AVARIAS: Rio de Janeiro 2

Opinião de Fernando Proença

 

 

Os jogos olímpicos (ou uma certa maneira de os pensar) para os portugueses, dividem-se em antes de Marco Fortes (AMF) e depois de Marco Fortes (DMF). Antes do célebre (não pelas melhores razões entenda-se) lançador do peso, os tugas faziam ou não os mínimos olímpicos, iam de charola para Tóquio, Munique ou Atenas, faziam lá o papel deles e vinham embora com uns recordes na natação, um arremedo de boa classificação aqui ou além, umas medalhas que muito nos honraram e muitas vitórias morais. Depois das primeiras medalhas, iniciou-se outra era: se já tínhamos umas medalhas então qual era a razão para não continuarmos a tê-las? Para mais estávamos em velocidade de cruzeiro com as estatísticas; tudo quanto era jornal e programa de televisão lá trazia uma tabela com as medalhas darjan, alô silver e bronze. Nós, que sempre ficávamos nos últimos ou para lá caminhávamos, de repente não, já existiam outros com menos medalhas e muitos outros sem medalhas nenhumas. Mais tarde eram os próprios atletas, que à boa maneira portuguesa diziam ou faziam sentir que era tudo uma malta do melhor; começámos a ficar mal habituados. Esse era o período da nossa história conhecido como AMF. Depois apareceu Marco Fortes: que nos jogos de Pequim e a propósito da prova de lançamento do peso marcada para o período antes do meio-dia, declarou que, para ele, a manhã era “para estar na caminha”. Estava em marcha a época DMF. Como os meus amigos sabem, há coisas que fazemos e dizemos que inadvertidamente e passam a ser fronteiras entre o antes e o depois. Muitos portuguesinhos de gema (onde eu me incluo), ficaram piores que estragados com a displicência do nosso lançador. Os jogos olímpicos, o objectivo maior dos grandes atletas mundiais, eram, para Marco Fortes uma questão que se interpunha entre uma manhã e uma tarde; diríamos um pequeno-almoço e um almoço. Lembro que mais que as declarações do rapaz, foi a sua atitude – pelo menos na aparência – pouco profissional, que pôs metade do país a pensar que os nossos atletas não se levavam suficientemente a sério, no momento em que calçam as sapatilhas ou se atiram para dentro de uma piscina. Agora, à boa maneira portuguesa, o menos passou a mais num abrir e fechar de olhos (a história do oito e do oitenta). A partir desta altura em pleno DMF, e pelo menos na aparência, os portugueses deram uma volta de – como gostam de dizer – 360º, situação, em que, como se sabe (não por cá), as pessoas voltam ao ponto de partida, e as coisas fiam agora mais fino. Os atletas, mesmo que tenham um valor que não ultrapassa a mediania, choram e berram em público, pedindo desculpa aos amigos, família, cão, e em geral a todos os portugueses (pessoas, animais, primeiro-ministro e presidente da república) por não terem conseguido ir mais à frente, quando todos sabemos que dificilmente chegariam às medalhas. Presos por ter cão…

Fernando Proença

 

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