AVARIAS: Os problemas da legendagem e dos mortos

Vão comer-me vivo, mas tenho uma teoria que sustenta mais ou menos o seguinte: os filmes para miúdos na versão portuguesa, fazem mais pela iliteracia da população jovem tuga, que centenas de faltas à escola, somadas a milhares de trabalhos de casa na disciplina de português, que ficaram por fazer. Sei que as crianças mais novas (será um eufemismo mas é o meu eufemismo), não terão capacidade para ler as legendas. Eu também não tinha, mas era o meu pai que mas lia, (ou as explicava caso fossem complexas de mais para a minha grande e fraca cabeça) e isso, respeitando que tudo tem uma consequência, que nunca deve ser menosprezada (absoluta catequese das famílias modernas), favorecia a relação pai, mãe – filho (ao espírito santo basta existir). Agora os pais preferem estar de roda de uma das extraordinárias redes sociais a que aderiram, e deixam que os seus petizes façam o mesmo, pensando mesmo que falar aos filhos via internet seria o ideal. O resultado de tudo isto, são alunos que já grandotes, se dirigem à minha biblioteca e preferem ver os filmes na versão portuguesa, quando os podem ter no original. E preferem, porque já em idade de namorar e à porta do mercado de trabalho (se este último aspecto fosse uma conversa de há trinta anos), ainda olham para as legendas soletrando as palavras. Não apanham metade do que lá está, nem ouvem as vozes originais: o dois em um das perdas lixadas que vão deixar mossa na (sua) cabeça e na (nossa) paciência. Não tenho razão, dirá o meu amigo que me lê, e eu direi que sim, não será possível estabelecer uma relação directa de causa e efeito. A única que eu conheço será entre o bom castelhano e Jorge Jesus.

Enquanto escrevo estas singelas linhas, percebo que morreu o grande comandante Fidel Castro. Se dizem que era comandante eu acredito. Como Maduro (outro comandante), também andava de fato treino, o que deve significar que os comandantes da América Latina, trocaram os galões da farda pelos três riscos da Adidas. Mais ou menos como outras figuras públicas, também Fidel não escapa às leituras emotivas. Para uns era o melhor, para outros o pior. Nas televisões, o importante será a ordem em que aparecem os depoimentos. A TVI (que fez uma reportagem inacreditável em Cuba do Alentejo. Se é caro ir às Caraíbas, caça-se em Portugal. Cuba por Cuba, esta tem melhor vinho) começou por passar pequenas entrevistas laudatórias e acabou a ouvir um cubano que disse que Fidel terá sido o pior dos ditadores de sempre, Hitler incluído. Mesmo pondo de parte a tal emoção que tolda parte do pensamento (estarmos na pele de alguém que seja parte interessada, nem sempre é fácil), tais declarações, mostram as debilidades do sistema de ensino em que o rapaz em causa terá estado inserido. Sobre a minha opinião: foi um ditador, talvez de sete numa escala de dez. Sem dúvida uma figura carismática, mas outros que não ouso dizer o nome, também o foram. O mais estranho é que uma parte substancial da nossa população, que copia tudo o que é americano (e logo o pior da América), adorava o homem, exactamente por ser antiamericano. À data de hoje, o presidente do Irão já apresentou condolências. Só faltam as do democrata da Coreia do Norte. Mas hão-de chegar.

Fernando Proença

 

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