AVARIAS: A má teoria

Dentro da minha cabeça sou de fazer conjecturas mas sem nada em que apoie, tirando como já disse, os meus pequenos pensamentos e grandes preconceitos. Uma delas – que vou passar a texto, pedindo que não me levem a sério – é a de que os russos estarão toda a sua vida e mais seis dias, ligados a regimes políticos retorcidos suportados por uma sociedade fortemente desigual, só porque – tudo isto feito a reboque do You Tube – a minha visão do país também se faz dos acidentes em auto-estradas, estradas e rios, reportados por russos com acesso a telemóvel. Não sei se sabem do que estou a falar, mas se tiverem dúvidas, façam as vossas consultas e vejam automóveis em contramão, acidentes aparatosos sobre estradas geladas, barcos com rumos miraculosamente alterados em rios e ribeiras mansas, tudo ao dispor de um clique. A minha ideia será que, pessoas que fazem aquelas manobras suicidas só explicadas por loucura, ingestão de grandes quantidades de álcool ou as duas condições em simultâneo, estão intimamente ligadas a regimes políticos de democracias incompletas, musculadas ou ditaduras de opereta. Estou a ser parvo? Provavelmente, mas confio que os meus quatros leitores não me vão subestimar nem sobrestimar, que nunca se pode dizer destas água não beberei, a menos que esta cheire a cloro. Juntamente com os russos também tenho as minhas teorias sobre norte-americanos ou espanholitos, nossos vizinhos, mas não “nuestros hermanos”, que os tipos, assim que podem, tratam de nos colocar mais baixos que a peseta. Apesar de todas as suas idiossincrasias (falar alto em restaurantes e de um modo geral em todos os locais públicos; não perceber a ponta de um corno vindo de um português mesmo que ele diga: “porque não te calas?”, quando devia ter hablado, “porque no te callas?”, que é como de depreende muito diferente etc. etc.) existe um facto surreal que mostra como os daqui do lado, são politicamente correctos avant la lettre: porque (que eu saiba) o seu hino nacional é o único que não tem letra. Mesmo assim, apaziguando à cabeça vontades nacionalistas, têm as chatices que têm. Será bem feito? E os americanos senhor? Aos camones, de tudo o que sofrem (hamburguerite aguda, amor desmesurado pela música country e uma notável ignorância pela geografia mundial entre outro sintomas de desinteligência), parecem adorar wrestling. Ora, a minha teoria da treta tenta relacionar a existência de uma parte (substancial?) do povo que adora a imbecilidade de uma luta, que só o é na cabeça das pessoas completamente – mal – infantilizadas, com a eleição de Donald Trump para a presidência do país. Não discuto nada do que os meus amigos terão como ponto assente ou possível: notáveis esquerdistas e democratas que gostam da luta livre americana; atrasados mentais do Ku Klux Klan, que abominam wrestling. Tudo isso pode pôr em causa a minha pequena e singela teoria. Mas a verdade é que continuo a pensar que só um povo (ou uma parte dele) que gosta de wrestling vota em Trump, assim como só os italianos que gostam futebol e má televisão podiam ter votado em Berlusconi.

Fernando Proença

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