AVARIAS: Daqui a nada é novembro e ainda visto calções

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Colaboradora. Designer.

Agora que a independência da Catalunha meteu férias (escrevo no Domingo, vinte e dois de Outubro), voltam as notícias avulsas, Trump, tufões no oriente e claro, o chamado rescaldo dos fogos. Há já associações de defensores da área ardida o que me parece um avanço em relação às associações culturais que se limitam a ter uma equipa de futebol. Ou não. Nos tempos que correm, fazer levantar o cú do sofá – em que comodamente os jovens e menos jovens do meu país se divertem, a ver um jogo da liga francesa entre o oitavo e o décimo primeiro lugares – para ir, com frio, assistir a um jogo da segunda distrital da Guarda, pode ser descrito como um acto de coragem. Também se pode dar o caso, de como vi acontecer durante um jogo do Porto Bê transmitido pelo fiel Porto Canal, muitos dos assistentes, estarem, jogo adentro, mais atentos aos telemóveis do que ao jogo propriamente dito. Antigamente as pessoas ficavam parvas a olhar para a televisão, havendo inclusive estudos que mostravam que bebés recém-nascidos, olhavam primeiro para um ecrã ligado (mesmo sem quaisquer imagens), do que o faziam em relação às pessoas. Existindo um problema com tal questão, que se vai agravando com a idade, o que se nota hoje é que as pessoas, em geral, vão ficando cada vez mais tolas a olhar para um ecrã; com a agravante de que hoje todos temos um ecrã. Deve pôr-se também o facto de podermos escolher o que queremos, sem dar cavaco (bater três vezes na madeira) a ninguém (excelente), conduzindo este acto a, no fim da linha, não haver mais ninguém além de nós próprios a ver o mesmo vídeo no you tube (não tão excelente, talvez mesmo uma treta). Como já muitos perceberam, antes de mim, isto vai estilhaçar, mais cedo ou mais tarde, a nossa ideia de comunidade. Eu corrigiria o texto para a seguinte forma: isso está a dar cabo da nossa ideia de comunidade.
Lugar ainda para a RTP 2, com boas fitas e boas séries. Sei que não passam lá apenas bons filmes e boas séries, mas a 2, será o espaço, no espectro dos canais de televisão, onde se pode encontrar amiúde (depois digam que não os avisei sobre o nível das minhas escolhas no que respeita a grandes palavras com pequenos significados) boas pérolas. Um destes dias vi Hannah Arendt, filme de Margaret Von Trotta. Focando a altura em que a filósofa fez a cobertura do julgamento de Eichmann, o filme dá bem a dimensão de Arendt como livre pensadora. A “banalidade do mal” que notou (a par das culpas dos dirigentes das comunidades judaicas na tragédia do povo judeu, durante a segunda guerra mundial) fez mais pelas interpretações dos totalitarismos que décadas de seguidismo acéfalo. Mesmo que tenha recebido a desconfiança dos intelectuais mais ligados a Israel, a autora sempre mostrou coragem na defesa dos seus pontos de vista e, talvez não andasse tão longe da verdade. O filme mostra-se escorreito a mostrar a biografada nesta fase, com algumas cedências mal explicadas (por exemplo a fase de Arendt como estudante), que não acrescentam grande coisa ao argumento. Vê-se muito bem, e não só como descanso da avalancha do mau cinema americano que nos afoga o cérebro.

Fernando Proença

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