Mais um bom serviço

A sério que o Avarias e se estas linhas fossem sobre ficção escrita, gostava um dia à vossa escolha, de se sentar frente à televisão e escrever um artigo que dissesse, tudo de bom sobre alguma da nova dramaturgia portuguesa, mas tenho a impressão que, como o seguro, também esta minha semi-obsessão há-de morrer velha. Há uma parte de nós que tem a ideia que os escritores que muito vendem será por que bem escrevem: é o caso de José Rodrigues dos Santos, que nos afinfa pontapé e estalos à inteligência; aquela linguagem está mais que documentada no que vem lá de fora e trata-nos como se fossemos retardados, procurando em cada linha entrever como iremos descobrir, ou não, um grande enigma ao nível da espada esquecida do rei Artur, quem a levou para casa ou onde está enterrada, ou a relação entre a espada e a cruz de cristo do equipamento do Belenenses.

Depois existe uma tendência, que podíamos imaginar como sendo o oposto das ideias anteriores: querias muito diálogo e nenhuma linguagem?, então toma lá palavras, supostamente poéticas, que não querem dizer nada nem têm peso poético, apenas ligam emoção com solução e pessoa amada, novamente a pessoa amada, desta vez a dar com solução e coração e, para rematar, quem ama não pode ser esquecido. O ponta-de-lança desta formosa de ligar o português, com esoterismo e caldos de galinha, talvez seja a prosa de Valter Hugo Mãe, capaz de dar vida a um morto só para ter o prazer de o calar.

Depois sim, noutra zona da escrita, teremos uma vaga poética capaz de nos submergir em beleza e talvez desarmonia, feita de gente boa, muito boa e genial, trabalhando a matéria poética a partir de todo o tipo de linguagem. Não tenho explicação para isto, mas um povo que criou Sophia de Mello Breyner, Fernando Pessoa ou Alexandre O’Neill não pode ser inteiramente mau, para não dizer mais.

Quem diz poesia, também pode lembrar-se da nossa capacidade para produzir bons documentários de televisão, que não tendo necessariamente a ver com poesia à primeira vista, também o podem ter, à segunda. É o caso da produção de “Vinhos com História” (RTP1), talvez um dos maiores contributos dados nos últimos anos pela televisão do Estado, em prol do chamado serviço público. A série (de cinco episódios) da responsabilidade de Cristina Ferreira Gomes, foi filmada ao longo de três anos e faz a história de cinco alternativos vinhos portugueses, a saber: Colares, vinhos medievais de Ourém e Alcobaça; verdes tintos do Minho, vinhas do Pico e vinhos de Talha. São todas pequenas produções, nem sempre fáceis de beber, mas muito ligadas ao seu território ou seja; são vinhos com história, chegando o tom a ser involuntariamente comovente como só os bons trabalhos o podem ser. Tudo está muito bem filmado, muito natural, sem a capa que muitas vezes afecta estes trabalhos, o de parecerem publicidade encapotada. Agora que uma parte de nós renega o vinho como integrante da nossa cultura, talvez tenha, nesta pedrada no charco da nossa proverbial falta de memória, um bom adversário.

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