, generoso e dedicado ao seu semelhante, o levou a constituir a Associação Oncológica do Algarve, formada por cidadãos voluntários com experiência profissional de problemas associados ao cancro, como IPSS (Instituição Privada de Solidariedade Social) sem fins lucrativos e com propósito de lutar contra esta malévola doença e apoio ao doente oncológico para além da prestação do apoio social e humano a estes doentes e da promoção da respetiva integração na comunidade. Graças à sua determinação e empenho entrou em funcionamento em 2005 a Unidade Móvel para Rastreio do Cancro da Mama, a qual percorre todos os concelhos do Algarve, vocacionando-se de modo próprio para a efetivação de mamografias a mulheres do grupo alvo que se situa entre os 50 e os 69 anos de idade.

Ao sempre lembrado benemérito Dr. Santos Pereira se deve também, em 2006, com o apoio de fundos comunitários (Interreg III-A) e dos municípios, o impulso e a criação da Unidade de Radioterapia do Algarve, hoje da maior valia a população oncológica algarvia. Falta construir o que era um dos seus grandes sonhos – a “Casa da Duna”, local de abrigo para quantos doentes vêm de toda a região à capital sulina efetuar os tratamentos. Tornar esse belo sonho em realidade é o monumento maior de gratidão a este benfeitor de milhares de algarvios, a propósito de quem o meu amigo e “vizinho” João Faustino escreveu, aquando do infausto acontecimento que foi a sua morte: “Se há pessoas que não deviam morrer o Dr. Santos Pereira era uma delas”.

João Leal

 

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