67 anos. E agora… Jornal do Algarve?

Salvador Santos
Salvador Santos
Salvador Santos, nasceu em Chaves, no ano de 1979. Vive no Algarve desde os quatro anos. Frequentou o curso Estudos Portugueses na Universidade do Algarve. Foi editor na Sul, Sol e Sal. É autor dos livros de poesia «Selvagem» e «Cartographya»

A celebração de mais um aniversário do Jornal do Algarve não obriga a que se recue ao seu «ano zero». No entanto, pouco prejuízo resultará do esforço de tentar perceber se as razões que determinaram a sua existência ainda são as mesmas. Se continuam válidas as premissas iniciais e se a sua própria existência, enquanto órgão de informação, ainda se justifica numa região, também ela, 67 anos mais velha. E, sobretudo, num mundo em que nas últimas décadas parece ter avançado muitos séculos e prescindido do jornalismo enquanto instrumento fundamental da democracia.

Na primeira página há três assuntos que chamam a atenção do leitor. No artigo «A Influência da Província em Lisboa» invoca-se o desinteresse com que se encarava em Lisboa as pretensões e necessidades do país que sobrava da capital.

O tema não é novo e mantém-se na atualidade. Passou mais de meio século, houve uma mudança de regime, e, nem essas causas, calaram as vozes que se insurgem contra o abandono da região pelo poder central e contra o pouco peso político dos representantes eleitos pela região.

À época, e perante a evidência de que Lisboa era constituída por gente da província que não devia ser tomada por ingrata pelos seus patrícios, assumia-se que o problema radicava na complicada máquina de Estado e no emaranhado de embaraços burocráticos que demoravam e obstaculizavam as soluções por força da sua complicada engrenagem.

Determinada a causa não se colocava de parte, um ou outro caso, em que interferiam os interesses pessoais e o esquecimento de alguns provincianos, em Lisboa, da terra onde nasceram. «A Mais Extensa Cidade do Mundo» aparece, também, em caixa alta, a tutelar a margem direita. A propósito de uma gravura de Faro o artigo estende-se em considerações sobre o uso extenso que fazia do topónimo Algarve quando se tinha como destino um lugar em concreto na região. «O nosso litoral é a mais extensa cidade do mundo».

A ideia de que uma identidade maior se sobrepunha às especificidades locais e, por isso, não tinha escrúpulo em imaginar as várias povoações algarvias como uma única cidade espraiada, é aquela conceção que ainda hoje determina a defesa de áreas metropolitanas como antecâmara da regionalização. Aqueles que ainda hoje olham para a região e, não obstante as pausas e recuos.

No artigo «A Nossa Riqueza Corticeira» é chamada a atenção para a importância do porto de V.R. S. António de onde saem anualmente milhões de toneladas para todo o mundo. Hoje a cortiça da região tem um impacto residual na economia. O Porto de VRS António perdeu relevância comercial.

É na economia que se encontra uma das diferenças mais significativas entre o Algarve de 1957 e o Algarve de 2024. As distâncias que há entre um e outro deve-se ao Turismo e ao peso que este ganhou no tecido económico da região.

O contributo da indústria turística regional para o Produto Interno Bruto é o argumento mais forte que o Algarve leva para a mesa das negociações com a administração central.

67 anos depois do primeiro número do Jornal do Algarve ter saído, em plena ditadura, das máquinas da Gráfica do Sul, o Algarve não é o mesmo. Mas as diferenças que se devem à democracia que resultou da revolução de Abril, à integração do país na União Europeia, e às alterações profundas na economia, e na sociedade, que resultaram da exploração intensa das potencialidades turísticas da região não apagaram as velhas reclamações, as mesmas dores que persistem tantas décadas depois. Por razões diferentes agravaram-se distâncias, criaram-se novos desafios e aflições. Do urbanismo à mobilidade a região continua deficitária e a precisar de ser pensada. De divulgação as coisas locais e de instrumentos de agregação dos algarvios dispersos pela grande cidade litoral e das comunidades que entretanto fizeram do Algarve o lugar para trabalhar e viver.

«Servir o Algarve». Foi essa a missão que presidiu à fundação deste jornal.
Ontem, como hoje, o mesmo propósito. E também agora a Luísa Travassos poderia dizer, com a mesma propriedade com que José Barão redigiu o primeiro editorial, que o interesse material está fora dos cálculos «tão incerto ele é».

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