Corrida de motos em pleno areal de Monte Gordo gera polémica

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A estreia de Monte Gordo na Taça do Mundo de Corridas na Areia, evento que se realiza de 17 a 19 de novembro, está envolta em polémica. Os ambientalistas estão contra e pedem o cancelamento da prova, mas a autarquia garante a reposição de todas as condições iniciais da praia. O executivo municipal, liderado por Álvaro Araújo (PS), é também, acusado pela oposição de "degradar a imagem ambiental e paisagística do turismo de VRSA", ao trazer 250 motos para correr nos areais de Monte Gordo, que apesar de não estarem integrados no Parque Natural da Ria Formosa, cujas limites se esgotam em Cacela Velha, são consideradas zonas sensíveis. Saiba o que está em causa

Na sequência do anúncio da organização do “Monte Gordo Sand Experience”, a Almargem – Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve partilhou, em exclusivo, um comunicado com o JA, intitulado “Os Deuses (do Ambiente) devem estar loucos”, onde se pode ler: “O areal da praia de Monte Gordo irá receber no próximo mês de novembro uma etapa da Taça do Mundo de Motociclismo em Areia (…) O facto até poderia ter passado despercebido, ou não fosse o facto de a legislação nacional proibir tout court a circulação de veículos motorizados nas praias, com algumas exceções, que não é obviamente o caso, pelo que esta prova não poderia ter lugar naquele local”, advogam.

“Porém, apesar de a prova prever um circuito com cerca de cinco quilómetros, integralmente em areia, o qual é promovido pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e organizado pelo Automóvel Clube de Portugal (ACP), recebeu luz verde de várias entidades, entre as quais pasme-se, a Agência Portuguesa de Ambiente”, prossegue a nota.

“O facto não deixa de ser inusitado, ou não tivesse esta zona do litoral sido recentemente sujeita a uma intervenção de fundo com vista à renaturalização da zona costeira contígua à frente urbana de Monte Gordo, com a regeneração de amplo e robusto cordão dunar, a par da demolição das dezenas de construções assentes sobre as dunas e construção de vários passadiços”, recorda a Almargem.

“Porém, apesar de a prova prever um circuito com cerca de cinco quilómetros, integralmente em areia, o qual é promovido pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e organizado pelo Automóvel Clube de Portugal (ACP), recebeu luz verde de várias entidades, entre as quais pasme-se, a Agência Portuguesa de Ambiente”, prossegue a nota.


“O facto não deixa de ser inusitado, ou não tivesse esta zona do litoral sido recentemente sujeita a uma intervenção de fundo com vista à renaturalização da zona costeira contígua à frente urbana de Monte Gordo, com a regeneração de amplo e robusto cordão dunar, a par da demolição das dezenas de construções assentes sobre as dunas e construção de vários passadiços”, recorda a Almargem.


“Sem prejuízo de reconhecer o interesse e a necessidade de valorizar aquele troço do litoral, a Almargem não concebe que esta seja efetuada a qualquer custo, literalmente, à custa dos valores naturais, a coberto da implementação de um par de medidas mais ou menos ‘esverdeadas’, em clara contravenção com a legislação em vigor”, destaca.

“Prova deve ser cancelada” – Almargem
“Entende por isso esta Associação que a referida prova não deveria ter sido autorizada, devendo ser cancelada a bem do ambiente e da imagem da região”, agudiza.


Entretanto, os vereadores eleitos pelo Partido Social Democrata (PSD) de Vila Real de Santo António (VRSA) teceram fortes críticas sobre a derradeira prova do calendário da FIM Sand Race World Cup, na Praia de Monte Gordo, considerando-a “mais um retrocesso na política de ambiente e na estratégia turística do concelho”.


“Se tinha previsto um passeio em família durante a maré baixa, desista: o circuito, em pleno areal da praia, terá entre quatro a cinco quilómetros de extensão e haverá cerca de 250 veículos motorizados a acelerar”, pode ler-se na nota assinada pelos vereadores do PSD.

PSD não poupa críticas ao executivo municipal
O PSD acusa o executivo da Câmara Municipal de VRSA, que coorganiza a prova com o Automóvel Clube de Portugal (ACP), de pagar “100.000 euros para levar veículos motorizados aos areais da Praia de Monte Gordo, num tempo em que os destinos turísticos apostam cada vez mais na imagem da defesa do ambiente e da conservação da natureza, e em que as preocupações com as alterações climáticas estão cada vez mais na ordem do dia”, sublinha a nota.

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Álvaro Araújo e Carlos Barbosa, presidente do ACP


Com os votos favoráveis do PS e do vereador eleito pela CDU (Álvaro Leal, que perdeu a confiança política do PCP em outubro de 2021), “é esta a imagem do turismo concelhio que se dá aos principais mercados emissores, num concelho onde parecia consensual a necessidade de privilegiar o turismo desportivo e de saúde, a mobilidade ciclável, os percursos pedonais, as atividades ao ar livre, o aproveitamento das nossas especificidades naturais, paisagísticas e ambientais”, crítica a vereação social-democrata.


Os vereadores do PSD de VRSA recordam que o evento vai realizar-se “num concelho onde as nossas áreas naturais são uma imagem de marca e um dos pilares de qualquer estratégia de afirmação económica e territorial do município numa perspetiva de médio e longo prazo: as praias com areais a perder de vista, a Reserva, o Parque Natural da Ria Formosa, a Mata Nacional e os seus percursos de manutenção e de descoberta da natureza”, enumeram.


Os sociais-democratas de VRSA, que votaram contra a proposta, denunciam ainda “os sinais errados que estão a ser dados aos agentes económicos, nomeadamente em termos da degradação da imagem turística do nosso concelho” e vão mais longe ao condenar “a desadequação do modelo de financiamento da prova”.


No documento, explicam que “o Automóvel Clube de Portugal terá direito às receitas auferidas com as inscrições dos participantes na prova desportiva”, enquanto que o município “é responsável pelas despesas necessárias à realização da prova, no valor expectável e previamente cabimentado de 100.000 euros”, quantificam.

PCP não toma posição
Contactada pelo JA, a Comissão Concelhia (CC) de VRSA do Partido Comunista Português (PCP) disse que “não se pronuncia sobre avaliações para as quais não tem, nem tem de ter, capacidade técnica ou científica para tal”.


O PCP adianta ainda que “face a preocupações e dúvidas suscitadas e partilhadas por muitos vilarrealenses, a CC de VRSA do PCP não deixará de fazer o escrutínio político do evento junto da Câmara Municipal, em sede de Assembleia Municipal (órgão fiscalizador da atividade camarária) onde tem eleitos”.


O partido pretende também “solicitar mais informação sobre os apoios financeiros e logísticos que a Câmara protocolou para a realização do evento” e “acompanharão todo o processo de implementação e cumprimento das medidas estipuladas pelas entidades competentes que foram colocadas à responsabilidade da Câmara Municipal enquanto promotora da prova desportiva”.

“Consequências ambientais não são antecipadas” – PAN
Saúl Rosa, porta-voz da Comissão Concelhia do PAN – Pessoas-Animais-Natureza em VRSA disse ao JA que vai solicitar, “com caráter de urgência”, uma reunião com o executivo municipal “para tentar perceber as condições do contrato com o ACP”.


“A Câmara vai ter gastos e não vão haver mais-valias para o concelho, segundo aquilo que averiguámos. Somos contra este tipo de atividades com emissões de carbono e que não têm mais-valias ambientais para o concelho. Mesmo que existam contrapartidas que possam compensar este tipo de atividades, a verdade é que elas muitas vezes não saem do papel e não são postas práticas”, teme.


“Sempre que vemos qualquer tipo de atividade neste sentido existem sempre consequências que não são antecipadas ou muitas das vezes não são resolvidas”, acrescenta o responsável, que afirma “não ser esta a ideia que queremos dar a nível do turismo porque somos a favor de um turismo sustentável e não acreditamos que seja o caso”, vinca.


“Esperamos conseguir ir a tempo de conseguir evitar esta situação, apesar de existir já um contrato com o ACP”, termina.


O JA tentou contactar a delegação concelhia do Bloco de Esquerda, mas sem sucesso.

Onda de comentários negativos
Na caixa de comentários da publicação de dia 12 de setembro do JA, na sua página de Facebook, com o título “Motociclismo: Monte Gordo será palco da Taça do Mundo de Corridas em Areia”, multiplicam-se dezenas de comentários, sendo a esmagadora maioria com o intuito de criticar o evento da autarquia.


Eduardo Burnay escreve “Excelente ideia! O município vai pagar para que sujem a areia com produtos tóxicos exalados dos tubos de escape das motas e do desgaste dos pneus!!! Mas cães na praia, não!!!!”, exalta.


Por sua vez, Ricardo Teixeira mostra-se também indignado: “Quer dizer, não se pode pisar as dunas… Mas as motas sim, fora o óleo e outros atritos que vão semeando por aí… Muito bem viva o imperialismo capitalista”.


“Que grande estupidez. É inadmissível. Será que essa gente tem noção das consequências? Claro que não têm. RUA”, exprime também Carlos Dias.


Por seu turno, Armindo Rosa questiona “Como é possível? O ICNF chumba tudo o que mexe e (…) agora permite este evento com motos? (…) Algo está errado ou será que isto já não polui ou afeta a ‘defesa” do ambiente?’”, atira.

Situações ambientais “salvaguardadas”
Ouvido pelo JA, Álvaro Araújo (PS), presidente da Câmara Municipal de VRSA, declara que na sua ótica “todas as situações ambientais estão completamente salvaguardadas” com a existência de uma equipa técnica “responsável pela elaboração, implementação e monitorização de um plano de valorização ambiental”.

Zona dunar protegida


“A prova reúne todos os pareceres necessários para a sua realização, emitidos pelas entidades competentes, entre as quais a Agência Portuguesa do Ambiente (APA)”, vinca.


Segundo a autarquia, este plano agrega “um conjunto de projetos e ações consideradas importantes na redução da pegada de carbono associada à realização do evento e no controlo dos eventuais impactes que as atividades possam gerar”.


Questionado acerca da emissão de gases poluentes durante as provas, o autarca garante ao nosso Jornal que “são diminutos”.


“Cada vez mais há essa preocupação por parte de quem organiza e de quem prepara as motorizadas para estes efeitos. A única diferença é que em vez de ser numa pista, em estrada, a prova vai ser na praia”, observa.

“Oportunidade de limpeza do areal”
Já relativamente à qualidade da areia após o evento, o autarca alega que “o facto de as areias serem remexidas, com sujidades acumulada no interior há muitos anos, será uma oportunidade de limpeza do areal. Vai ficar tudo igual depois do evento ou melhor até”, garante.


Uma das preocupações dos ambientalistas é o derramamento de óleos no areal. Sobre essa matéria, o socialista assegura que as equipas participantes do evento “vêm preparadas” e avança que vai haver “uma zona própria para tratar da questão dos óleos”.


Durante as operações de manutenção ou verificação dos motociclos, de acordo com a autarquia, será obrigatória “a utilização de um tapete absorvente, para evitar qualquer tipo de derrame”.


Para além disso, “todos os resíduos produzidos serão corretamente acondicionados e encaminhados para o destino final adequado”, atestam.


“Onde se pratica e quem pratica este tipo de modalidades tem essas preocupações ambientais. Veja-se Le Touquet, em França. Faz isto há cerca de 50 anos e é numa estância balnear de excelência. Não foi por isso que perdeu qualidade a nível das praias”, constata.

Previstas ações de promoção ambiental
Na sequência do evento, estão igualmente previstas “ações como a plantação de pinheiros, a distribuição de informação relativa a boas práticas e o reforço dos equipamentos de recolha de resíduos indiferenciados e recicláveis”.


Ao que o JA apurou, o circuito será também desenhado de forma a permitir que o público aceda com facilidade, utilizando os acessos existentes (passadiços) e não outros.


Em suma, “de forma a monitorizar a qualidade do areal e da água serão realizadas, pela rede laboratorial da APA, análises aos parâmetros microbiológicos e aos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PHAs). A recolha das amostras da areia será efetuada em três momentos distintos, nomeadamente, antes da movimentação das areias, no dia útil imediatamente a seguir à realização do evento e após a regularização do areal. Todas as movimentações de areias a realizar serão as mínimas possíveis, sendo as mesmas repostas no local logo que termine a prova”, refere a autarquia de VRSA.


Com o intuito de esmiuçar o parece positivo concedido à realização do evento, o JA contactou a Agência Portuguesa do Ambiente – Administração da Região Hidrográfica do Algarve (APA-ARH), entidade com competências sobre as praias, mas até ao momento do fecho desta edição não obteve resposta.

Melhores pilotos atraem milhares de adeptos
O “Monte Gordo Sand Experience” é a etapa portuguesa da nova Taça do Mundo de Corridas em Areia, introduzida este ano pela Federação Internacional de Motociclismo (FIM).


Aproveitando “as condições naturais” e “as infraestruturas hoteleiras” da Baía de Monte Gordo, a Câmara Municipal de VRSA projetou um festival de desportos motorizados com três dias, naturalmente marcados pela presença de alguns dos melhores pilotos internacionais de enduro, rally-raid e motocross.


O desafio é percorrer um circuito com cerca de cinco quilómetros de extensão, totalmente disputado no areal da Praia de Monte Gordo, numa prova que vai consagrar o primeiro vencedor da Taça do Mundo da modalidade.


A competição da FIM arrancou no emblemático Enduropale du Touquet, em fevereiro, onde mais de 2.000 concorrentes disputaram a famosa prova francesa. Três semanas depois, a Taça do Mundo atravessou o Atlântico Sul rumo à Argentina, para o Enduro del Verano, com a presença de algumas estrelas sul-americanas do Dakar. Agora, o título mundial da modalidade decide-se em Portugal, com a organização desportiva a cargo do Automóvel Club de Portugal, sob a égide da Federação Internacional de Motociclismo e da Federação de Motociclismo de Portugal.

Evento “fundamental para a economia local”
“Estamos a falar de um evento no mês de novembro que é fundamental para a nossa economia local durante a época baixa, porque isto não vai ser só durante um fim de semana. Vão ser dias e é um evento que vai trazer muita gente que vai querer continuar a passar férias em Monte Gordo”, aprofunda Álvaro Araújo.


“O nosso concelho é muito pequeno e tem um número de camas muito inferior àquilo que vai ser necessário. Temos muita expetativa. Neste momento já estão mais de 100 atletas inscritos. Vai ser uma mais-valia e não só para VRSA, vai ser uma mais-valia para toda a região. Até para a vizinha Espanha”, certifica.

Expetativa para os próximos anos
“Na conferência de imprensa de apresentação do evento testemunhámos que há uma grande expetativa em Monte Gordo, porque felizmente para nós não há muitos locais com as condições que nós temos para a prática desta modalidade”, defende.


“Para o ano vamos ter outros países a participar na prova. Inglaterra já manifestou interesse em ter uma prova, pelo menos, assim como Itália, Espanha, Alemanha, etc. Esta Taça do Mundo vai ser, brevemente, um evento com muitas etapas e nós vamos estar na primeira linha. Tal como o Moto GP e a Fórmula 1, o Algarve vai ter esta prova de motociclismo na areia, o que nos vai colocar novamente no mapa. O que vamos ganhar com isto é trazer muita gente que normalmente não viria cá para ver o que de bom temos e aí vão querer voltar, garantidamente”, refere.


“É algo importante para nós, numa ótica de ter alguns eventos âncora no concelho que tragam para a ribalta o nome do município. Trabalhamos para continuar a mudar o paradigma da sazonalidade com mais eventos. Temos a melhor praia do mundo e vamos continuar a ter a melhor praia do mundo”, finaliza.

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