AVARIAS: Somos e seremos sempre assim

Para ilustrar a volta que as pessoas costumam levar depois de mortas, vou lembrar-vos uma breve história, supostamente bem-humorada. Nada tenho contra os advogados (bem pelo contrário; podem adaptar o texto a qualquer classe ou área profissional), mas foi assim que a anedota me chegou: estava um advogado, falecido, a ser velado na igreja, com o padre a usar da palavra. Dizia ele: “Ali jaz um bom homem, bom pai de família e bom advogado.” Ao que a viúva notou para o filho: “Vai espreitar para o caixão para saber se é mesmo o teu pai que está ali”. Lembrei-me (provavelmente sem nenhuma razão aparente) deste pequeno apontamento, depois do tratamento que as nossas televisões deram à recente morte de Américo Amorim, descrito ad nauseam como o “homem mais rico de Portugal”. É sempre um acontecimento, morrer o homem mais rico de Portugal, principalmente porque no momento a seguir à sua morte, o antigo segundo homem mais rico de Portugal passa para número um. Como naquelas bichas de supermercado em que a pessoa que está à nossa frente, com um carro cheio até deitar por fora, desiste para voltar ao interior do estabelecimento, porque se tinha esquecido de comprar um lote inteiro de vinhos que estavam em promoção. E aí vamos nós. De Américo Amorim, só me lembro da sua ausência quase completa em tudo o que envolvia donativos. Se o fazia sobre anonimato, só me resta retratar e pedir as minhas mais sinceras desculpas. Também me lembro (há uns bons anos) de um despedimento numa das suas fábricas de cortiça (quinze?, cinquenta trabalhadores?), só porque nesses ano os lucros desceram, e ele, lembro-me disso porque já na altura se falava nele como o homem mais rico do país, não pôde esperar um tempo para recompor as coisas. Como se diz em Olhão: “É assim que eles enriquem!”.
No saco dos ricos, em maior ou menor grau de situação e estado de saúde, vejo o inefável Ricardo Espírito Santo (RES). Nestes imbróglios à portuguesa, em que um tipo é declarado culpado ou inocente, pelo menos quatro anos depois do que seria normal RES continua a perorar sobre as finanças em Portugal, a culpar todos, menos ele, dos males do mundo. Não tem nada a perder, pode fazer como os políticos que se dizem completamente inocentes, que tudo se trata de uma cabala, sem nunca se referirem ao que são acusados. Podiam dizer caso quisessem, em relação a esse dinheiro, “foi assim ou assado, saiu daqui para ali, foi aqui ou ali”, mas não, o que mais ouço é: “são tudo mentiras”. Parece-me o brasileiro Lula: o apartamento que dizem que roubou, não passa de uma grande mentira e uma grande armação. Agora ver uma fotocópia do cheque, ou um certificado passado pelas finanças, isso é que é mais difícil.
Uma das dúvidas que regularmente me assaltam nas declarações de RAS, é se tudo aquilo que se ouve são palavras antigas, ou se se trata de novas declarações. Se são as antigas, tudo bem, tem que se dizer alguma coisas nos intervalos das notícias sobre os plantéis dos três grandes. Se as declarações são novas, o que faz uma televisão entrevistar (para dar a sua opinião de como fazer sair o país dos problemas económicos) o homem de quem se suspeita de gestão financeira danosa, que só por si, cavou ou ajudou a cavar, se as acusações estiverem certas, um deficit maior que cinco por cento do PIB do país?

Fernando Proença

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