Habitantes de Santa Rita estão “presos” na sua própria aldeia

De um dia para o outro, em modo insólito e de surpresa, foram colocados blocos de betão e outra sinalização que impede a entrada de viaturas no acesso a Santa Rita

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Os habitantes de Santa Rita, no concelho de Vila Real de Santo António, sentem-se “presos” desde terça-feira, dia 21 de março, depois da concessionária Rota do Algarve Litoral bloquear entradas e saídas da aldeia na Estrada Nacional 125. A população está revoltada, exige uma rotunda naquele local e a Câmara Municipal admite desbloquear os acessos.

De um dia para o outro, em modo insólito e de surpresa, foram colocados blocos de betão e outra sinalização que impede a entrada de viaturas no acesso a Santa Rita aos condutores que venham na direção oeste-este. Ou seja, a entrada para a aldeia apenas pode ser feita por quem venha de este para oeste.

Foto D. R. – Gonçalo Dourado

Já a saída da aldeia apenas pode ser feita em direção a Tavira, sendo que se um condutor pretender ir para Vila Real de Santo António, terá de fazer inversão de marcha no meio da estrada ou dirigir-se até à rotunda de Cabanas, localizada a alguns quilómetros. O mesmo acontece para quem vem na direção oeste para este e que queira entrar em Santa Rita, que pode correr o risco de fazer a perigosa inversão de marcha ou dirigir-se até à rotunda de Vila Nova de Cacela, a vários quilómetros de distância.

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No acesso em frente, numa estrada que vai até à praia da Fábrica, foi utilizado o mesmo modelo: apenas quem vem de oeste para este pode entrar e quem vem daquele local apenas pode virar em direção a Vila Real de Santo António. No entanto, existem outros acessos alternativos na EN125 para aquela localidade.

Foto D. R. – Gonçalo Dourado

A inversão de marcha parece ser a opção mais utilizada pelos condutores nos últimos dois dias, tal como o JA constatou no local, com vários automobilistas a arriscar a realização desta manobra para chegar ao seu destino e evitar uma maior distância percorrida e, consequentemente, um menor consumo de combustível, que atualmente está a preços elevados.

O presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, Álvaro Araújo, esteve esta quarta-feira, dia 22 de março, no local juntamente com os residentes que ali manifestaram o seu descontentamento.

O autarca disse ao JA que aquela alteração na sinalização decorreu após o envio de um relatório de ocorrências e da exigência de uma rotunda para aquele cruzamento da EN125 à concessionária, após terem decorrido vários acidentes e mortes ao longo dos últimos anos.

“A solução que eles encontraram para evitar acidentes e mortes foi colocar blocos de betão aqui. O executivo exigiu a construção de uma rotunda, prevista no projeto de requalificação da EN125, mas acabaram por criar outro problema a poucos metros deste: agora fica ao livre arbítrio de quem utiliza a estrada de fazer inversão de marcha quando pretender”, disse.

Enquanto decorria a entrevista, muitos eram os condutores que circulavam a elevada velocidade naquele local, atravessando traços contínuos, enquanto outros mostravam-se baralhados com a nova alteração no trânsito e sem saber onde ir.

Álvaro Araújo considera que “ninguém vai até à rotunda da Conceição de Tavira ou à rotunda de Vila Nova de Cacela para fazer inversão de marcha” e que “é urgente colocar semáforos, lombas, sinalização ou radar” naquele local.

Foto D. R. – Gonçalo Dourado

“Com isto, estamos ainda a provocar mais problemas e não demorará muito para acontecer outro acidente grave”, como aconteceu em janeiro deste ano, que envolveu três viaturas.

O autarca revelou que entrou em contacto com o Governo com as Infraestruturas de Portugal, que remeteram para a concessionária, tal como aconteceu com o JA, que disse ainda não ter orçamento para a obra da rotunda “por causa do litígio que existe no processo de requalificação da EN125”.

No entanto, o executivo demonstrou estar disponível, “juntamente com a Quinta da Ria”, de construir a rotunda.

Álvaro Araújo prometeu ainda que se até ao final do dia de hoje não existisse uma resposta, “no âmbito da Proteção Civil” e como “máximo responsável”, juntamente com as forças de segurança, será tomada uma decisão que “pode passar por remover os blocos de betão e arranjar uma solução alternativa”.

O autarca socialista considera que esta ação da concessionária foi “chutar o problema para canto” e “uma falta de respeito pela população e pelas instituições”.

Estradas municipais não são alternativa

Já o presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova de Cacela, Luís Rodrigues, disse ao JA que “aquele cruzamento tem sido sempre um perigo”.

Luís Rodrigues revelou também que tem havido dificuldade na circulação de transportes pesados como camiões ou autocarros escolares desde as alterações no trânsito daquele cruzamento e que as estradas municipais não podem ser uma alternativa devido à sua degradação.

“Estão previstas obras nas estradas municipais, mas devido às dificuldades económicas da autarquia, não se sabe quando podem decorrer”, disse.

Revolução na aldeia

Estas alterações no trânsito já causaram autênticas revoluções no dia a dia dos habitantes da aldeia de Santa Rita.

Segundo Anabela Ferreira, de 43 anos e habitante naquela localidade, estas alterações fazem com que seja “mais perigoso” conduzir naquele cruzamento e que para se deslocar a Vila Real de Santo António, Vila Nova de Cacela ou Castro Marim vai ter de usar as estradas secundárias, em mau estado.

Foto D. R. – Gonçalo Dourado

“Quem é que me paga depois os pneus e os amortecedores? Não compreendo. Para fazer inversão de marcha é perigoso, há pouca visibilidade e de noite existem zonas sem luz. Hoje quase que não vi carros”, conta.

Madalena Domingos, também residente em Santa Rita, disse ao JA que “a população está revoltada” e que se sente “fechada na sua própria terra”.

“Temos de ir à rotunda de Vila Nova de Cacela ou Conceição de Tavira para irmos para casa. Isto não é solução. É absurdo. Há pessoas a entrar em sentido proibido. Se antes já havia acidentes, agora vai haver mais”, conta.

Já Carina Rosado, de uma empresa de distribuição de produtos alimentares, diz que já são sentidas as dificuldades no trabalho, que tem uma frota de 20 viaturas “a correr perigos constantes”.

“Quando chegarmos ao verão e os meus colaboradores tiverem de fazer inversão de marcha com os camiões, em plena EN125, vão travar o trânsito. Estamos à espera do plano de requalificação há mais de 20 anos, mas que infelizmente só chegou ao barlavento, porque o sotavento é como Marrocos. Já nem é do terceiro mundo”, salienta.

Residente em Santa Rita há 45 anos, Elsa Fernandes, cujos pais são proprietários de um restaurante perto do cruzamento, revela que “há sempre uma desculpa” para que a tão esperada rotunda não seja construída.

Foto D. R. – Gonçalo Dourado

Sobre os bloqueios à entrada e saída de viaturas na aldeia, Elsa Fernandes disse ao JA que esta situação causa dificuldades “em levar as crianças à escola” e que diariamente assiste a “várias infrações dos condutores”.

“Tornou-se mais perigoso do que já era. Barrarem o acesso e saída de uma aldeia não é uma coisa normal. Nós queremos uma solução e por milagre ainda não se deu nenhum acidente”, acrescenta.

Luís Oliveira, proprietário de uma empresa de distribuição de gás, considera que estas alterações no trânsito “não têm lógica”, uma vez que “não há rotundas próximas”.

“A melhor solução seria uma rotunda. Façam um círculo com os blocos de betão temporariamente”, sugere.

O JA contactou as Infraestruturas de Portugal mas não obteve uma resposta até ao momento.

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