Decido e pronto, a obra nasce

Pouca gente discordará de que o Algarve precisa de transportes públicos pontuais, rápidos e sobretudo com limpeza e higiene, que assegurem a mobilidade entre os polos urbanos da “região”. Há uma décadas, nascia-se, trabalhava-se e morria-se praticamente no sítio onde se vivia. O mundo apenas não era assim tão reduzido para quem conseguia fugir disto e quanto mais longe possível. Até o pessoal das fábricas era chamado por sirenes ou apitos para correrias a pé, consoante um tanto inesperadamente em três ou quatro cidades do litoral aparecia muito ou pouco peixe para ser amanhado conservas. Com o incremento do turismo, com o boom da construção ao deus-dará, com as aldeias a tornarem-se freguesias, estas em vilas, estas em cidades, e mesmo estas em referências agregadoras de contentores, de casas móveis e dos restantes produtos da construção ilegal e clandestina, não foi apenas o mapa do Algarve que se alterou, foi a própria ideia de Algarve que se perverteu e subverteu.

E foi assim que os slogans turísticos a anunciar uma “região” paradisíaca, passaram a conviver ao lado da ideia de esta ser uma “região” infernal embora com clima moderado, com arquitetura inominável por entre uma sementeira de mamarrachos, com a loucura de carros e motas a esvaziarem as carteiras de cada um, e com os comboios e autocarros a darem conta de que o mesmo Algarve é uma “região” dos diabos, onde para se fazer qualquer coisinha que leva dez minutos é preciso perder um dia inteiro. Anunciar-se qualquer coisa para aliviar esta feira desregrada, tem êxito garantido, bastando por vezes a esperança sugerida pelo anúncio para se acreditar num futuro mais credível. Foi o caso mais recente do anúncio impreciso e vago do MetroBus, que já foi metropolitano de superfície a fazer em 35 minutos o trajeto Olhão-Faro-Loulé, que já foi explicada como a medida salvadora da área metropolitana central do Algarve, e até com “extensões” prometidas para Albufeira e Fuseta, com São Brás a assistir ao milagre.

Só que se ficamos a saber mais de MetroBus, ou do sistema BRT, através do que se prepara já para 2004 do Porto (Avenida da Boavista), e em Coimbra, Braga e Guimarães. O projeto do Porto, em marcha no estirador de Siza Vieira, envolve um investimento de 66 milhões de euros suportado pelo PPR, orçamento que contempla obras na via, construção de estações, sistemas de segurança, compra de autocarros (18 metros de comprimento) a hidrogénio e central de produção de hidrogénio verde.

No Algarve, como será? Os autarcas dos municípios implicados foram ouvidos, auscultados? Em que locais a linha começa e acaba, o que atravessa, onde se situam as estações e que populações servem?

A avaliar pelo Hospital Central, será outra demora dos diabos.

Flagrante coisa: A propósito de infraestruturas, não seria preferível começar pela limpeza e higiene das carruagens que circulam pelo que indevidamente ainda se chama Linha do Algarve e cujo cheiro fétido nada tem a ver com hidrogénio verde?

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