Gostava de aqui recordar, uma lenda que é muito querida aos algarvios, mas tão pouco referenciada.
Em tempos de outrora, quando reinava no Algarve o mouro Ibn-Almundin, de entre as cativas, de batalha ganha, fixou-se em princesa nórdica que luzia com luz própria a sua beleza.
De desejos se assolapou, sua majestade.
Sabemos que casaram e que foi amor reciproco, com paixão.
Gilda era seu nome, era feliz, mas a nostalgia da neve do seu país, toldo-lhe a mente. Para atalhar tal desiderato, em boa hora, por conselho de um ancião, o rei mandou plantar amendoeiras por todo o reino.
Com o raiar da primavera, da janela do palácio, a rainha nórdica avistou o lindo quadro, que resultava do que eram as ditas, em flor.
Sentiu-se feliz – as saudades da sua terra natal foram aplacadas e compensadas, ficou com a ilusão de que avistava um campo repleto de neve, curando-lhe toda a tristeza que sentia.
Consta que suas majestades viveram felizes para sempre.
É a lenda das Amendoeiras em Flor, que explica a existência de um produto – hoje endógeno e que dá azo a tanta boa experiência gastronómica.
Não sabemos onde o rei mouro mandou buscar as amendoeiras, talvez ao Norte de África – não sei, mas por que não pensarmos que mandou vir do Norte de Portugal, por exemplo, do Vale do Côa.
Eu como representante da Confraria do Atum e da Real Confraria da Amêndoa, gostava de aqui casar a amêndoa com o atum, propondo algo que é fabuloso de gosto e sabor, tremendamente nutritivo e de fácil elaboração:
Tarantelo de Atum Baseado, passado em miolo de amêndoa torrada e moída.
Defendo a simplicidade das coisas, o genuíno, o tradicional, a qualidade a fazer-se valer por si – sem ser forçada, cada produto tem o seu valor intrínseco.
No mundo da gastronomia e à boa maneira portuguesa – “do oito ao oitenta”, vivemos um momento que para mim é raro.
Tenta-se forçar muito, no estilo “somos os melhores, somos únicos” e deixam-se perder princípios, solidariedade, entreajuda, colaboração.
O mundo confrádico começa a estar invadido por “novos turcos”, que colecionam trajes e aportam elevadas doses de protagonismo.
O mesmo se dirá, do “prolífero e animado mercado” de confrades de honra – visando vip’s.
Note-se, que muitas destas “personalidades”, quando participam nos capítulos (festas de entrada de novos membros nas confrarias), vão nitidamente fazer o “frete”.
E quem os convida espera notoriedade nos meios de comunicação e redes sociais.
Em suma, para mim – sendo que cada qual pensa como quer, são dispensáveis tantos protagonismos e o que tiver que ser, que se faça valer por si, sem forçar o que seja.
A simplicidade e a fraternidade – sem segundos interesses, são as chaves de tudo.
As confrarias báquicas e gastronómicas – em Portugal, são um património demasiado valioso para serem entregues a pequenos “reizinhos” que só pensam neles.
Vamos ter juízo e vontade de fazer bem e simples.
Cipriano Cabrita
*Arrais Confraria Atum VRSA
Vice-Presidente Federação Port Conf’s Gastronómicas