António Guterres quer sobretudo agora “gozar férias” e aproveitar para refletir no que pode fazer no futuro, descartando para já desvendar o que planeia – se prosseguir na tentativa de tentar o cargo de secretário-geral da ONU (que vaga no final deste ano) ou ficar em território nacional.
“Vou descansar algum tempo e vou, natural e calmamente, refletir sobre a melhor maneira de aproveitar as experiências e capacidades que tenho para fazer alguma coisa de útil”, disse aos jornalistas, num intervalo do Seminário Diplomático, em Lisboa, no qual foi o principal orador convidado. Ainda sem saber o que vai fazer, Guterres foi claro ao salientar que “não tenciona regressar à vida política ativa nacional”.
O ex-alto comissário para os refugiados terminou no mês passado os seus dois mandatos à frente desta organização das Nações Unidas (ACNUR).
O colapso do sistema europeu de asilo
Comentando a atual situação internacional, nomeadamente no que diz respeito aos refugiados, Guterres afirmou no entanto temer o “colapso do sistema europeu de asilo”, se nada for feito nos próximos meses de inverno (em que o movimento migratório abranda) para conseguir um acordo com os países do Médio Oriente mais flagelados, como a Turquia, a Jordânia ou o Líbano.
A título de comparação, disse, enquanto a União Europeia recebeu dois por cada mil refugiados, o Líbano recebeu um em cada três. “Estamos a viver um momento decisivo na União Europeia, que tem a ver com o facto da Europa estar a viver um movimento importante, embora não avassalador de refugiados e emigrantes, e de não ter sido possível até ao momento de organizar uma resposta solidária e coordenada de todos países europeus para fazer face a esse desafio”, afirmou Guterres, para quem se assiste à multiplicação de atos individuais de países europeus de políticas cada vez mais restritivas para ver se os refugiados vão para o vizinho.
E acrescentou: “É uma epidemia que se esta progressivamente a desenvolver. Se não houver um movimento organizado que substitua esta tragédia no Mediterrâneo Oriental e o caos nos Balcãs, se não houver um acordo histórico, temo que o sistema de asilo europeu possa colapsar este ano e seria uma tragédia de proporções indescritíveis”.
A palavra é “caótico”
Para Guterres, é preciso controlar o movimento, senão serão “os contrabandistas e traficantes a fazê-lo – criar uma capacidade maciça de receção à entrada, fazer o registo e a verificação de todos, distribui-los por todos os paises europeus”.
O antigo primeiro-ministro afirmou que o que está a acontecer de modo caótico leva a “imagens terríveis” na televisão, que leva as pessoas a pensar que a Europa está a ser invadida. Isto seria gerível se a Europa se organizasse de forma solidaria, repartindo a responsabilidade em termos justos por diferentes países europeus.
E concluiu: “Tudo tem sido caótico, tem sido reduzido o numero de países para onde este movimento de dirige (Alemanha e Suécia), o que é uma situação insustentável”.
Luísa Meireles (Rede Expresso)