EUA livram-se de bancarrota este mês, mas adiam crise para janeiro

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Os Estados Unidos livraram-se de entrar hoje na zona vermelha de um risco de bancarrota durante o resto do mês de outubro. O mundo respirou de alívio no último minuto, tal como na crise de agosto de 2011. Mas a confrontação política no Congresso norte-americano poderá renascer no início do próximo ano.

A autorização de endividamento, suspendendo o teto da dívida, durará até 7 de fevereiro e o financiamento do estado federal só está assegurado até 15 de janeiro. Entretanto, republicanos e democratas terão de se entender, até 13 de dezembro, num plano para a próxima década sobre o enquadramento orçamental.

O Presidente Obama assinou 30 minutos depois da meia-noite (hora de Washington DC) de 16 de outubro a lei que permite reabrir os serviços federais, que encerraram durante 16 dias, e aumentar o teto de endividamento federal, que já havia sido ultrapassado em maio.

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Obama tirou uma dor de cabeça ao seu secretário de Tesouro, Jacob Lew, que havia dito que, a partir de hoje, só tinha 30 mil milhões de dólares em caixa, e que se esgotavam as medidas extraordinárias para continuar a gerir o gasto público já aprovado e honrar compromissos de dívida.

Custo do shutdown entre 12 a 24 mil milhões de dólares

Depois de um acordo entre republicanos e democratas no Senado norte-americano, o caminho ficou aberto para o fim do shutdown (encerramento) iniciado a 1 de outubro e para o risco de bancarrota seletiva que já levara a Ficth a colocar a notação de triplo A da dívida norte-americana sob “observação negativa”.

Só o encerramento deve ter custado ao longo de 16 dias 0,3 pontos percentuais do PIB do 4.º trimestre, cerca de 12 mil milhões de dólares (equivalente a 9 mil milhões de euros), segundo a Macroeconomic Advisers, ou o dobro, segundo a Standard & Poor’s. O risco de bancarrota levou as yields dos bilhetes do Tesouro de muito curto prazo – a um, três e seis meses – a subirem mais de 200% no mercado secundário entre 1 e 15 de outubro.

A notícia do compromisso foi bem acolhida pelos analistas e pelos investidores dos mercados financeiros, tanto mais que o “Livro Bege”, publicado ontem pela Reserva Federal (banco central norte-americano), apontava para um dado preocupante: 1/3 dos EUA registou crescimento mais fraco em setembro e no início de outubro.

A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional foi das primeiras a reagir, aliviada. Mas Christine Lagarde sublinhou na sua declaração: “Será essencial reduzir a incerteza que envolve o comportamento da política orçamental [norte-americana] aumentando o teto da dívida de um modo mais duradouro. Continuamos a encorajar os EUA a aprovar um orçamento para 2014 e a substituir um sequestro [cortes automáticos de financiamento de despesa pública em várias áreas em vigor desde março] com medidas faseadas graduais que não prejudiquem a retoma, e a adotarem um plano orçamental equilibrado e abrangente no médio prazo”.

O alívio estendeu-se a Pequim e Tóquio, cujos países são os principais detentores de dívida norte-americana e, também, aos baqueiros de Londres e Paris, os mais expostos na Europa aos títulos do Tesouro norte-americano, segundo o Banco de Pagamentos Internacionais.

Republicanos dividem-se

O acordo obtido no Senado, fruto do empenho de senadoras dos dois lados das bancadas, passou por 81 votos a favor contra 18. O plano do Senado passou depois na Câmara de Representantes por 285 votos a favor contra 144, o que significou que 87 deputados republicanos votaram a favor do compromisso. Obama obteve uma vitória política, mas a janela pode terminar em meados de fevereiro. Alguns analistas vaticinam o regresso do filme da crise política no primeiro trimestre do próximo ano.

O shutdwon durou 16 dias, menos do que os 28 registados durante a Administração Obama no final de 1995 e no início de 1996. O diretor do Office of Budget and Management já deu ordem para que os funcionários públicos federais, que estiveram com licença sem vencimento forçada, regressem hoje aos seus postos.

O compromisso no Senado e a passagem da lei na Câmara de Representantes provocaram logo alguma correção em baixa nas yields dos bilhetes do Tesouro no mercado secundário, que fecharam a sessão de 16 de outubro com uma quebra de 60% no prazo a um mês, de 27% a três meses e de apenas 7% a seis meses. A descida foi mais significativa no prazo a um mês e mais moderada nos outros dois casos, o que levanta a questão de saber se, sobretudo nos prazos a três e seis meses, o nível das yields não subiu para um patamar mais elevado de onde não regressará para o nível anterior à crise política no Congresso.

Jorge Nascimento Rodrigues (Rede Expresso)

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