Opinião de Fernando Proença
1 – Antes existia o futebol total: isso foi no tempo em que os animais falavam, as galinhas ainda não tinham dentes (viriam a tê-los anos mais tarde, para depois os perder, situação que ocorre nos tempos de hoje). Penso que o percursor de tal futebol terá sido o Ajax, talvez nos idos anos setenta. Aborrece-me ir à internet ver a data que eu devia ter de cabeça, como grande intelectual do esférico que sou. Era tudo malta de cabelo comprido, como eu, quando ponho cabeleiras no Carnaval. A grande questão, que não lhes interessa absolutamente para nada, é que – afinal de contas – eu não uso cabeleiras no Carnaval. Todos os jogadores (do Ajax) atacavam e defendiam, todos não, que o guarda-redes convinha que não corresse para muito longe da sua baliza. Agora também existe o comentador total. Um bom exemplo desse estado de graça pode ser Bruno Prata (RTP1), que numa vez (houve outras) conseguiu dizer no mesmo minuto, uma coisa – que o inglês Rooney, no jogo contra Rússia em onze de Junho, estava mal, jogando fora do seu lugar, e – quase – de seguida exactamente o seu contrário: que o mesmo Rooney estava a ter uma acção muito importante, jogando fora da sua posição habitual. Talvez que o problema não seja o comentador. O futebol tem muito de contingente. Um jogador pode fazer um grande jogo em oitenta e nove minutos e borrar a pintura no último minuto e, esse minuto, é o que nos fica na cabeça. Um comentador pode contradizer-se. É humano. Não pode é levar-se tanto a sério e, para mais, inventar palavras que fiquem bem. Parece que a moda agora é a do futebol “combinativo”. Já consultei o dicionário e não consigo descortinar o que significa a palavra. Vão-me dizer que é assim que a língua avança. Que Bruno Prata é apenas um humilde seguidor de Joaquim Rita e Rui Santos, verdadeiros apóstolos do verbo redondo e do lugar-comum travestido de frase barroca, já sabíamos. Que o futebol “combinativo” estava a bater à porta do colorido léxico desportivo português é que eu desconhecia.
2 – Não sei se será do calor, das férias que se aproximam, ou dos fins-de-semana prolongados no Algarve, mas as únicas camisolas amarelas que ultimamente vi na televisão foram as da selecção e dos adeptos da Roménia no jogo contra a França. Não é preciso demasiado para desmobilizar um português.
3 – Um típico português da velha guarda, talvez de uma espécie em vias de extinção, é António Fiúza (também li António Fiúsa na Wikipédia, o que não é de estranhar), “O Maior”, assim com todas as letras. A ideia de matar 10 porcos e 10 vitelos (como ele diz) para comemorar o número dexx. Trata-se do resquício da actuação de uma certa velha guarda do comes e bebes. Moda, seria hoje mandar gravar dez tatuagens nos actuais e futuros jogadores do clube, facto que eles agradeceriam de bom grado.
Fernando Proença