A carta das fortificações militares de Ayamonte,
de Sande Vasconcelos

Um interessante relatório de espionagem setecentista

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Como é de conhecimento geral, a cartografia constitui uma fonte de considerável importância a nível da investigação histórica. De facto, a cartografia militar, mais do que representar fortalezas, fortes, baterias, aquartelamentos e outras estruturas da Arquitetura Militar, faculta informações altamente pertinentes de natureza geográfica, topográfica, corográfica, estatística e hidrográfica das regiões representadas. No que respeita ao séc. XVIII, tem vindo a ser estudada a cartografia de alguns engenheiros militares mais destacados, nomeadamente, de José de Sande Vasconcelos. Porém, e apesar dos esforços realizados no decurso dos últimos anos, a obra de Sande Vasconcelos está longe de se encontrar devidamente estudada na sua globalidade, continuando a existir considerável número de trabalhos pouco considerados e nunca sujeitos a análise. Um excelente exemplo é, desde logo, a pouco conhecida carta de Ayamonte produzida por este engenheiro militar.

De facto, ainda que este documento sem título tenha sido publicado em obras como “Las operaciones militares de la Guerra de las Naranjas en la desembocadura del Guadiana”, de José Paulo Ribeiro Berger, ou no Volume II de O Real Archivo Militar – Cronologia História e Documental, de José Eduardo Caixaria, não podemos afirmar que o mesmo tenha sido sujeito a qualquer apreciação crítica. Com dimensões na ordem dos 63 cm de comprimento por 48 cm de altura, este documento à guarda do Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Militar da Divisão de Infra-estruturas do Exército (81-1-8A-96) revela ser uma carta de grande interesse histórico e artístico, onde o então “Sarg. mr. Jozé de Sande Vas.cos” apresenta detalhadamente os “Fortes de Ayamonte”, nomeadamente, o antigo castelo, o designado “forte novo”, ou o Baluarte das Angústias, a que este engenheiro militar se refere como “Forte da paçagem”. Uma vez que a presente carta não está datada, a questão que de imediato se coloca é, desde logo, a que período corresponde. A informação disponibilizada pela Biblioteca Digital do Exército remete esta carta, de forma genérica, para os anos de 1700. Porém, não só os dados biográficos do autor como também as particularidades caligráficas e estilísticas do documento permitem determinar com alguma segurança uma balizagem cronológica mais precisa.

carta fortificações J Sande Vasconcelos
Carta das fortificações militares de Ayamonte, de José de Sande Vasconcelos. GEAEM-DIE, 81-1-8A-96

Como podemos confirmar através dos vários contributos que têm vindo a clarificar a vida de José de Sande Vasconcelos, este engenheiro militar foi destacado para o Reino do Algarve aquando da execução do Plano de Restauração concebido pelo Marquês de Pombal. De facto, foi em 1772 que Sande Vasconcelos foi colocado no Reino do Algarve “para nele assistir, exercitando o seu emprego na forma que exercita o Sargento-Mor Romão José do Rego”, participando activamente na edificação da Nova Vila de Santo António de Arenilha, logo em 1774. De resto, o seu profícuo trabalho encontra-se profusamente atestado pela quantidade e qualidade de produções cartográficas relativas a esta vila régia voltada para Espanha. Tal como anteriormente escrevemos em Vila Real de Santo António na cartografia militar de José de Sande Vasconcelos à guarda do Arquivo Histórico Municipal ARM/VRSA, contabilizámos aproximadamente vinte trabalhos produzidos em apenas dois anos, entre 1774 e 1776.

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Ora, naturalmente que a escolha do terreno para a construção da nova vila régia da foz do Guadiana não foi acidental. De facto, a eleição do terreno só aconteceu depois da prospecção in situ realizada pelos engenheiros militares, que escolheram um local que não estivesse ao alcance da artilharia espanhola, principalmente, das bocas-de-fogo que muniam a torre almenara de Canela e do Baluarte das Angústias. É nesse sentido que a carta das fortificações militares de Ayamonte, de Sande Vasconcelos, se apresenta como um interessante relatório de espionagem onde se encontram discriminas informações relevantes para a edificação da nova vila pombalina. Note-se que o autor representa as fortificações ayamontinas sem sequer considerar o urbanismo civil que encontramos detalhadamente representado na cartografia de engenheiros militares espanhóis seus contemporâneos, como Juan Cavallero, que em 1772 produziu o Plano de la Plaza y Castillo de Ayamonte, segun el Estado en que existen el presente año…(A.G.M.M. 2108177). Aliás, a forma minuciosa como Sande Vasconcelos representa o Baluarte das Angústias, que denomina de “Forte da paçagem”, é manifestamente representativa dos objectivos geo-estratégicos que motivaram a produção deste documento, principalmente quando este engenheiro militar discrimina detalhadamente a localização das canhoneiras, dos aquartelamentos dos soldados e do oficial da guarda, a entrada da fortaleza ou o local “chamado da paçagem: aonde também se dezembarca”.

Representação do uniforme dos engenheiros do exército português, após as reformas militares do Conde de Lippe de 1764. Divisas de los Regimientos de Infantería y Caballería del Reyno de Portugal, fl. 34. B.N.E., MSS/10043

Parece-nos evidente, portanto, que o discurso informativo produzido por Sande Vasconcelos tinha uma dimensão manifestamente estratégico-militar e que este documento cartográfico terá sido produzido, aproximadamente, entre 1774 e 1776, período durante o qual esteve a trabalhar na construção da vila pombalina. De resto, a carta das fortificações militares de Ayamonte, de Sande Vasconcelos, remete-nos, a nível do estilo, dos recursos cromáticos e da caligrafia, para outras obras produzidas durante este breve mas profícuo período, como a carta topográfica do termo de Santo António de Arenilha (I.G.P., C.A., Nº 259) e sua respectiva explicação (PT/AMVRS/CMVRS/640-643) – ambas produzidas em 1775 – ou as designadas “manobras militares”, produzidas aquando das festividades da fundação de Vila Real de Santo António, em 1776 (PT/AMVRS/CMVRS/1222-26). Muito mais haveria a dizer sobre este documento cartográfico cujo estudo permanece inédito. Importa, no entanto, concluir para já que a carta das fortificações militares de Ayamonte, de Sande Vasconcelos, constitui um interessante relatório de espionagem representativo da estratégia militar portuguesa aquando da edificação de Vila Real de Santo António, o símbolo da afirmação política, militar e económica do Estado português face ao Estado Espanhol na foz do Guadiana.

*Historiador

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1 COMENTÁRIO

  1. “Reino do Algarve”, sempre “Reino do Algarve”, até à implantação da República, em 1910.
    Os estudos sobre a nossa província do Algarve não são muito numerosos.
    A província pode ser analisada, segundo dois pontos de vista: o social (entenda-se, genético) e o territorial. É o que procurarei fazer, nesta análise.

    Embora sejam factos que carecem de confirmação histórica mais acurada, alguns autores sustentam, com forte verosimilhança, terem ocorrido apreciáveis migrações humanas, a partir da zona do Sáara (do ár. “ṣaḥārā ”, deserto), por volta do sexto milénio a.C., para todo o Sul da Europa, relacionadas com o avanço da desertificação para Norte e consequente diminuição das zonas de pastagem para o gado, devido ao desaparecimento gradual daquela que fora uma zona húmida e fértil, com florestas tropicais, até há cerca de 10 mil anos, aquando do final da última Glaciação, algo que, hoje, quase nos custa a crer, quando, no mesmo local, vemos o maior deserto quente do planeta.

    O clima, onde é, hoje, o Sáara era tão diferente que alguns estudos revelaram que o Rio Nilo corria, antigamente, para o Oceano Atlântico, em vez de desaguar no mar Mediterrâneo. Essa alteração terá sido decisiva na criação de condições necessárias para o nascimento da Civilização Egípcia.

    Mercê do contínuo avanço do deserto, terá ocorrido, há 4.500 anos, nova vaga africana, esta de etnia berbere, a que hoje chamaríamos magrebina, que atravessou o Estreito de Gibraltar para se instalar na Península Ibérica (PI) e no território que, hoje, é Portugal, marca africana, em termos genéticos, que caracteriza boa parte dos Portugueses, designadamente, os do Sul do país.

    Quer os eventos históricos acima referidos, quer a invasão muçulmana, mais perto de nós, com início em 711 e especial incidência temporal, no Alentejo e Algarve, durante vários séculos, abonam – defendem alguns autores –, em favor da tese da origem norte-africana do chamado “homem alentejano”, assim como de boa parte do algarvio, designadamente, a população da serra, sedentária no seu torrão sáfaro durante muitos séculos – até, “grosso modo”, cerca de meados do século passado –, além da dos humildes pescadores artesanais, que davam vida às praias do nosso Algarve e víamos, amanhando as redes, enquanto as fixavam, esticando-as, peculiarmente, com o dedo grande de um dos pés, sentados na areia.
    Esta era gente franca, sã e solidária, que bem conheci, cujo modo de vida se encontra, hoje, em vias de extinção, pela acção massificadora de um turismo, que tornou totalmente incaracterística a nossa província.
    A pesquisa, através do exame genético, é um valioso aliado, que poderá ajudar na clarificação histórica destas hipóteses.

    Os cientistas apontam, como causa da desertificação do Sáara, alterações mínimas do ângulo que o eixo da Terra mantém, em relação ao do Sol. Estas alterações têm a ver com o Movimento de Precessão (MP), que o eixo do nosso planeta executa, nas suas translações, à volta do astro-rei.
    Trata-se de um movimento giroscópico lento, gerado pelo pólo norte do eixo terrestre.
    Precessão – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

    No caso daqueles que, eventualmente, o desconheçam, suponho que o jogo do pião da nossa infância seja um bom exemplo para explicar no que consiste o MP.
    Quando lançávamos o pião ao solo e o púnhamos a girar, o seu eixo, animado pela força inicial do lançamento, girava na vertical, apontando para um ponto único do céu.
    Porém, ao fim de algum tempo, quando a energia que tínhamos imprimido ao lançamento diminuía, o pólo norte do eixo do pião começava a descrever voltas, apontando para várias partes do espaço, até que, por fim, se imobilizava.
    O movimento circular que o pólo norte do eixo do pião descreve, quando perde força e vai apontando para várias partes do céu, é semelhante ao MP que o nosso planeta executa, ao longo dos movimentos de translação, à volta do Sol, com a única diferença de que, no exemplo do pião, são inúmeras e rápidas as voltas (ciclos) que este dá, ao passo que, no caso do MP do nosso planeta, falamos de ciclos extremamente lentos, cada um dos quais tem a duração aproximada de 25.800 anos, pelo que é necessária que outras tantas transacções ocorram, para que se cumpra um único ciclo do MP.
    A duração da Precessão só não é mais precisa, porque é influenciada pelo movimento das placas tectónicas.

    A tal ponto é lento cada ciclo do MP que, como todos sabemos, a Estrela Polar, para a qual o pólo norte geográfico do nosso planeta agora aponta, se tornou uma referência segura e “imutável” (entre comas) que tem orientado os viajantes marítimos e terrestres, nas suas deslocações, ao longo dos tempos históricos.
    Porque “imutável” (entre comas) ?
    Porque essa imutabilidade é ilusória e provém apenas do nosso curto horizonte temporal de vida.

    Como assim ?
    Escrevi atrás que o MP carece de cerca de 25.800 anos para completar um único ciclo.
    Se nos imaginarmos, ainda na Terra, daqui a metade do ciclo do MP, isto é, dentro de cerca de 12.900 anos, o mesmo pólo norte do eixo terrestre estará a apontar, não já para a Estrela Polar, mas para outro ponto bem diferente do firmamento celeste: a Estrela Vega, uma bela estrela que integra a Constelação de Lira.

    Darei ainda um outro exemplo: enquanto o pólo norte do eixo terrestre aponta, actualmente – vamos supor – para a direita, face ao eixo do Sol, daqui a metade do ciclo do lentíssimo MP estará a apontar para a esquerda.
    Obviamente, entre as duas metades, irá apontando para várias zonas da abóbada celeste.

    Dito de outro modo, a Precessão é a lentíssima rotação giroscópica do pólo norte do eixo terrestre, em torno do pólo da Eclíptica, causada pela interacção gravitacional entre a massa da Terra e as do Sol e da Lua.
    O que ocorre é que, ao mesmo tempo que, ao longo de cada ciclo, o pólo norte do planeta vai apontando para partes diferentes da abóbada celeste, zonas diferentes da Terra vão sendo expostas, diferentemente, às radiações solares. Daí, fenómenos muito lentos como o que observamos na desertificação crescente do Sáara, que poderão ser glaciações, noutros locais. É, pois, no âmbito do lento MP, que exige quase 25.800 anos para completar um único ciclo, durante o qual o ângulo do eixo terrestre vai registando pequenas alterações de graus, igualmente muito lentas, face ao eixo do Sol, que compreenderemos o motivo pelo qual o movimento de desertificação do Sáara, assim como outros eventos climáticos, se têm arrastado e evoluido, ao longo de milhares de anos, factos que não devem ser confundidos com as actuais ocorrências, bem mais rápidas, provocadas pelo chamado “aquecimento global”.
    No âmbito do MP, pode, eventualmente, ocorrer que o que é, hoje, o deserto do Sáara retorne à exuberância de fertilidade e humidade que já o caracterizou.

    Esta minha introdução tem também a ver com o Algarve que hoje existe, designadamente, com as eventuais migrações humanas ocorridas e com o tecido social que compõe, actualmente, as suas gentes.

    Procurarei agora focar a perspectiva da análise para as vicissitudes históricas, por que passou o que é hoje o território algarvio.
    Como se sabe, o Algarve marcou, desde sempre, em termos territoriais, uma posição distinta, em relação ao resto do que viria a ser Portugal, mesmo já no âmbito do domínio muçulmano.

    Numa muito breve retrospectiva para procurar enquadrar, historicamente, o percurso da nossa província, sabemos que a Abu Bakr, primeiro califa do nascente império muçulmano e sogro de Maomé, se seguiu o governo da família dos Omíadas (661 – 750), que muda a capital de Medina para Damasco (Síria).
    Foi nesta dinastia omíada que os exércitos islâmicos estenderam o poder à Península Ibérica.
    Porém, em 750, uma rebelião liderada por Abul-Abbas acabou com a dinastia omíada, tendo sido todos assassinados num banquete, com excepção do príncipe Abderramán, que fugiu para a PI, onde se refugiou.
    Na decorrência do fim da dinastia omíada, emergiu, assim, a dinastia dos Abássidas (750 – 1258), cuja capital seria mudada de Damasco para Bagdad (Iraque).

    Todas estas lutas sem tréguas entre muçulmanos tinham (continuam a ter) como pano de fundo o antagonismo entre SUNITAS (os que se reclamam da ortodoxia, ligados à tradição e herdeiros de Maomé, sendo que o termo tem origem na palavra “sunna”, que significa “caminho percorrido”, numa referência às experiências do Profeta) e XIITAS (os que defendem que a linhagem legítima deve provir de Ali, o genro do Profeta Maomé).
    As duas grandes facções historicamente opostas foram, pois, durante largos séculos, os OMÍADAS (xiitas) e ABÁSSIDAS (sunitas).

    Na sequência da fuga para a PI, o príncipe omíada Abderramán – o único omíada que logrou escapar da armadilha do banquete – torna a península independente do poder abássida, deixa de obedecer a Bagdad e instaura nela um Emirado com capital em Córdova, assumindo o título de Abdarramán I.
    Mais tarde, em 929, um seu descendente, Abderramán III, haveria de se autoproclamar como califa omíada, dando origem ao Califado de Córdova (929 – 1031), o qual dominou a quase totalidade da PI e marcou a época de maior esplendor do al-Andalus.

    Porém, devido a lutas intestinas e étnicas entre as próprias facções islâmicas, designadamente, entre tribos árabes (provenientes da península arábica) e tribos berberes (originárias do Magrebe), instala-se a anarquia total e o brilhante e, dantes, poderoso Califado de Córdova perdeu o fulgor e foi balcanizado em pequenos reinos independentes, as “taifas”, circunstância divisionista aproveitada pelos reis cristãos para intensificaram a Reconquista.
    Uma das “taifas” em que foi dividido o Califado de Córdova era a de Silves (a Xelb mourisca).
    Silves era, nesse tempo, uma cidade esplendorosa de grande importância, sob o ponto de vista cultural e económico – a que não era estranho o Rio Arade desassoreado e navegável – e capital do reino do al-Gharb muçulmano, cujo território se estendia de Coimbra às actuais fronteiras algarvias.

    Refira-se que, curiosamente, D. Afonso Henriques nunca chegou a pisar as terras do actual Algarve.
    Coube ao seu filho, D. Sancho I, essa honra, tendo, em 1189, conquistado Silves – que, ao tempo, fazia parte do Califado Almóada, posto que, nesta altura, todo o al-Andalus se achava unificado sob o seu domínio e passado –, pelo que este rei, pela primeira vez, passou a usar, alternadamente, nos seus diplomas, as fórmulas “Rei de Portugal e de Silves” ou “Rei de Portugal e do Algarve”.
    O único motivo que pode justificar esta nova designação prende-se com a tradição peninsular de agregar ao título do monarca o das conquistas efectuadas.
    Assim, por exemplo, os Reis de Leão e Castela eram também “Reis de Toledo, de Sevilha, etc.”.

    A primeira conquista de Silves, por D. Sancho I, pouco durou, visto que, dois anos depois, em 1191, os Muçulmanos reconquistaram a cidade, após o que o rei deixou de usar o título de “Rei de Portugal e do Algarve”.
    Haveria de ser D. Paio Peres Correia quem a reconquistaria, definitivamente, para os Portugueses, em 1242, no reinado de D. Afonso III.
    Seria no reinado deste rei, em 1250, que se conquistaram definitivamente as fronteiras do Algarve de hoje.

    Apesar de D. Afonso III ter efectuado a sua conquista, havia um senão: o Rei de Castela, Afonso X, considerava que o Reino do Algarve lhe pertencia, já que o Rei do Algarve, Musa ibn Mohammad ibn Nassir ibn Mahfuz, lhe prestava vassalagem.
    Esta situação gerou algum mau estar entre os vizinhos ibéricos, com ambos a reclamar soberania sobre esta região do sul de Portugal.
    Então, no âmbito das proverbiais soluções “cozinhadas” pelas famílias reais, foi decidido que D. Afonso III casaria com D. Beatriz de Castela, filha de Afonso X, para formar uma aliança e, deste modo, resolver o assunto, de uma vez por todas.
    Contudo, só em 1267, com o Tratado de Badajoz, é que D. Afonso X fez do seu neto, D. Dinis, futuro rei de Portugal, herdeiro do trono do Algarve.
    Diz-se que D. Afonso X tinha um carinho muito especial pelo neto D. Dinis e que para isso contribuiu decisivamente a sua decisão.

    Séculos mais tarde, em 1415, as conquistas do norte de África levam a que os territórios de “além-mar” passassem a fazer parte do que passou a ser designado por “Reino dos Algarves” (agora, no plural, já que existia o “Algarve de aquém mar” ou Algarve propriamente dito e o “Algarve de além mar”, que integrava os territórios africanos conquistados aos mouros e as ilhas descobertas no oceano).
    Note-se, porém, que nunca nenhum rei português foi coroado ou saudado como sendo apenas “Rei do Algarve”.
    No momento da sagração, era aclamado como “Rei de Portugal e do Algarve” (até 1471), e, mais tarde, como “Rei de Portugal e dos Algarves” (a partir de 1471).

    Já D. Manuel I não fez por menos e passaria a intitular-se, após o regresso de Vasco da Gama da Índia, em 1499, como “Pela Graça de Deus, Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves, d’Aquém e d’Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.”

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