O Algarve dispõe de mais dois bens patrimoniais classificados. Trata-se da Igreja e Hospital da Misericórdia, em Faro, e do Mercado de Escravos, na Praça Infante D. Henrique, em Lagos.
A classificação daqueles dois imóveis como interesse público foi publicada esta terça-feira em Diário da República, através das respetivas portarias assinadas pelo secretário de Estado da Cultura.
As classificações refletem os critérios constantes do artigo 17.º da Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro (Lei Base do Património Cultural), relativos ao caráter matricial do bem, ao seu interesse como testemunho simbólico ou religioso, ao seu valor estético, técnico e material intrínseco, e à sua conceção arquitetónica, urbanística e paisagística.
As zonas especiais de proteção dos monumentos agora classificados terá ainda que ser fixada por portaria.
Igreja e Hospital da Misericórdia (Faro)
A Igreja da Misericórdia foi levantada, a partir do último quartel de Quinhentos, no local da ermida manuelina do Espírito Santo, ligada ao hospital da mesma invocação, erguido após a transferência do centro urbano das Alcaçarias para a zona ribeirinha de Faro em 1499, constituindo um dos equipamentos fundamentais da reestruturação urbana da cidade medieval.
O antigo hospital quinhentista foi reconstruído pelo arquiteto genovês Francisco Xavier Fabri no início do século XIX, a par da reformulação neoclássica da fachada do templo, em cujo pórtico se conservam no entanto alguns elementos barrocos. O edifício anexo do hospital integra uma monumental galeria de arcadas redondas no piso térreo.
Na igreja, merecem ainda destaque a planta em cruz grega, caso ímpar na região algarvia, bem como a talha de grande qualidade do interior, nomeadamente o retábulo maneirista da capela -mor, os colaterais, barrocos, e o revestimento do arco triunfal, registando -se ainda algumas manifestações interessantes de imaginária, pintura e azulejaria dos séculos XVI a XIX.
A igreja conheceu uma recente campanha de restauro que possibilitou a abertura do templo a visitas públicas.
Mercado de Escravos (Lagos)
O Mercado de Escravos, datado de 1691, foi o último dos edifícios de apoio à praça-forte de Lagos a ser construído, integrando-se no contexto de racionalização dos recursos e de especialização dos espaços que deu origem à Oficina do Espingardeiro (ex-Quartel da Coroa, imóvel classificado como de interesse municipal) e ao vizinho Armazém Regimental.
A sua designação resulta do aproveitamento de um edifício quatrocentista que servira como venda de escravos, sobre o qual foram erguidas as acomodações seiscentistas do Corpo da Guarda.
Trata-se de um monumento de grande impacto urbanístico e um dos mais emblemáticos da cidade, constituindo-se em vértice da principal praça de Lagos, onde testemunha a umbilical ligação desta à empresa dos Descobrimentos e cristaliza, até à atualidade, a memória do local onde se instalou o provável primeiro mercado de escravos da Europa quatrocentista.
Para além do seu inegável valor histórico, o edifício do Mercado de Escravos detém elevada qualidade arquitetónica, concretizada no traçado racional, erudito e simétrico, e na harmoniosa composição de volumes da sua estrutura maneirista.