Algarve foi anfitrião de uma das noites mais mágicas da gastronomia

Primeira Gala Michelin em Portugal realizou-se em Albufeira

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Pela primeira vez, Portugal foi anfitrião de uma gala do Guia Michelin dedicada exclusivamente aos talentos e sabores nacionais. O Algarve foi o local escolhido para receber um dos eventos gastronómicos mais importantes do mundo, que aconteceu esta terça-feira, dia 27, em Albufeira. O JA esteve presente numa noite repleta de emoções, glamour e claro, boa comida.

Durante a cerimónia, apresentada por Catarina Furtado, foram anunciados os novos premiados, resultado de um ano de trabalho da equipa internacional de inspetores, que percorreu o país de ponta a ponta à procura das experiências diferenciadoras.

Ao todo, a região volta a contabilizar sete restaurantes “estrelados” – dois deles com 2 estrelas e os restantes com uma. Entram ainda para a lista de “restaurantes recomendados” o restaurante Noélia, em Cabanas de Tavira, e o Numa, em Portimão.

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Os holofotes da gastronomia mundial voltaram-se para o que se passa em Portugal, que não para de elevar o seu nível culinário.

Os restaurantes portugueses distinguidos no Guia Michelin Espanha e Portugal 2024 foram anunciados ontem à noite, no Palácio de Congresso do Algarve, na primeira gala exclusivamente nacional e que vai tornar-se um evento anual, segundo a publicação, que até à edição de 2023 anunciava os premiados numa cerimónia conjunta entre os dois países.

A seleção de 2024 inclui um total de 167 restaurantes, dos quais 39 são Estrelas Michelin (oito de duas estrelas e 31 de uma estrela), 32 são Bib Gourmand (prémio para gastronomia de qualidade a um bom preço) e 96 são Restaurantes Recomendados. Entre eles, há também cinco espaços distinguidos pela Estrela Verde, um galardão criado para premiar os restaurantes do Guia mais empenhados na gastronomia sustentável.

Entre os restaurantes premiados com duas Estrelas Michelin estão dois espaços localizados no Algarve – os repetentes Vila Joya (Albufeira), do chef Dieter Koschina e o Ocean, com assinatura do chef Hans Neuner.

Com uma estrela destaca-se o Al Sud (Lagos, chef Louis Anjos), A Ver Tavira (Tavira, chef Luís Brito), Bon Bon (Carvoeiro, chef José Lopes), Gusto by Heinz Beck (Almancil, chef Libório Buonocore) e o Vista (Portimão, chef João Oliveira).

Este ano, três restaurantes não renovaram a estrela, entre os quais o “Vistas”, em Vila Nova de Cancela, devido à saída do chef Rui Silvestre, que transitou para o “Fifty Seconds”, em Lisboa.

Portugal continua sem ter a distinção máxima de três estrelas (um conceito que se caracteriza pela ideia de uma “cozinha única que justifica a viagem”).

Gwendall Poullennec, diretor internacional do Guia Michelin, salientou que a cerimónia foi “um momento histórico que reflete o nosso desejo de dar a Portugal e ao seu panorama gastronómico o seu próprio momento de celebração e exposição e ilustra também a qualidade do panorama gastronómico”, salientou.

Gwendall Poullennec

Segundo o responsável, os inspetores da Michelin “têm observado como o cenário da culinária local se tem desenvolvido e elevado o nível”, atenta.

“Reconhecido originalmente pela sua cozinha tradicional baseada nos excelentes produtos locais, ou pelos seus restaurantes de elevada qualidade em famosos hotéis, o panorama gastronómico está a atravessar um período de desenvolvimento, diversificação e prosperidade gastronómica memorável”, afirmou Poullennec.

“Esperamos que a seleção encoraje qualquer gourmet, desde o local ao internacional, a visitar o país, enquanto estimula o desenvolvimento sustentável do panorama gastronómico local”, destacou o diretor internacional do Guia Michelin.

“Abertura ao mundo” da gastronomia portuguesa

O diretor internacional do Guia Michelin apontou a “abertura ao mundo” como uma característica que distingue o panorama gastronómico português, destacando a evolução “muito promissora” do setor.

“Se se comparar com outros destinos, aqui o que é único é a abertura ao mundo. Há sempre chefs internacionais em Portugal e chefs portugueses que viajam pelo mundo e, depois, regressam a casa e usam produtos locais, inspiram-se na herança das receitas tradicionais, mas são criativos, são ousados”, vincou.

A evolução é “impressionante”, destacou Poullennec, quando há 50 anos o país tinha quatro restaurantes com uma estrela.

“Hoje temos 10 vezes mais e tudo tem vindo a acelerar na última década, com uma mudança significativa”, referiu o diretor. Se no passado a maioria dos restaurantes distinguidos pelo guia se encontravam no Algarve, sublinhou, agora há “estrelas e bons restaurantes em todo o país”.

Questionado sobre o facto de Portugal nunca ter conquistado a distinção máxima, de três estrelas, Poullennec respondeu: “Ainda.”

Presença das mulheres na gastronomia “deve ser incentivada”

O diretor internacional do Guia Michelin defendeu também que a presença de mulheres na gastronomia deve ser incentivada, sem que seja encarada como “um preconceito”, e destacou que há cada vez mais protagonistas femininas no setor.

O responsável mundial da publicação salientou que “há muitas mulheres, mesmo de nível três estrelas, a serem galardoadas com o prémio Michelin, o que não se deve ao facto de serem mulheres, mas sim ao seu talento”.

Durante a cerimónia, e quando ainda não se conheciam os resultados, o ministro da Economia, António Costa Silva, disse que gostaria muito de ver uma mulher a ser distinguida com uma estrela Michelin, o que acabou por não acontecer.

Ainda assim, o Guia distinguiu, como ‘jovem chef’, Rita Magro (restaurante Blind, Porto), e há seis mulheres nos 21 restaurantes recomendados, entre as quais a chef Noélia Jerónimo, do restaurante Noélia (Cabanas de Tavira) e duas entre os oito classificados como Bib Gourmand (boa relação qualidade/preço) deste ano.

Foi com muita emoção que Noélia Jerónimo recebeu a distinção de “Restaurante Recomendado”

Sustentabilidade é “o grande mantra” do turismo

Presente na cerimónia, o ministro da Economia, António Costa e Silva, advertiu que as empresas serão julgadas, no futuro, pelo seu compromisso com a sustentabilidade, e que é “o grande mantra” do turismo.

“O turismo, com o grande mantra de apostarmos na sustentabilidade dos destinos, das empresas e das suas práticas, está no coração da experiência gastronómica do país”, afirmou António Costa Silva.

O governante deixou um alerta: “Não vamos ter nenhuma ilusão. As empresas vão ser julgadas sempre. Vai haver uma espécie de licença social para operar e no futuro vão ser julgadas pelo seu compromisso com a sustentabilidade”, disse, comentando que a gastronomia já assumiu esse compromisso.

O ministro salientou que o turismo em Portugal está a crescer exponencialmente, com um recorde de 30 milhões de visitantes no ano passado e receitas de 25 mil milhões de euros – números que representam um crescimento de 11 por cento nas visitas, mas uma subida maior (19%) nas receitas, “algo que nunca tinha acontecido”.

Razões para “defender uma vez mais a qualidade e importância deste setor, contra alguns detratores que continuamente tentam diminuir a sua importância para a economia nacional”.

Costa Silva destacou ainda que Portugal tem “dos melhores produtos gastronómicos” a nível nacional, como o peixe, o marisco ou o azeite, uma “combinação vitoriosa” que permite “reafirmar o papel da gastronomia e, em torno dela, toda a alavanca que cria para os outros setores”.

A noite terminou com um ‘showcooking’ elaborado pelos diferentes chefs que marcaram presença na gala, onde a criatividade foi a palavra de ordem.

Lista dos restaurantes que figuram no Guia Michelin Espanha e Portugal 2024:

Duas estrelas:

Alma (Lisboa, chef Henrique Sá Pessoa)

Antiqvvm (Porto, chef Vítor Matos)

Belcanto (Lisboa, chef José Avillez)

Casa de Chá da Boa Nova (Leça da Palmeira, chef Rui Paula)

Il Gallo d’Oro (Funchal, chef Benoît Sinthon)

Ocean (Alporchinhos, chef Hans Neuner)

The Yeatman (Vila Nova de Gaia, chef Ricardo Costa)

Vila Joya (Albufeira, chef Dieter Koschina)

Uma estrela:

2Monkeys (Lisboa, Vítor Matos e Francisco Quintas)

100 Maneiras (Lisboa, chef Ljubomir Stanisic)

A Cozinha (Guimarães, chef António Loureiro)

Al Sud (Lagos, chef Louis Anjos)

A Ver Tavira (Tavira, chef Luís Brito)

Bon Bon (Carvoeiro, chef José Lopes)

Cura (Lisboa, chef Pedro Pena Bastos)

Desarma (Funchal, Octávio Freitas)

Eleven (Lisboa, chef Joachim Koerper)

Encanto (Lisboa, chef José Avillez)

Epur (Lisboa, chef Vincent Farges)

Esporão (Reguengos de Monsaraz, chef Carlos Teixeira)

Euskalduna Studio (Porto, chef Vasco Coelho Santos)

Feitoria (Lisboa, chef André Cruz)

Fifty Seconds (Lisboa, chef Rui Silvestre)

Fortaleza do Guincho (Cascais, chef Gil Fernandes)

G Pousada (Bragança, chef Óscar Gonçalves)

Gusto by Heinz Beck (Almancil, chef Libório Buonocore)

Kabuki Lisboa (Lisboa, chef Sebastião Coutinho)

Kanazawa (Lisboa, chef Paulo Morais)

LAB by Sergi Arola (Sintra, chef Sergi Arola e Vladimir Veiga)

Le Monument (Porto, chef Julien Montbabut)

Loco (Lisboa, chef Alexandre Silva)

Mesa de Lemos (Viseu, chef Diogo Rocha)

Midori (Sintra, chef Pedro Almeida)

Ó Balcão (Santarém, chef Rodrigo Castelo)

Pedro Lemos (Porto, chef Pedro Lemos)

Sála (Lisboa, chef João Sá)

Vila Foz (Porto, chef Arnaldo Azevedo)

Vista (Portimão, chef João Oliveira)

William (Funchal, chef Luís Pestana)

Saiba mais sobre o Guia Michelin aqui.

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1 COMENTÁRIO

  1. Como se sabe, entre outros factores, como a composição edáfica dos solos, não é estranho à diversidade da gastronomia de um qualquer país a circunstância da latitude, pela qual se espraia o seu território, devido a que essa mesma latitude condiciona espécies vegetais diferentes, as quais, por sua vez, criam uma cultura gastronómica própria, em cada zona.

    Não é por acaso que um pequeno território, como é o nosso, devido ao modo como se estende o país, numa latitude de Norte a Sul, é, nesse aspecto, bafejado pela riqueza da diversidade de uma culinária extremamente variada e – já agora, acrescente-se – que também pede meças em termos da excelência da qualidade, na arte de fazer as delícias às papilas gustativas, bem ao contrário de muitas partes do nosso continente, onde, porventura, as duas primeiras saudades enumeradas pelos Portugueses lá emigrados, em relação ao seu torrão natal, são a Família e ,,, a comida !

    Dentro da excelência variada de todo o Portugal, que me perdoem as gentes do Centro e Norte do país, mas a gastronomia meridional prima, não só pela qualidade – de que dou como exemplo um bom “ensopado de borrego”, acompanhado por um Reguengos ou uma “carne de porco (preto) à alentejana com amêijoas (variedade japónica)” –, mas igualmente por um tipo de comida mais saudável, conhecida, universalmente, pela designação consagrada de “Dieta Mediterrânica” (pão, azeite e vinho).
    Seria injusto, contudo, não fazermos igualmente jus à generosidade da proverbial fartura e também qualidade das mesas nortenhas.

    No âmbito do pão, apesar da espectacular broa, perdoem-me, de novo, que não troque por nada o meu pão alentejano.

    Porém, se formos para a doçaria conventual, quem não foi ainda ao paraíso alentejano da degustação de um pão de rala, de uma encharcada, de uns papos de anjo ou, mais a Sul, dos magníficos bolinhos de amêndoa algarvios, de uma torta de alfarroba ou, ainda, dos Dom Rodrigos ?

    Quem não os apreciou ainda, verdadeiramente, não o deixe de fazer, pelo menos, uma vez na vida …

    P.S. – Permitam-me, para terminar, que não foram, não são nem serão as chamadas estrelas Michelin que vêm trazer mais qualidade à nossa verdadeira gastronomia tradicional, aquela que se come, gulosamente, nos restaurantes típicos modestos, onde – aí, sim – se faz a verdadeira homenagem à verdadeira gastronomia portuguesa.

    Por amor de Deus, não são pratos ridiculamente adornados com o recurso a pinças, repito, a pinças, que nos vêm ensinar o que quer que seja, a não ser para sermos espoliados de quantias exorbitantes …

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