Água vai, Água vem!

Salvador Santos
Salvador Santos
Salvador Santos, nasceu em Chaves, no ano de 1979. Vive no Algarve desde os quatro anos. Frequentou o curso Estudos Portugueses na Universidade do Algarve. Foi editor na Sul, Sol e Sal. É autor dos livros de poesia «Selvagem» e «Cartographya»

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Uma viagem por alguns títulos.
Fagar diz que aumento do preço da água em Faro reflete regras do regulador (JA, 16.03.2023)
Seca. Algarve vai ter cortes até 25% no consumo de água (Rádio Renascença, 17.01.2024)
AMAL diz que medidas para a seca são “equilibradas”, mas pede que não se adie solução (JA, 18.01.2024)
Seca no Algarve: aumento do preço da água e outras medidas impostas pelo Governo (Público, 20.02.2024)
Autarcas do Algarve recuam e já não vão subir preço da água: “Foi a interferência da politiquice num desígnio regional”. (Expresso, 22.02.2024)

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Uma das nossas particularidades está na forma como o Algarve se anula nas tensões entre o Eu e o Nós. Como a ambição dos municípios em se sobrepor à força do conjunto anulam um espírito de corpo e se cancelam a eles próprios nesse movimento de superação do coletivo.

O caso das medidas de mitigação da seca são exemplo disso. Num primeiro momento todos os municípios coincidiram na necessidade de tomar medidas contra a seca e deram acordo às medidas propostas pelo governo.

Embora se saiba a origem do problema, ela foi exposta em sede da AMAL, ninguém se quis comprometer com uma reflexão que possa interferir no modelo de desenvolvimento da região e obrigue a redefinir as atividades económicas que se harmonizem com os seus recursos hídrico. Desejar isso era demais, confesso. No entanto, perante um cenário de calamidade, seria de supor que pelo menos em medidas temporárias como o aumento, ou não, dos preços da água houvesse consenso.

E se esta indefinição, a incapacidade de consensos, é já de si odiosa ainda somos obrigados à incoerência e ao oportunismo de paróquia.

Em 2023, a Fagar, decidiu – e não foi por nenhum imperativo de interesse público – aumentar a água.

Justificou-se com as regras do regulador. Se a vereação municipal foi contrária ao aumento significativo que os munícipes passaram a suportar as reações foram tão ténues que poucos as terão ouvido.

No entanto, não deixou de manifestar a sua solidariedade com os consumidores perante a intensão do governo de rever as tarifas de abastecimento de água em baixa. E a posição não seria motivo de crítica se tivesse entendido que o procedimento da Fagar, foi, como agora são as medidas do governo, «uma injusta e injustificada decisão para com os munícipes que representa».

A escassez de água, entre nós, não é uma realidade nova. No entanto, poucas terão sido as vezes em que a sua falta ameaçou tanto o equilíbrio regional. E, porque antecipar é sempre mais difícil do que reagir, foram-se protelando obras e medidas até que a realidade ameaçou verdadeiramente a população e os interesses económicos.

E, uma vez mais – como em tantas outras coisas em que é necessário pensar e agir em função da região – o governo desgovernado dos feudos algarvios não foi capaz de defender, a uma só voz, os interesses regionais. Perante a divisão e os vários entendimentos sobre a resolução do problema da falta de água na região o governo central fará o que entender. E se não souber pode sempre recorrer aos autarcas do Norte ou do Alentejo.

Eles saberão, certamente, o que mais e melhor convém aos algarvios.

3

A água modelou, ao longo de milhares de anos, a civilização, no mediterrâneo. Em poucas décadas o sul da península ibérica, assente num modelo de desenvolvimento onde a agricultura intensiva e o turismo são esteios da base económica, está a inverter esse paradigma. Neste momento parece que é a “civilização” que se prepara para modelar a água.

Já a política, ou o oportunismo político, esse modela-se e é modelado sempre por interesses sectários e mesquinhos. Em denegação dos valores democráticos e em oposição ao bem comum.

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