AVARIAS

A natureza humana

Afinal ganhámos. Estou-me a referir ao Dinamarca – Portugal. O futebol tem esta dependência do resultado, que ainda por cima tem muito de aleatório e que no fim o faz talvez o mais democrático dos desportos. Se a bola de Ronaldo não tem entrado, andávamos agora a discutir sobre a bondade da escolha de Fernando Santos. Assim, num minuto, se passou de segunda escolha para quase – herói. A piada do golo do Ronaldo é que vem na pior fase do jogador: na segunda parte acabara-se-lhe o gás, ou uma das variadas lesões que parece arrastar teria gritado “presente!”. Por muito que os treinadores façam a sua própria apologia e gostem de dourar a pílula, é no futebol que têm menos peso. Por se porem demasiadas vezes em bicos de pés (e também por custarem menos despedir que cinco ou seis pernas de pau) é que marcham quando os resultados são maus. Não são eles que gostam de fazer um grande reclame quando a equipa ganha? Então merecem ser despedidos quando perde. No futebol existe – ainda – muita contingência. Os outros desportos são mais complicados. O basquetebol é para gigantes, a ginástica para minorcas, a natação para jovens, o automobilismo para ricos, os saltos de grande altura para a água (cliff diving) para malucos, e assim sucessivamente. Por isso engalinho com os comentadores dos outros desportos que não o futebol, passarem o tempo a gozar com as grandes maquias que os futebolistas recebem, ao invés dos ginastas que treinam oito horas por dia para ainda terem que pagar os equipamentos. O desporto é assim mesmo. Por muito que nos custe, os futebolistas geram receitas como quase ninguém. Dizem-me: é chocante que recebam cem mil euros mês! Para mim é mais chocante que o administrador de uma empresa despeça trezentos trabalhadores enquanto perde milhões de euros por incompetência, e no fim ainda receba um prémio de produtividade mais uma comenda no dez de Junho. Claro que em Portugal se exagera. Para nós só há futebol e a seguir mais futebol. Lembro-me do entusiasmo que suscitava o basquetebol (só para lhes dar o meu exemplo) nos anos setenta e oitenta. Hoje o futebol é o grande eucalipto desportivo (não é só na política que os há) que seca tudo à sua volta. Ninguém quer saber mais nada de nada, e os nossos mais recentes representantes do atletismo, por exemplo, são apenas conhecidos por terem ido a duas olimpíadas e não terem passado das primeiras eliminatórias. Outro aspecto em que os comentadores do que quer que seja se referem em relação ao futebol em termos menos elogiosos é no fair play. Então os tipos do rugby são uns chatos: que um jogador disse ao árbitro que era ele quem tinha cometido uma certa e determinada falta que não foi vista; que aos matulões da País de Gales só falta serem vistos a colher malmequeres nas pradarias, tão sensíveis que são, etc., etc. O futebol às vezes não se recomenda, mas não gosto destes queixinhas institucionais sempre a pensarem que por baixo de um camisola da Nova Zelândia bate um coração inocente e bondoso. Acho que o que eles têm é dor de cotovelo! E um bocado de razão já agora…

Fernando Proença

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2 COMENTÁRIOS

  1. Olhem… reparem bem: esta conversa de apenas se gostar de futebol tem muito pouco a ver com o Boavista, mas também tem. E isto porquê, perguntará o meu amigo Proença, que eu não conheço de lado nenhum, mas nem por isso deixa de ser meu amigo virtual, se não, não escrevia aqui uma linha que fosse.
    Então é assim, para consubstanciar o discurso de hoje do amigo Proença: por acaso jogo ténis com o meu amigo Xavier que deixou pegada no basquetebol regional, mas que também praticou (tal como eu) artes marciais; o “meu” mecânico é um maratonista a quem eu lhe ofereço “camisolas técnicas” do Maratona Clube de Portugal, fornecidas por um dos directores, meu amigo de infância. Com efeito, apenas e só por estes dois casos, o Boavista não se enquadra nos parâmetros do senso comum vulgar. Mas que fique bem claro, de que o Boavista gosta de ver um desafio de futebol do seu Benfiquinha – mas bem-sentado na bela cadeira de respaldo; ou então da Selecção nacional, ou ainda e em alteranativa do Real Madrid, onde o Boavista tem um amigo (espanhol) nos serviços administrativos que dantes lhe arranjava umas borlas. E assim, o Boavista também aprecia uns bons torneios de snooker ou às três tabelas, e claro, umas boas manifestações televisivas de atletismo e de natação (do qual foi praticante no tempo do Yokoshi no Sport Algés e Dafundo [SAD])
    Fica assim apresentado o perfil desportista do Boavista, sem ficar por dizer que a sua escola de instrução primária tinha como recreio, um campo de basquetebol de terra batida, o famoso Cruz-quebradense. Portanto, desporto é cá com o Boavista.
    Quanto ao objecto do divertimento de hoje do amigo Proença acerca do Ronaldo, da selecção e do Fernandinho Santos, pouco temos para acrescentar, porque a coisa é assim, e sob o ponto de vista dicotómico do Boavista: se há coisa mais suja em termos de “desporto” essa é a do futebol, dominada por ignotos lobbys e pelos agentes dos futebolistas, sendo que, 98% deles acabam a sua carreira muito próximo da indigência, sem meios de sobrevivência. Logo o Boavista prefere não aprofundar demasiado a injustiça de quem escolheu praticar desporto, como forma de existir.
    Quanto ao desporto, por hoje estamos conversados, com a mágoa do meu Benfica ter enfeirado 3 golos no papo, pelo Braga, treinado pelo Sérgio Conceição que mandou o Olhanense às malvas. Mais ainda estamos acima da linha d´água.
    Carpe diem

    • O desespero e a mágoa do meu Benfica ter perdido era tão grande que até acrescentei mais um golo à sua derrota. (Braga 2 – Benfica 1)
      “Mas” ainda estamos acima da linha d´água.
      Carpe diem

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