“Clínicas de Saúde”

A reportagem “Falta de médicos no Algarve…” publicada no passado dia 5 de Agosto no jornal Público centrada no Hospital de Faro, bem evidencia a carência de pessoal médico e consequente exaustão no Serviço de Urgência de Pediatria, a problemática da insatisfação expressa pelo Director do Serviço de Obstetrícia, o desânimo da Diretora de um Serviço de Medicina que se quer reformar antecipadamente, as declarações da presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve que também manifesta a sua preocupação pela exiguidade de Pessoal Médico, revelando mesmo que já não há qualquer Dermatologista nos Hospitais do SNS no Algarve, e o seu anseio pelo novo Hospital Central.
Mostra também a possibilidade de realização de cirurgias oftalmológicas no âmbito de um plano de Recuperação de Listas de Espera (SIGIC) que já possibilitou a realização de 443 cirurgias às cataratas a um cirurgião e num só dia 47 operações à sua equipa.
A pletora de doentes num Centro de Saúde e a importância da empatia do utente com a sua Médica de Família nas palavras de um doente que sobre ela expressa:”Esta é uma médica de bom coração, uma pessoa excepcional”, também são evidenciadas.
Mostra ainda esta reportagem, três casos paradigmáticos da insatisfação de utentes no SNS ao lhes ser vedado o acesso, seja quando um convalescente esbarra com a impossibilidade de lhe serem retirados pontos de duas pequenas cirurgias no Centro de Saúde de Tavira que o informou de não haver médico ou enfermeiro tendo de recorrer a uma clínica privada , seja quando um cidadão – deslocado no Algarve – que ao recorrer à USF de Albufeira para a sequência de um tratamento, uma semana antes nas urgências, é informado de que só terá consulta em Novembro, já que não está inscrito naquela Unidade de Saúde. Mostra também o sofrimento de uma doente de 85 anos com cataratas que aguarda há quase dois anos por uma consulta de oftalmologia.
Temos os profissionais a esforçarem-se no seu melhor, os cidadãos a procurarem o seu Serviço Nacional de Saúde, a existência de disposições legislativas facilitadoras (SIGIC), mas tudo esbarrando na acessibilidade difícil, conducente a uma descredibilização funcional perniciosa.
Quem pensa voltar a utilizar um Serviço num eventual episódio de doença aguda, se já esbarrou com a impossibilidade de lhe serem retirados pontos duma sutura cicatrizada ou se no princípio de Agosto lhe marcam uma consulta para Novembro?
É imperioso que seja revertido este estado de coisas. Tanta gente dando o seu melhor num esforço inglório mostra quão evidente todo este circunstancialismo tem razões ainda bem mais profundas que só a verificada falta de recursos humanos.
Quarenta por cento de doentes não urgentes nas Urgências hospitalares evidenciam que também a Organização está em causa.
Não há varinha de condão que num ápice resolva o planeamento indispensável, defina a funcionalidade necessária, desenvolva a prestação cooperada e articulada, estabeleça a programação da formação pós-graduada garante da continuidade da prestação, mas tem desde logo de ser revertido o flagelo da falta de acessibilidade aos cuidados mais próximos, como é denunciado na reportagem citada.
Aproveitar a desejada participação autárquica no desenvolvimento cooperado de Unidades de Recursos Assistenciais Partilhados da maior abrangência clínica disponível, chamemos-lhe Clínicas de Saúde, como designação simplificada, cujo programa funcional contemple a realização de exames complementares de diagnóstico facilitadores do acesso e da decisão clínica nos episódios de doença aguda, consultas de outras Especialidades Médicas além das de Medicina Geral e Familiar, assim como a possibilidade de cirurgias em regime ambulatório, é imperioso.
Quanto maior for a capacidade de resposta da Unidade de Saúde mais próxima, maior será o seu prestígio junto do cidadão.
A implantação de “Clínicas de Saúde”, de horário alargado, intermédias dos Centros de Saúde e dos Hospitais, de conceito próximo do das ULS, muito beneficiará a acessibilidade e a confiança, enquanto permitem um adequado desempenho na abordagem terapêutica da doença súbita.
Parece até estarem reunidas as condições para o seu desenvolvimento ou atualização, quer pelas competências autárquicas plasmadas no Artigo 27 do novo Estatuto do SNS, quer pela reestruturação em rede “e da procura de respostas de proximidade”, como buscará a Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde, em cumprimento do Artigo 9º do mesmo Estatuto.
O esforço conjunto e o Plano de Recuperação e Resiliência permitem vislumbrar uma mudança eficiente.
Será desta que se realizará uma maior aproximação dos Cuidados Médicos ao cidadão, também no Sotavento Algarvio?

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