JOÃO LUIS VARGUES

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Colaboradora. Designer.

EXPOSIÇÃO “ALGARVE – DO REINO À REGIÃO”

Em Faro, Algarve visionário, excêntrico e utópico

No âmbito da iniciativa “Algarve – Do Reino á Região”, o Museu Municipal de Faro, em conjunto com a Galeria Trem e o Museu Regional, acolhe a exposição “Algarve Visionário, Excêntrico e Utópico”. Da alargada extensão temática que o projecto expositivo promovido pela Rede de Museus do Algarve visa abranger, debruçando-se sobre o último milénio da história e cultura do Algarve, a atenção recai, desta feita, sobre o século XX e sobre a região, com o olhar específico que procura o entender e o conhecer do território enquanto espaço de reflexão, inspiração e criação.
Tomando o mote na imagem do poeta João Lúcio e na contaminação que o Simbolismo conferiu à sua vida e obra, assumido como prenúncio de uma modernidade contemplativa e excêntrica relativamente ao fluxo das ordenações mundanas, a exposição procura, através da exibição de alguns exemplos paradigmáticos da produção artística e da vivência cultural da região, esboçar uma plataforma para a apreensão daquilo que foi, na história recente, e na actualidade, o Algarve, enquanto terreno de produção artística e território de influência.
Este sentido programático adquire corpo na apresentação de um vasto conjunto de obras que comungam o Algarve como elemento matricial, surgindo aqui a região tão desmultiplicada quanto as obras sobre as quais influi, mapeando a diversidade artística local. O elenco constitui-se, por esta via, no campo da experiência individual sobre a região, recuperando ao olhar do público as diversas vivências das especificidades do território, experienciadas na esfera das relações humanas, na criação artística ou como espaço de reflexão e criação.
Partindo da década de sessenta até ao presente, a exposição desmembra-se em suportes tão diversificados quanto a arquitectura, o filme, o desenho, o depoimento captado em vídeo, a instalação e a palavra escrita, unificando-se en-quanto toma a forma de tese ou laboratório de pesquisa para o debate sobre a multiplicidade da expressão criativa que teve lugar na região.
Remetendo-nos para as características intangíveis e espirituais do espaço geográfico, o vasto conjunto das obras expostas apresenta, a título de exemplo, o Algarve como local de realização de utopias individuais, no caso, a construção da casa, entendida como celebração do lugar, recorrendo à exibição de múltiplos projectos de arquitectura utópica. Com o mesmo sentido excêntrico e visionário, destaque-se o relevo dado ao desenho, como expressão associada à singularidade, individualidade e liberdade de conhecimento do mundo.
Integrado na exposição conta-se ainda com um ciclo de cinema dedicado ao olhar sobre o Algarve, onde surgem documentários da história recente como “Continuar a viver ou os índios da meia-praia”, de António da Cunha Telles ou, a obra de cinema documental “António Ramos Rosa – Estou vivo e escrevo sol”, sobre o poeta, cuja vida e obra encontram raízes na região.
“Algarve visionário, excêntrico e utópico” apresenta-se assim, ao espectador, como uma pesquisa sobre o universo da criação no Algarve. A articulação entre as peças, em especial a relação entre o depoimento registado em vídeo, com testemunhos sobre a vivência cultural e artística, e toda a restante exposição, farão, facilmente, o visitante participar nessa mesma pesquisa e na procura sobre o entendimento do território assente em pressupostos que encontram matéria no campo da sensibilidade.  Se assim o for, o museu ultrapassará as suas limitações, cujas primeiras barreiras são as que se formam nas suas próprias paredes, mergulhando na vida que lhe é circundante.

(CEPHA/UAlg)
Nota: O autor não escreveu o artigo ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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