A Câmara Municipal de Loulé tem praticamente concluído o plano de urbanização que irá permitir a construção do empreendimento turístico Vale do Freixo, na antiga Quinta do Freixo, no território da União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, concelho de Loulé.
O empreendimento, que será desenvolvido pela Golferei – Empreendimentos Turísticos e que recebeu o estatuto de PIN (projeto de potencial interesse nacional) concedido pelo anterior governo, incluirá um campo de golfe, dois hotéis, oito aldeamentos turísticos (totalizando cerca de 1700 camas) e outros equipamentos complementares.
Entretanto, a associação ambientalista Almargem denunciou que o empreendimento representa “um novo atentado à identidade cultural e natural do barrocal algarvio” e garantiu que vai lutar “com todos os meios ao seu alcance” para que “este novo atentado não venha a ser perpetrado”.
Neste sentido, apelou ao Município de Loulé para que “reveja as decisões tomadas pelo anterior executivo camarário relativamente ao projeto, o qual, a avançar, colocaria Loulé, mais uma vez, na mira das instituições internacionais e pelos piores motivos”.
Em causa, segundo a Almargem, está uma afetação direta do “Sítio Barrocal”, área classificada de importância comunitária, incluída na Rede Natura 2000, bem como do aquífero Querença-Silves e de vários habitats protegidos pela legislação comunitária e nacional.
Os ambientalistas denunciam ainda que o empreendimento está projetado para uma zona junto à Paisagem Protegida Local da Rocha da Pena e “a apenas 100 metros do mais importante abrigo algarvio de morcegos cavernícolas”, classificado de importância nacional e que alberga populações de várias espécies, também estritamente protegidas pela legislação comunitária e nacional.
“Numa altura em que o famigerado projeto da Quinta da Ombria se prepara para arrancar, a Associação Almargem lamenta que esteja já em preparação um outro projeto semelhante”, referem os ambientalistas, alertando para o “indesejável impacto cumulativo” dos dois projetos sobre uma mesma área da Rede Natura 2000.
A Almargem recorda ainda que, em 2011, na resposta final da Comissão Europeia ao recurso apresentado pela LPN da decisão de arquivamento da queixa levada a Bruxelas e relativa à Quinta da Ombria, tinha sido sublinhada “a preocupação da UE relativamente à existência, já na altura, de uma pretensão para um outro empreendimento turístico semelhante no Barrocal”.
“Tais reservas da Comissão Europeia não impediram o Município de Loulé e a Golferei de assinarem, em novembro de 2012, um contrato com vista ao avanço do novo projeto, numa primeira fase através da elaboração de um plano de urbanização, o qual se encontra atualmente em vias de conclusão”, lamentam os ambientalistas.
Para a Almargem, o projeto Vale do Freixo recebeu o estatuto de PIN “através de um descarado branqueamento político, justificado pelo alegado caráter de polo económico, tecnológico e ‘verde’ do empreendimento” e “apresenta uma semelhança completa com o da Quinta da Ombria”.
Refira-se que o empreendimento Quinta da Ombria já começou a receber os alvarás para o arranque da construção de 370 moradias e um hotel. O projeto inclui ainda um campo de golfe e vai nascer junto à Paisagem Protegida Local da Fonte Benémola.
“Durante um número indeterminado de anos, dependendo do ritmo de construção dos vários lotes, o local estará transformado num autêntico estaleiro de obras, arruinando a magnífica paisagem e os valores naturais até aqui existentes”, lamenta a Almargem.
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